quarta-feira, 3 de outubro de 2007

"Lar ...Obscuro e Negro Lar!"


Toda a gente, quer seja bruxo, demónio, cyborg, mago, deus, fada, ou outra criatura, tem a sua respectiva casa, aquele lugar em que nos sentimos mais à vontade. E o Mestre Samiel não era excepção...Como veremos neste texto...




Castelo secreto negro, algures no Vale da Morte, conhecido por ser perto da Fronteira e Cyborg Town, ouvem-se elogios amorosos falsos e palavras carinhosas sussurradas pelas paredes. Num quarto amplamente fechado sem janelas, um homem alto com um metro e noventa e três, rosto oval e olhos penetrantes como as íris de um réptil, de trinta e seis anos acaricia com os seus dedos anormalmente ossudos uma beldade em transe.
Subitamente, ouve-se uma trémula batida nas portas negras de alabastro que parece quebrar aquele silêncio inquietante.
- Entre. – Responde o estranho homem friamente.
As portas abrem-se ao de leve, e entra outro homem, com várias semelhanças ao segundo, contudo, mais bem parecido e mais novo.
Antes de se dirigir, o homem de pé faz uma vénia silenciosa e, juntando as pernas, fica em sentido até novas ordens.
A voz grave e ameaçadora como uma tempestade do homem na cama faz-se ouvir mais uma vez:
- Ah, és tu, Jerininantus! Passou-se algo de urgente? Para me vires incomodar a estas horas...
O tal Jerininantus treme um pouco, no entanto, o seu sangue frio mantém-se, curva-se ainda mais, baixando-se de joelhos e com olhar matreiro.
- Meu senhor, tenho boas novas que decerto vos animarão mais do que a rapariga que tendes agora em vosso poder. – Comenta ironicamente, contendo o riso. – Contudo, não posso dá-las aqui....Não é apropriado...
O senhor do rapaz de vinte anos olha maliciosamente para Jerininantus.
- Ah! – Exclama sarcasticamente. – Entendo.
Mal disse aquelas palavras, o bruxo anulou a conjectura do encantamento, e, num breve estalar de dedos, as portas abriram-se por si próprias, rangendo como fantasmas da noite. A pequena náiade abriu os olhos muito assustada e correu o mais depressa que pode para a saída do quarto, consciente do perigo que corria nas mãos daquele psicopata.
O senhor do castelo olhou uma última vez para ela, encolhendo os ombros, qual lobo confiante da sua vitória.
- Ela não irá longe... – Diz com naturalidade. – Mal saia do castelo, será apanhada pelos outros.
Esse tal homem ainda na cama é Rwebertan Samiel Di Euncätzio, que acabava de terminar a famosa virgindade duma das damas de companhia de Eris, uma bonita sereia.
Já sentado no banco de trás na sua limusina vestido a preceito de preto, com o chapéu bicudo de bruxo a tapar por completo o seu rosto disforme e luvas de pele requintadas assentadas para cobrir o horror das suas garras, virou-se para o motorista, Jerininantus, um seu antigo homem de confiança.
- Fazes ideia se o velho tolo Neptuno e as suas duas princesas estarão no julgamento da sereia? – Perguntou num tom opurtunista.
O motorista sorriu da mesma forma traiçoeira que o seu amo, rindo-se estupidamente da pergunta e fazendo sobressair os seus dentes de coelho fiel e pronto a servir.
- Claro, meu senhor! – Respondeu ele divertido. – Toda a elite de deuses e nobres vão estar lá, só porque vós lhes dissestes em vossa carta ontem à noite que a culpa era da rapariga.
Mais uma vez, o dedo indicador passou carinhosamente pelo pêlo sedoso e suave do gato, fazendo-o ronronar satisfeito.
Contente, soltou uma risada maníaca e comentou em tom irónico:
- Sei! E o mais caricato desta situação é que nem Nossa Divina Majestade desconfiou da minha letra! Eh, eh, eh...
O que eles estavam a falar era, de facto, verdade, pois com os seus inigualáveis talentos de sedução e manipulação, Samiel Di Euncätzio desferira outro golpe: através de abraços enamorados no apartamento da menina de dezassete anos, convencera a sereia a trocar o copo de água de Eris por uma poção altamente tóxica que a faria cuspir aqueles sapos todos dentro de dez minutos, tempo suficiente para Samiel se lembrar das palavras mágicas para se fazer ouvir em todo o auditório. E mais, ainda conseguiu, para além da morte da cantora, 36 feridos e três mortos por causa daqueles animaizinhos terem uma pele igualmente venenosa. Ele sabia que a rapariga escrava, e ainda por cima mulher, não teria direito a fazer ouvir os seus direitos, portanto, não só se safaria daquele crime, como também limparia o bom nome, para assim, subir a posições políticas e aristocráticas no Palácio das Reuniões.

1 comentário:

Arthurius Maximus disse...

Um reino cheio de intrigas e artimanhas políticas. Segredos de alcova explorados por mentes hábeis no jogo do poder.

Esse mundo que você criou é um lugar todo especial e cheio de mistérios. Me sinto lendo "As Brumas de Avalon" toda vez que passo por aqui. Só uma coisa a dizer: Gosto muito.

Um abraço carinhoso e até a próxima.