terça-feira, 28 de agosto de 2012

Tal como a água e o azeite de jade

Citlali e Zollin Cuixtleuctic

Na verdade, faz sentido publicar este pequeno texto, depois de tantos meses sem vermos Citlali...só queria publicar isto mais tarde, mas enfim.  Depois conto o que aconteceu com Citlali.
 
 
Nas noites do Festival das Bandeiras, as margens nortenhas do Rio Bênção pareciam ainda mais geladas do que nunca. O Festival das Bandeiras, criado para celebrar a união entre a Senhora Melnjar (a primeira Imperatriz da Bellanária) e o Imperador, um antigo antepassado dos que viriam a ser os Aztecas, exilado da América central. Losjafhden era um lugar maldito, com uma neve acinzentada e áspera, lamacenta. Fazia com que a música que o velho oni tocava não fosse tão estridente e incómoda para os ouvidos dos dois feiticeiros orientais.

Mesmo assim, ao aportarem nas areias ásperas e geladas, perto da enorme casa Japonesa de madeira, o jovem ficou surpreendido. Há imenso tempo que não vinha ao Norte. A madrasta tinha-o proibido de se aproximar da meia-irmã, que apesar de tudo, era muito doce e amável para com ele.

Era como se o tempo nunca passasse na velha aldeia de Lisaiten. Ali nunca havia bandeiras, e o frio entrava dentro das orelhas pontiagudas do jovem feiticeiro, metade gato, metade humano…

«Que sítio tão triste…parece que até os ciprestes choram com esta horrível maldição, os oni transformaram o Rio sagrado de cor de jade numa cor feia de ocre, cinzenta, com o cheiro da morte…! Porque é que os habitantes de Lisaiten não pedem a ajuda à Senhora Melnjar e à Senhora Swertyhina?»

Que motivos os habitantes da aldeia Japonesa teriam para festejar? Comentara o velho feiticeiro de Magia Universal ao se aproximarem das imediações das ruínas que anteriormente fora a irmã gémea de Cy-bata Teito. De facto, a guerra tinha deixado uma horrível cicatriz na pobre vila de Losjafhden. E embora já se tivessem passado mais de cem anos da morte do Assassino do Amor,  ainda se respirava o cheiro a queimado. A alva há muito que passara, levando com ela as cores douradas e azuis do rio. O nevoeiro escuro, porém, era tão espesso que o Sol não conseguia chegar para além do topo dos centenários pinheiros bravos. A velha aldeia já não era mais do que uma sombra da antiga vila fronteiriça que atraía comerciantes vindos a subir as pesadas correntes Bellantes. Rukorou Ishikawa sabia perfeitamente que ninguém se atreveria a fazê-lo por esta altura do ano.

No entanto, no meio desta manhã com um sabor amargo a cinzas e a enxofre, uma velha senhora apareceu, a pentear o comprido cabelo sem brilho, negro com alguns fios de cabelo prateados, brancos como a Lua. A segurar-se nas confortáveis botas do Norte, ela lançou um olhar curioso para os dois visitantes.

- Onisamatzeka Kazue…! – Clamou o feiticeiro Japonês, ao libertar a âncora para o infinito leito do rio sagrado.

- Ishikawa…! – Resmungou a velha, ao apoiar-se no cajado de madeira. Esboçou um pequeno sorriso, enquanto o jovem olhava para ela com um ar simpático. – Sim, sou a esposa do velho Di Euncätzio Jamelino Beno …que quereis de mim?

Demorou-se um pouco no seu coxear, as cinzas da lanterna de papel a ocultar a fealdade do seu corpo encarquilhado, quase sem vida…Ou pelo menos era como Zollin a imaginava, por detrás da lanterna de papel e do biombo. A velha “Tia Kazue” era uma mulher que apesar de usar umas vestes dignas da mais nobre das mulheres Japonesas da altura, a sua aparência deixava a desejar, pois era demasiado alta para uma mulher e o nariz era um pouco como o de uma coruja sábia. As sobrancelhas há muito que lhe tinham sido arrancadas. A sua dieta de órgãos de crianças há muito que lhe fora negada. Sobrevivera aqueles últimos cem anos com os cadáveres de soldados humanos Bellantes, como uma velha hiena.

 

«Não te deixes iludir pela velha…no seu auge costumava ser uma assassina de humanos experiente!»

A velha não parecia ser assim tão má. Fez uma longa vénia, enquanto duas jovens e assustadiças açafatas de sangue humano seguravam num biombo que a separava dos dois feiticeiros. Apesar de andar com um cajado, havia algo de errado com o seu pescoço que denotava uma figura entroncada. Zollin era um quarto demónio e sabia o quanto as aparências iludiam.

A iniciação como feiticeiro mostrara-lhe que tinha de desconfiar do olho “humano” e confiar no olho “mágico”, aquele que segundo  Ishikawa, estava localizado na região entre as sobrancelhas. Durante os dias em que caminhavam como aprendiz e mestre, Ishikawa aparentava ser um velhote Japonês completamente normal. Mas a verdade é que continuava a ser um omyouji dotado e um incontestável estrategista!

Lançou um olhar curioso à velha nobre aparentemente inofensiva. Depois, mostrou a uma das criadas a adaga com uma lâmina afiada de obsidiana. Perto do punho feito da mais preciosa das madeiras, estava carvada na mistura de aço com obsidiana, a imagem terrífica de Enoque Di Euncätzio, a ajoelhar-se perante o jaguar Bellante.

Curvando-se perante a senhora viúva dos Demónios, Cuixtleuctic Zollin pousou a lâmina como símbolo de respeito não só perante a lei da Magia Negra, como também perante a Lei dos Humanos, das Fadas, e dos Deuses. Nesse momento, os seus olhos amarelos, cor de âmbar resplandecente, brilharam num tom arrepiante.

- Senhora Viúva Onisamatzeka…permiti que me apresente diante de vós: tende aqui, perto do Rio Bênção, Cuixtleuctic Zollin, um omyouji de segunda classe, servo da Guarda Imperial da Casa Di Neptunus. Tal como o seu falecido marido, tenho sangue de youjin. Porém, a tribo à qual pertenciam os meus antepassados, infelizmente há muito que foi chacinada não só pelos Humanos, mas também pelas conspirações do Mestre Di Euncätzio Samiel. Sei que odiastes esse homem que não pertençia nem a nação, tribo, raça ou classe. Sou apenas um instrumento dos Humanos. No entanto, vim aqui como diplomata em nome deles, e só espero que o seu cunhado, o milenar Mestre Saburou, nos aceite como hóspedes. – Declarou o jovem feiticeiro, com uma língua que deixou o velho samurai orgulhoso, embora o ocultasse por detrás da sua aparência sobranceira e austera de representante de Suryadevnahutbal.

Subitamente, uma voz ecoou no meio do nevoeiro cinzento:

- Tens uma língua afiada para quem convive com Humanos, rapaz cy-bata. Infelizmente, não creio que o teu mestre seja o mesmo Ishikawa quem eu conheci, há mais de mil anos atrás.

Numa das varandas da enorme e luxuosa, os olhos negros e penetrantes de Saburou brilharam com um ar trocista, quase céptico. De facto, o jovem filho da “mulher jaguar” tinha vindo como diplomata para conversar com os oni, sendo um quarto demónio. Infelizmente, por muito treino que o jovem com olhos de íris afiada tivesse, nada o teria preparado para se encontrar com um dos sobreviventes da milenar Guerra de Poriavostin. Envolto numa peliça de jaguar negro, o traiçoeiro Saburou Di Euncätzio envergava umas botas pretas de couro de serpente. A cobrir os cornos compridos de prata, um chapéu de veludo da cor do vinho ornava a cabeça comprida. O rosto estava de tal forma imerso na penumbra do nevoeiro que seria impossível um falcão ver a verdadeira forma do oni  de corpo elegante e atlético.

 «É ele que cria este nevoeiro à volta de Lisaiten…?»  Zollin controlou-se, com um franzir de sobrolho.

Subitamente, um maracujá oco abriu-se em cima da cabeça do jovem, uma coisa que o jovem nunca esperava que acontecesse.

 No entanto, Ishikawa sabia o que é que aquilo queria dizer! Nunca se sabia quando Saburou Di Euncätzio podia assassinar alguém…Fosse com um ataque surpresa de adagas, lacaios demoníaco, um gás letal solto de uma garrafa vazia, ou simplesmente com uma força da sua própria magia! De imediato empurrou o jovem aprendiz para outro lado, criando uma barreira com um murmurar rápido de palavras em Sânscrito em volta de si.

Para grande surpresa do samurai, o fruto vazio revelou apenas um banho de chocolate adocicado com baunilha.

As mãos enluvadas e prateadas do velho bruxo demoníaco pousaram num gesto um pouco aborrecido, enquanto os dois olhos negros reviravam num gesto de desprezo.

- Oh que pena, parece que é mesmo o maldito Ishikawa…! Só mesmo o idiota com um sentido de bonzinho como tu podia estragar o baptizo de partida de Magia Negra ao miúdo! – Comentou Saburou num tom de desdém. – Os Deuses devem ter-te dado o néctar da eternidade para me chateares até morrermos de tédio.

Ao acabar de pronunciar estas palavras, uma criada humana hipnotizada tocou um gongo, como se quisesse que alguma audiência invisível se risse.

Ishikawa retribuiu com o mesmo revirar de olhos. No entanto, sorriu com um ar cortês, sem nunca perder a compostura.

- E só mesmo um lunático como vós, Saburou Di Euncätzio, iria achar piada em brincar com a vida de pessoas inocentes!

A voz de Kazue ouviu-se, oculta através dos biombos:

- Como pode ser tão rude ao ponto de insinuar que eu e o meu irmão queríamos matar um rapaz que tem o mesmo sangue que nós?!

O velho guerreiro não teve outro remédio senão inclinar respeitosamente a cabeça. Que vergonha, tinha-se deixado levar pelo ódio que sentia…! Isso tornava-o igual a eles, àqueles demónios…Não, não podia pensar daquela maneira, pois a sua querida Airina era ela própria uma yaojin, mas da tribo dos Gemmyarkan. Tinha sido um amor proibido. Por causa daqueles Di Euncätzio, ele nunca fora capaz de lhe pedir a mão em casameno, e dar-lhe uma vida muito mais abençoada do que o de uma mulher demoníaca.

Soltou um longo suspiro.

- Peço imensas desculpas, não queria de maneira nenhuma ofender o vosso cunhado, muito menos a vós.

O perfume que saía do biombo era tão sedutor e suave que Zollin mal podia acreditar que aquela era uma mulher com mais de mil anos! A sombra do leque que a senhora trazia consigo abanou umas quantas vezes, satisfeita. O nevoeiro ainda não tinha-se desvanecido. Porém, a relva parecia menos gelada e lamacenta do que quando tinham chegado ao local.

Era como se fosse tão suave como uma nuvem. Tão sedoso quanto os biombos dourados, pintados de forma delicada, que ocultavam o verdadeiro rosto da senhora.

Ainda de joelhos, ele inclinou a cabeça num acto de pura submissão:

- Muito obrigada pela sua confiança e perdão, minha senhora, viúva do Barão Onisamatzeka.

Lentamente, a senhora pediu à rapariga que estava em cima da varanda para vir imediatamente. A seguir, esta fez sinal aos dois feiticeiros que esperassem uns momentos. Entre pequenos segredinhos em Bellante Arcaico, tanto a senhora como a rapariga faziam um murmurinho, incapaz de se ouvir claramente pelos ouvidos treinados, tanto do Mestre Ishikawa, quanto de Zollin.

Após uns breves minutos (que para Rukorou Ishikawa pareceram uma eternidade),  o rosto branco e suave de Kazue assomou por detrás do biombo. Os dois olhos azuis (da mesma cor que a segunda camada do grande e complexo quimono que ela usava, uma uwagi escura) espreitavam por detrás do leque branco. Ao virar o leque para outro lado, os olhos gelados contrastavam com a cor doce, apaixonante, húmida de dois lábios pequenos e sensuais, mordidos por dois dentes caninos e afiados, mais brancos que o rosto de mármore de esfinge arraçada de mulher nortenha Bellante. Apesar de tudo, os dentes ficavam-lhe bem, como dando um ar de deusa poderosa. De facto, Zollin pareceu ver diante de si a personificação de Nossa Senhora, a Imperatriz Melnjar.

Os olhos semicerrados eram uma característica das mulheres e homens do Norte. Mas, enquanto os olhos de Saburou Di Euncätzio pareciam ameaçadores, os da cunhada eram deliciosas melodias pintadas numa cor de lápis-lazúli.

De facto, nada no rosto da bela Kazue tinha envelhecido. Era como se ainda tivesse trinta e seis anos de idade. As orelhas – ocultas pelos longos fios de arminho que se estendiam até à neve – eram esculpturas de algodão-doce com pequenas pontas no topo, denotando o facto que ela era uma vampira Bellante do Vale Enublado.  Era uma Teyolloquani, uma bruxa Bellante.

Embora as mulheres que a ajudassem fossem muito bonitas, nenhuma se comparava com a beleza de Kazue. Zollin teve se concentrar. Não podia deixar-se enfeitiçar pelos olhos azuis de uma mulher com mais de mil anos.

Zollin estava completamente boquiaberto.

No entanto,  Rukorou Ishikawa era tão poderoso quanto Saburou Di Euncätzio. Franziu as sobrancelhas, desconfiado.

- Andais a pagar a renda à vossa cunhada com o quê, Saburou Di Euncätzio…? – Perguntou num tom neutro e frio o feiticeiro Branco.

- Tenho a ligeira impressão que não é isso que queres falar, meu caro Ishikawa…Afinal de contas, o grande comandante das Forças Especiais da Guarda Imperial Bellante jamais se exporia ao perigo no lugar mais amaldiçoado de toda a Bellanária. – A voz cínica e trocista de Saburou pigarriou ironicamente.

O jovem feiticeiro tirou do manto de guarda imperial uma taça com um pouco de Frambinam e chocolate quente. Com uma delicadeza digna de um príncipe, ele entregou a taça de barro. Porém, os seus olhos cor de âmbar brilhavam com um ar autoritário em direcção à mulher demoníaca, que abriu o leque de uma forma gelada e indignada.

- Ouvimos dizer que a tribo à qual pertence a Senhora Onisamatzeka Kazue era dotados em esculpir no vidro e no barro. – Comentou o jovem omyouji, com um pequeno sorriso. – É claro que as suspeitas não podem recair de todo sobre a viúva do respeitado Barão…

- Mas isso não significa que não queiramos saber onde é que está o filho do vosso cunhado, minha senhora.  – Acrescentou o Rei dos Feiticeiros Brancos, num tom muito sério. – Alguém da tribo dos Oni, da família Di Euncätzio, envenenou a Senhora Sacerdotisa de Melxocolatlbilar e tentou raptar o filho dela.

De repente, o vento começou a uivar, como se fosse um animal selvagem. Era tão cortante que o jovem podia jurar que era o olhar de Kazue que estava a controlá-lo!  Porém, ela não estava a olhar para eles.

A voz de um jovem criado humano acenou em direcção aos umbrais da casa infernal:

- Deveis estar a morrer de frio…O meu mestre, o Senhor Saburou pediu para vos informar que uma vez que sois mensageiros do Imperador, então sereis tratado como tal. Por favor, façai o favor de me seguir.

De facto, estava muito frio…No ermo daquele nevoeiro, tudo parecia triste, sombrio e abandonado. Era como se o Sol tivesse desaparecido.

«Acha que é boa ideia entrar naquele ninho de víboras? E só de pensar que foi ele que fez com que a pobre daquela rapariga sofresse…!»

«Enquanto eles estão distraídos comigo, põe uns selos à volta da casa.»

Zollin franziu as sobrancelhas, um pouco  surpreendido com a atitude do mestre.

«Quer que eu vá dar uma volta ao bilhar grande?»

Os dois olhos rasgados do samurai desonrado lançaram um olhar severo, mas compreensível em direcção ao rapaz.

«Sabes perfeitamente que não era isso que eu queria dizer, Zollin.  Precisamos de descobrir porque é que o filho do Hayato Di Euncätzio quis raptar a tua irmã, e ainda mais importante porque é que eles não queriam que a Senhora Claudinitiana tivesse um filho!»

O jovem cy-bata soltou um grande suspiro. Sabia que ainda era demasiado cedo para invocar um dos seus shikigami contra os demónios. Seria também uma perda de tempo: o velho Saburou Di Euncätzio parecia ser o tipo de oni que sabia os segredos da Magia Universal. E depois, quando os olhos azuis do mestre brilhavam daquela maneira, nem mesmo o Alto-Comandante Enok se atrevia a desafiá-lo. Enoque era sobrinho dos Di Euncätzio, mas só metade, uma vez que a mãe era produto de uma relação diferente do velho Yee. Tinha-se purificado ao entrar ao serviço do Imperador. Agora já não pintava o seu apelido com os caracteres Chineses, ou seja, mudara de nome. O próprio Ishikawa era chamado de “Rafael” quando estava em Suryadevnahutbal, e Zollin esforçava-se imenso para pronunciar o seu nome nos dialectos do Sul. Obedecer aos Deuses não era um trabalho fácil. Ao menos Zollin viera de livre vontade, e não fora forçado como a sua meia-irmã. Durante aqueles anos que passara em Petrybloom, ele aprendera a controlar as suas emoções.

O Mestre Ishikawa sabia que poder contar com ele. Respirando bem fundo, o jovem resignou-se e começou a espalhar um pó cor de lavanda à volta das grades esculpidas em madeira de mogno escuro que rodeavam a vivenda dos Onisamatzeka. Embora o Sol continuasse coberto pelas nuvens cinzentas de Inverno, respirava-se um ar fresco. Era a magia de Zollin. Ele conseguia fazer com que as árvores devolvessem a Losjafhden o esplendor dos pinheiros, ciprestes. Infelizmente, ele não conseguia devolver o verde às outras árvores. Muito menos o ar branco e limpo das estradas de pedra, construídas há décadas pelos Bellantes do nordeste. Alguma coisas ainda continuavam um pouco sombrias. Não havia nada a fazer pelos espíritos que outrora viviam naquelas águas calmas do Bênção.

Juntando calmamente as mãos, ele começou a pronunciar as fórmulas sagradas para formar uma barreira sagrada à volta dos umbrais da vivenda Lermmhiar. Enquanto o fazia, ele reparou que o mestre esboçava um pequeno sorriso. Estava dentro dos jardins, a acenar-lhe com uma mão. Ele sabia que estava a amarrar um nó no pescoço do próprio mestre…E se ele não sobrevivesse àquela missão…? Podiam acusá-lo de traição! No entanto, Zollin confiava no poder e sabedoria do velho feiticeiro…Confiava igualmente nas leis dos Demónios e da Magia Negra, que dizia que um bruxo jamais poderia matar os seus hóspedes! Além disso, aquela era a senhora que a meia-irmã ia tantas vezes visitar. Se Citlali confiava nela, então porque não poderia ele dar o coração a uma senhora tão encantadora...?

Com um pincel e uma caixa de bambu que trazia, sempre cheio de tinta, ele começou a escrever a pronúncia Chinesa do feitiço em vários papéis. A seguir, escolheu vários pontos estratégicos sobre os quais tinha espalhado o pó. Fez pontaria com o arco e as flechas que trazia juntamente com os seus shikigami e as várias poções, e atirou, flecha a flecha, os vários papéis. Tudo isto de forma a que a barreira fosse segurada por pontos. Tal e qual uma estrela de doze ângulos. Isso faria com que a barreira fosse mais eficaz num espaço de cerca de cento e oitenta e cinco metros quadrados. Seria precisa muita sorte para que algum demónio conseguisse entrar ou sair daquela barreira. Ou isso, ou que (ao pensar em tal hipótese, Zollin bateu contra a madeira oca de uma árvore de gingko três vezes) Hayato, Osamu e Yamellino voltassem do mundo dos mortos e decidissem ajudar a sua pobre família. Manteve-se sentado de pernas cruzados a murmurar constantemento o salmo mágico do feitiço, durante mais meia-hora, até que o brilho cor de lavanda das labaredas que rodeavam a vivenda maldita fosse suficientemente forte.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Que o Sol nunca acorde...

Daqui tifongirl...estava no deviantart como de costume quando reparei numa questão muito engraçada que as pessoas fazem quando são escritoras e querem apresentar os seus personagens:

"When and with whom was your first kiss?"  Quando e com quem é que foi o teu primeiro beijo? Nunca tinha pensado nisso em relação a uma certa personagem que eu tenho. Primeiro porque ele era demasiado velho para que eu conseguisse adivinhar, e depois porque o exercício de contar na primeira pessoa seria demasiado embaraçoso para o homem em questão. 

Porém, assim, hoje, o vento da inspiração bateu-me à porta e já não estava com problemas para descrever a cena. Posso muito bem imaginar como é que seria... Tenho andado mesmo interessada pela cultura oriental!

Culpa dele... ah, ah! 


O nome completo – Adrian Demetrius – era a mistura de nomes de vários santos, de acordo com a lei alemã, e não com a Bellante. “Demetrius” era a forma latinizada de “Deméter”, a deusa mãe da terra na Mitologia Grega. Enquanto Adrian era a forma Germânica de Hadrian “da Cidade Italiana de Hadra”. Não era exactamente o nome perfeito para um guerreiro que a Senhora Murakami queria, mas era o nome legal que os Alemães queriam. Em breve (dadas as circunstâncias em que as mulheres Alemãs da nobreza queriam tirar-lhe o filho para educa-lo segundo os princípios prostestantes cristãos) ela viu-se forçada a levar o pequeno para o Império do Sol-Nascente. Quando o jovem “Adrian-chan[1]” tinha oito anos, a mãe teve outro filho – Karl Adolf e ficou assim com um marido embaraçado por ter de explicar à sociedade alemã porque é que uma mulher de cinquenta e cinco anos continuava a ter uma barriga tão fértil. Foi por causa disso (e muito mais) que a mulher arranjou uma maneira de abandonar o jovem Kali-chan de um ano na Baviera, no meio do caminho. Adrian-chan ficara muito contente, por continuar a ser o filho preferido da “Mamã”, e por abandonar aquela terra horrorosa onde as mulheres o chamavam de mal-educado por ele pregar partidas – e que algumas até o ameaçavam de lhe bater. Passaram-se sete anos, e a “Mamã” tinha outro filho. O jovem Adrian ficou muito aborrecido por ter de compartilhar o “Casarão da Mamã” com um bebé chorão – que ainda para piorar não tinha um nome Japonês. Foi nessa altura que Adrian von Tifon queria ser tratado pelos “amigos” e pelos inimigos por Murakami e não pelo seu nome europeu. Sabia manejar a espada muito bem, e precisou menos que semanas para se destacar na Era Tokugawa como um samurai experiente. A honrada família Murakami ocultava bem a sua “raça demoníaca”, e a Senhora Yui era cuidadosa o suficiente para ensinar aos dois filhos os ensinamentos de como se comportar civilizadamente na sociedade Japonesa, seguidos por uma filhinha que nasceu em 1810.

O “Senhor Christophe”, o esposo, gostava muito mais do Japão do que a Alemanha. Ali era o patriarca e não tardou a ganhar um pouco de confiança para tentar ser um pouco mais bélico com os filhos. O jovem Martin sorria placidamente e desculpava-se pois ele estava muito ocupado nas suas lições de como ser um ninja e a forjar armas como devia ser. Adrian não era assim tão educado. Não falava uma única palavra em Alemão com o pai e forçava-o a falar em Japonês, coisa que Christoph bem que tentava dedicar-se mas era tão difícil que o filho, de uma maneira ou de outra, acabava por fazer troça do ar desolado do pai.

A Senhora Yui, uma mulher paciente e com uma natureza bondosa, ensinava o marido a pronunciar correctamente as palavras, a comportar-se para que as pessoas não pensassem que ele era “um parolo preguiçoso e idiota”, como as três irmãs da Senhora Yui o chamavam. Os maridos delas eram fortes e severos, com um porte espantoso.

O filho mais velho poucas vezes almoçava ou estava em casa, o jovem Martin Wolfgang quase que não aparecia em casa senão para comer e para dizer “bom dia” ou “boa noite”. Sobrava muito tempo à Senhora Yui para ensinar ela própria o marido – a não ser nas alturas em que tinha de tomar conta da pequena Jasmin. Sentia-se feliz pela filha e pelo marido serem assim tão simpáticos e generosos para com ela. Era uma recompensa vinda dos Deuses por trabalhar tanto na lida da casa, nos assuntos da família de samurais, e por ter de aturar os três insuportáveis cunhados.

Nessa altura, a família Murakami era pobre, uma vez que todas as irmãs e o Hyasuko Murakami tinham gastado todo o dinheiro a preparar o casamento com a irmã Yui. “Arata” vivia num bairro muito perto do bairro de prostituição de Shimabara, em Quioto. A casa abrigava a família principal Murakami: Hyasuko, com as suas duas mulheres, Shizuka e o seu marido, Musashi Makoto, Suzuki e o seu marido, e Yui com Christoph e os seus três filhos: Arata, Martin, e Jasmim. Em 1800, Arata teria os seus dezasseis anos. Era um jovem que fora obrigado pelas tias a rapar o cabelo cor de trigo queimado na frente aos treze para fazer um rabo-de-cavalo a trás. As tias queriam que ele se tornasse num grande samurai, um guerreiro que servisse os senhores feudais.

Todos os dias, ao voltar para a casa, Adrian Demetrius (mais conhecido por Arata Murakami, ou simplesmente Murakami-kun na escola de espadachins) tinha de ir comprar um quilo de arroz e de sakê e carregá-lo com apenas as sandálias de palha (era demasiado pobre para comprar as confortáveis choris de madeira com umas meias de seda). O dinheiro arranjava-lhe o tio com os seus talentos de músico e de guarda-costas de mafiosos que governavam as “casas-de-chá” de Shimabara. O quimono azul-escuro com o tigre prateado rendado nas costas era uma relíquia da família, dos tempos aúreos de Kensaku Murakami, o avô do lado da família da mãe. As espadas tivera-lhes oferecido Hyasuko. O conjunto era um pouco patético, mas sóbrio. Quando o tio lhe pousou a wakizashi e a katana na cintura, Arata ficou impressionado como eram pesadas.  Era mais uma forma de fazer com que os braços se habituassem ao peso de espadas.  

Quando Arata passava por Shimabara, as gueishas suspiravam, ao verem um rapaz com um rosto semelhante ao de uma raposa, os olhos da cor da chuva, melancólicos, mas magnéticos. Toda a gente na escola de kenjutsu conhecia a beleza exótica de Arata Murakami. Os olhos azuis captivavam qualquer um, e apesar das suas origens duvidosas (toda a gente perguntava ao jovem Murakami-kun aonde ele vivia e quando este dizia que ficava perto de Shimabara, todos arregalavam os olhos). Arata parecia ser o típico rapaz aristocrático, de fala eloquente, com um pequeno sorriso suave e sedutor, voz cristalina e pura. Desde os cinco anos que Arata gostava de tocar piano, mas como a família era muito pobre, o mestre de kenjutsu – por coincidência, era um antigo daimyo – decidiu oferecer a sua casa para este não perder a prática. Admirava a forma como o jovem Arata escrevia, falava e o seu óbvio talento não só com a espada, mas também com a arte de lançar adagas a alvos incrivelmente distantes! Uma vez, este dissera à mãe, que veio visitar a escola:

«O seu filho é um prodígio, Murakami-dōno...! Nunca vi um rapaz de origens tão humildes a manejar uma espada e a comportar-se como um verdadeiro samurai! Também tem um dom espantoso para a música e para a poesia…»

A Senhora Murakami corava um pouco embaraçada, como que para fingir o orgulho que sentia em ter um rapaz que atraía a atenção de tudo e de todos. Apesar de tudo, ela também recebia uma pequena crítica do velho daimyo. O filho adorava piscar o olho à filha mais nova do senhor feudal. Esta corava que nem um tomate quando lhe servia o chá, nos momentos em que este chegava para tocar piano. Aqueles olhos azuis e hipnóticos simplesmente punham-na nervosa.

Num dia normal como tantos outros, quando as flores de cerejeira estavam no seu auge, no jardim esplendoroso do mestre do rapaz, a filha do daimyo decidiu pedir ao jovem para que este tomasse chá com ela.

O rapaz aceitou prontamente, mas quando ia dizer os bons-dias, reparou que a sua voz já não era tão aguda e encantadora. Saiu um vozeirão de homem pela boca, o que deixou a pequena Hanako-san vermelha que nem uma cereja.

«Está a mudar de voz, Murakami-kun?» Perguntou num fiozinho de voz, depois de cumpridos os formais e habituais salamaleques.

«É uma voz arrepiante, não acha? Já nem consigo ir comprar o arroz e o sakê, porque as empregadas ficam todas nervosas.» Respondeu Arata, sombriamente, ainda com os olhos fixos no chão. Não queria parecer mal-educado diante da filha do daimyo. «Depois é a altura, não reparou que estou mais alto uns quarenta centímetros?»

«Sim, mas isso não quer dizer que não caiba na porta!» Hanako riu-se um pouco, encantada com o facto da voz de Arata “Murakami” ainda não ter mudado completamente. Era verdade que durante aqueles dois anos, o nariz dele triplicara de tamanho aos quinze, o queixo estava a ficar grande demais, e quando sorria, era como se os dentes caninos fossem maiores que os outros, mas ele continuava a ser um rapaz muitíssimo educado e bom a ouvir os problemas dela, uma jovem condenada a casar mais cedo ou mais tarde com um homem muito mais velho que ela.

Ao ver que o jovem e formoso Arata tinha desaparecido para dar lugar a um jovem envergonhado do seu próprio aspecto, Hanako indicou, com a mão livre, as flores de cerejeira.

«Murakami-kun, as coisas não podem ficar bonitas para sempre…além disso, ainda tem a espada, a caligrafia, a poesia, o piano…»  

De repente, a mão do jovem pousou discretamente na mão da jovem filha do daimyo, que apesar de ser dois anos mais velha que ele, parecia ser tão bela e inocente.

«Sim, creio que ainda há coisas que nunca mudam…!» Suspirou, como se estivesse fascinado pela cor dos lábios da jovem Hanako combinavam com as pétalas de flor de cerejeira.

«Tenha calma…!» Gaguejou a jovem, num tom ainda paciente. «Acho que é melhor o senhor falar senão ainda perco a face.»

Arata riu-se, desta vez na voz ainda de jovem rapaz. Mas foi uma risada amarga. Ao contar que fora sempre diferente dos outros rapazes, quer estivesse na Alemanha, ou no Japão, a jovem Hanako começou a ficar cada vez mais curiosa. Mas uma coisa que ele gostava muito era de apreciar os jardins do “sensei”

«Recordam-me da minha terra, lá na Alemanha…as árvores são maiores que as casas, e devia ver os lagos…Adorava molhar os pés no Verão.  Mas isto de mudar-me para o Japão é tudo culpa das minhas tias. Elas são umas víboras, especialmente a Tia Shizuka, aquela mulher que anda sempre com um cachimbo de tabaco. Apesar de não me baterem, eu tenho a certeza que têm inveja de mim e da minha mãe. Lá na Alemanha, não tinha amigos, tal como aqui. Porém, não havía criminalidade. Podia andar de um lado para o outro, tocar piano livremente, respirar e espirrar o ar puro. As minhas tias dizem-me que eu devia comportar-me mais como um Japonês, mas não posso esquecer-me da minha tília, da Mãe, e do meu Pai. Pobre pateta, ele não percebe uma palavra, e mesmo assim quer ser um rounin. Se quer que lhe diga, acho que a minha Mãe casou com ele por pena. Eu tento esforçar-me, e sei que um dia, vou ser um grande homem, tal como o meu avô Kensaku.»

Passou a tarde inteira a falar de como se sentia que queria ser um rapaz normal como todos os outros, mas como não era nem carne nem peixe (nem Alemão, nem Japonês) era sempre frio e distante para com os jovens da mesma idade. As pessoas mais velhas gostavam dele por ser obediente e leal ao trabalho, os mais novos invejavam-no. Entretanto, os seus olhos brincavam um pouco com a visão do longo cabelo de Hanako com a cabeleira presa com um pente de âmbar. Os olhos dela baixavam, ou olhavam para as flores, enquanto ambos caminhavam sobre a sombra das árvores do pai da jovem.

Curioso como era, ele esboçou um pequeno sorriso.

«Tem um cabelo tão bonito…porque é que não desprende o cabelo?»

Hanako riu-se, muito envergonhada.

«Ah, não, não me peça uma coisa dessas, Murakami-kun! Demorou-me uma hora a penteá-lo! Além disso, a minha Mãe iria ficar uma fera se me visse com o cabelo despenteado!»

Arata repentinamente começou a aproximar-se dela, com aquele sorriso brincalhão, como se ainda fosse uma criança.

«Vá lá, Hanako-san, deixe-me ver o seu lindo cabelo a cair-lhe pelos ombros…Tenho a certeza que deve ficar tão bonito como uma cascata!»

«É incorrigível, Murakami-kun!» A jovem soltou um pequeno suspiro, enquanto tirava cuidadosamente os ganchos do cabelo. Não conseguia resistir àquele sorriso e aqueles olhos azuis, brilhantes como duas safiras.

Quando finalmente ela tirou tudo que lhe prendia o cabelo, o jovem aprendiz não hesitou em tocar no cabelo dela.

«É a cascata mais bonita que eu já vi em toda a minha vida…» Disse, num tom como se estivesse enfeitiçado.

Embaraçada, ela começou a ficar boquiaberta, ao ver que o coração palpitava cada vez mais depressa. Aproveitou o facto de que estava a ficar tarde para voltarem para a vivenda do pai. Com o cabelo a esconder metade da face, ela parecia mais deslumbrante, mais encantadora. Arata inspirou profundamente o perfume doce que vinha dela. Que pena que não fosse ainda suficientemente conhecido para pedir a mão dela em casamento!

A Lua já aparecia no horizonte, a modos que as únicas coisas que iluminava o rosto de Arata eram os candeeiros que ficavam perto da entrada do jardim com a casa. Com metade do rosto oculto na penumbra, Adrian Demetrius Von Tifon sentiu duas coisas afiadas no meio das pernas, e não eram as suas espadas.

Antes que ela pudesse escapar para o quarto e despedir-se, ele aproveitou o facto de que ainda estava no jardim para encostar ao de leve a mão no queixo dela. Nem foi preciso usar o seu olhar paralisante. Hanako estava demasiado envergonhada para dizer fosse o que fosse.

Os lábios dele foram suficientemente rápidos para lhe darem um beijo intenso e molhado.

«Não consigo resistir aos teus lábios, Hanako-chan!» Sussurrou Arata, desta vez naquela voz um pouco mais grave, o que provocou um calafrio no corpo da jovem. Era como se alguém invísivel lhe tivesse roubado o seu primeiro beijo. 

«Por favor…!» Murmurou a jovem, espantada e de olhos arregalados. «É melhor ir-se embora, Murakami-kun

O jovem ajoelhou-se, um pouco conformado. Afinal de contas, senão desaparecesse dali imediatamente, o nome da família podia ficar ainda mais arruinado do que já estava. Ainda bem que as pessoas de Quioto já se tinham esquecido de Kensaku Murakami.

«Como queira, minha princesa, peço imensas desculpas se a incomodei.»

«Não faça pouco da minha cara!» Respondeu Hanako, indignada com o comportamento um pouco infantil do jovem aprendiz.

«Mas eu estou a pedir-lhe desculpas como deve ser: para mim, a menina é como se fosse uma princesa!» Disse Arata, num tom verdadeiramente cortês. «Bom, faz-se tarde, e eu ainda tenho de memorizar os poemas do Mestre Samiel em casa. Muito boa noite, Hanako-san

«Que poemas?» Hanako, que não era uma rapariga de ficar rancorosa, lançou um olhar surpreendido para o jovem aprendiz de samurai.

«Se Vossa Senhoria me permitir, eu posso traduzi-los para Japonês e mostro-lhos quando quiser.»

Quando os pais de Hanako chegaram da sua visita anual às cerejeiras, a jovem estava com o cabelo surpreendentemente aprumado. Não havia um único sinal de que alguém tinha tocado no cabelo dela. 

Foi assim que Adrian Demetrius Von Tifon conseguiu arranjar contactos entre as futuras altas esferas do governo Japonês. Todas as semanas, ia a casa do daimyo para tocar piano, melhorar as suas habilidades com a espada, e especialmente, recitar os poemas e histórias da Bellanária. O daimyo era primo distante do clã dos Matsudaira, que detinha várias terras no Japão.

No seu décimo terceiro aniversário, a Senhora Yui tinha-lhe dado uma caixa de prata com uma pequena chave. Nessa caixa, o jovem colocara uma mecha de cabelo de Hanako, e do seu belo incenso que mais se assemelhava a uma bela tarde de Verão. Tal como na história do Caçador de Almas, ele prometeu ser um grande feiticeiro, ou pelo menos um guerreiro poderoso e influente. Se isso não fosse possível no Japão, talvez pudesse vir a ocupar o tão desejado lugar que detinha o pai como Duque na Bellanária.



[1] Diminutivo ou honorífico que se usa em Japonês quando se fala com pessoas mais novas ou com crianças. Também é usado com as pré-adolescentes e entre as raparigas novas. No entanto, também se usa com rapazes pequenos.