quarta-feira, 30 de abril de 2008

A Lua dos Meus Sonhos…


Uma conspiração ainda mais terrível do que a própria segunda grande guerra mundial abate-se na pacata ilha do Atlântico mais próspera de 1932, quando um estranho assassinato ocorre no dia de S. João, durante um baile, em Cyborg Town.

Em breve, os peritos e uma organização com a causa no pacifismo e no conceito da paz duradoura, a Resistência, contacta um português, um feiticeiro melindroso que acaba por guardar com a vida a Princesa Swerdinada De Fogo, avatar da princesa viúva do Assassino do Amor.

Mas, como Manuel Irmãozinho irá descobrir, nesta batalha secreta, as Forças do Mal unem forças para desvendar a tempo um mistério ainda maior que a própria vida, fechado numa gema preciosa, cuja chave para tal tesouro é uma ninfa dos bosques desaparecida e esquiva, que, com a sua magia, revelará o lado mais obscuro da magia.

Um conto enigmático de amor, crime, e fantasia, onde descemos, desde às mais alegres e humildes ruas atlantes, até aos palácios dos senhores da magia negra, ambos repletos de realismo e naturalidade quase inimaginável…

Só visto no Grito da Verdade, brevemente…!

sábado, 26 de abril de 2008

Prisioneira ou hóspede?...



Eleonora acordou sobressaltada, abrindo violentamente os olhos, a suar tremendamente da testa morena, como se tivesse acabado de acordado de um sonho mau.
Ao olhar à sua volta, viu um amplo quarto, com um tecto piramidal, onde fadas brincavam alegremente nas pinturas de pequenas nuvens celestes em curvas e espirais. Toda a suite era pintada num azul inócuo e luxuoso, onde o rodapé e os cantos tinham sido banhados dum dourado fino e elegante. No espaçoso quarto verde de jade, à direita havia um toucador de madeira de cipreste, uma cadeirinha confortável de veludo vermelha-escura, e, por fim, uma lâmpada de incenso para iluminar a sala. Na antecâmara, havia uma banheira feita de um produto bem macio e branco, com linhas prateadas à volta, com pés de leão, e ao pé da berma do quarto de banho com nove metros de largura sem janelas, havia um gel de banho de pêssego perlado – a substância preferida de Eleonora – e uma toalha cor-de-rosa, com um E em turquesas bordado no canto direito. Ao lado direito, brilhava o Sol em duas longas janelas em forma de triângulo abriam-se para a linda paisagem das montanhas verdejantes ao longe, de manhã. Aquele lugar era simplesmente maravilhoso... Mas...Aquele não era o seu quarto de dormir! Onde raio é que estaria...? Sabia que aquilo tudo era demasiado bom para ser verdade, e perguntou a si mesma se não seria um produto das ilusões criadas por aquele demónio.
Parecia igual a um sonho que tivera anos antes…Com um estranho nevoeiro espesso a rodear o chão branco de mármore, aquele mesmo quarto, a dormir com um perfeito estranho. Subitamente, apercebia-se que não era um homem, mas sim uma serpente que a enrolava nos seus anéis com muita força na cama. A seguir, a serpente transformava-se num bruxo, de olhos verdes aterrorizadores!
No entanto, ali estava ela, com uma bonita camisa de dormir esvoaçante branca, que dava a ilusão de ter cauda. Só se apercebeu que alguém lhe tinha tirado o soutien quando tocou no peito redondinho e roliço com as mãos atadas uma à outra com correntes a deitar chamas azuis-claras. Corou de vergonha.
Fosse quem fosse o senhor ou senhora daquele paço, não a gostaria de a ver, vestida naqueles modos.
Automaticamente, com a ajuda de algumas ninfas e escravas que moravam no castelo, tomou um relaxante e rápido banho pensando em mil bolhas de sabão que escorregavam pelo corpo esguio e esteticamente perfeito, uma ondina secou com grande beleza o longo cabelo encaracolado, e ao ver que elas se retiravam com vénias solenes, sorriu, feliz. Tinha de agradecer a enorme hospitalidade à pessoa que governava naquele castelo. Contudo, não percebia porque é que não lhe tinham tirado as correntes. Estariam com medo que ela ficasse assustada? Porque é que lhe tinham amarrado?...
Com as brisas fracas e gélidas das sílfides, penteou numa elegante trança grande que lhe caía até ao peito descoberto e belo, jovem. Procurou pelo armário de mogno castanho e descobriu um lindo vestido azul com linhas douradas, com um grande decote que chegava ao centro do peito e terminava numas formosas e refinadas linhas dos pezinhos delicados, calçados por umas sabinas brancas de seda.
Pintou os lábios com um glose leve e discreto feito de groselha, que lhes deu um brilho bonito e maravilhoso. Com um colar simples com um tridente azul – o símbolo da Atlântida – esperou, quieta e sentada no toucador.
Achou-se incrivelmente bela, com as linhas do seu corpo delimitadas pelo vestido feito de tecidos vindos especialmente do oriente, e, com as suas mãozinhas bem retocadas com um pó branco e fresco, um unguento de algas que lhe amaciou a pele e o cabelo negro encaracolado. Eleonora já era uma rapariga deveras atraente, agora, com aqueles preparos, estava naturalmente amorosa e encantadora.
Nunca tinha sido mimada com tantos presentes…Sentia-se como uma pomba num mundo só seu.
Cinco minutos depois, o gigante germânico conhecido como Nimtauk abriu a porta e sorriu maldosamente.
Agarrou com alguma força o braço direito de Eleonora, que o olhou com menosprezo e nojo.
- Bons dias, Princesa Eleonora. – Disse num tom irónico. – Vinde comigo, o meu mestre está à vossa espera.
Com algum desdém, ele arrastou-a bruscamente até aos azuis-escuros corredores, qual lobo faminto, a segurar firmemente na sua presa.
Depois duns longos metros a percorrer largos corredores, entapetados com rastos macabros de sangue prateado de ninfas e fadas, Nimtauk fê-la descer uma escadaria em caracol, perfeitamente arquitectada para se parecer com um enorme tigre de mármore que se erguia majestosamente até ao último andar, com os seus dentes de marfim longos e afiados.
Ao longo da descida, ela questionava-se o porquê de tanta monumentalidade na arquitectura daquele castelo.

terça-feira, 22 de abril de 2008

A Princesa Eleonora em Perigo...!


O Sol punha-se perigosamente sobre as montanhas, colorando lentamente o branco da neve, nunca derretida da altíssima cadeia montanhosa num lindo rosadíssimo. Os Alpes das Sereias são um lugar sagrado para a maior parte do povo atlante, e, igualmente, assombrado!
Várias criaturas assustadoras e espíritos malignos habitam neste despenhadeiro entre o alto e o baixo. Quem passar da Europa para a Atlântida por este tortuoso caminho só pode ser louco, pois desconhece os inúmeros perigos que lhe estão reservados. Há mais de noventa mil anos, um grupo de pessoas decidiu ficar na Montanha Lelsut – a Amaldiçoada! Passados sete anos de azar, estas transformaram-se em seres canibais e de uma fealdade indescritível.
Diz-se que a maior parte dos Demónios descende destas almas penadas.
Na gruta escura onde Eleonora estava presa, o demónio olhou para ela com os seus olhos raiados em sangue e esboçou algo a que se podia ser um sorriso, se não fossem aqueles horríveis dentes afiados.
- Me amor, porquê tens medo de mine? – Resmungou a voz grave e rude, como um trovão. – Nom te preocupes, quando ouvires a manha música, Nom ficarás tão tímida.
Mas, a pobrezinha, um pouco aflita no coração, mas serena no semblante, tapava sempre a cara e os ouvidos, perturbada com a visão hedionda que era o demónio.
De repente, ouviram-se trombetas de combate, e a saliência cinzenta e perigosamente inclinada foi alvo de uma enxurrada de setas.
Apanhado de surpresa pelo ataque, a feia cara do demónio tornava-se ainda mais vermelha, de tão irritado que estava, e barafustou bruscamente para as suas loucas concubinas para que se fossem atirar do precipício de propósito, para que assim ele estivesse seguro. Astilmutchan era, logicamente, um cobarde, e, por mais ilusório que fosse, não queria ver a sua pele dilacerada pelas setas vindas debaixo. E esse foi o seu maior erro!
As raparigas, dentro de trinta minutos, desvairadas como tudo, do mesmo género das escravas de Samiel, mas ainda com um aspecto mais podre e sem grilhetas, atiraram-se imediatamente. Num curto espaço de tempo, o senhor da gruta escutou os gritos das suas donzelas a serem brutalmente dilaceradas lá em baixo por espinhos, altamente tóxicos, preparados especialmente para elas. A batalha nem quinze minutos durara e o idiota homenzinho já perdera todas as suas esperanças, uma vez que a ofensiva do Assassino do Amor tinha sido tão bem pensada e cuidadosamente preparada até ao mais ínfimo detalhe de vantagem do campo.
Julgar que as salvas de flechas mortíferas vinham da parte de baixo da montanha e que não eram letais fora um erro crasso.
Sem saber o que fazer, pegou com a mão esquerda na sua espada de dois gumes e, com um movimento quase patético, levantou a princesa rudemente, sem sequer lhe pedir licença. Os demónios, como Samiel dissera, eram – e são na sua maioria – criaturas estúpidas, e o que lhes falta em inteligência, é preenchido com a sua ferocidade. Obviamente que ele não ia ficar parado até que os arqueiros parassem de disparar. Ele, como Senhor das Profundezas (o que, diga-se de passagem, não era lá muito, a contar com o código quase senhorial atlante da época) devia defender o seu território e todos os que nele habitassem.
A salva de tiros parou quando os homens do Assassino do Amor repararam na rapariga, meio chateada, a fazer das tripas coração para não vomitar aos ombros do desajeitado monstro. A maior parte dos cavaleiros iam de cavalos alados negros com asas de morcego vermelhas, que relinchavam fantasmagoricamente.
Atrás deles, vinham Indra com o seu elefante branco, numa das grandes saliências e Anúbis, na forma de
Um homem de cabelos louros e aspecto germânico – que parecia o líder daquela montada de vinte bruxos – ordenou numa voz alta:
- Rende-te, ò Senhor das Profundezas, e o meu mestre te dará uma morte rápida e indolor, digna de um grande demónio como tu...
O demónio balançava maldosamente a rapariga entre os braços deformados e vermelhos, como se esta fosse um brinquedo, e enquanto isso, empunhava a sua ridícula lâmina de jade qual um disco rígido e pesado.
- Nunca! – Rosnou Astilmutchan rispidamente. – Achais mesmo que me meteis medo, Nimtauk?! Eu tenho aquilo que o vosso senhor tanto procura, e se a quereis tanto, aqui a tendes!
Dito estas palavras, o azteca atirou Eleonora para os obscuros abismos, onde as únicas coisas que se podia ver eram os aguçados cristais, impregnados de veneno.
Os bruxos ao verem tamanho disparate, com vários jactos de água vindos das suas mãos, desarmaram rapidamente o demónio e acorrentaram-no num instante com fortes grilhetas nas mãos e nos pés.
- INDRAAAAAAAAAAAAAAAAA..... – Berrou Eleonora, sentindo as lágrimas a molharem-lhe o rosto.
Num gesto quase instantâneo, Anúbis abriu as suas asas com penas brancas e duma envergadura de cinco metros, quase como todas as que os deuses egípcios têm e voou rasante, apanhando por uma unha negra a menina, que chorava constantemente ao ver o seu trágico fim.
Ao ouvir o grito da amada, o valoroso príncipe, numa calma quase fria e veloz como um relâmpago, desceu numa questão de segundos o precipício com o elefante branco a bramir um grito de vitória.
Enquanto a vida de Eleonora passava-lhe num flashback de memórias, um falcão, com as costas das asas vermelhas como o Sol e os ombros negros como a escuridão, observava das alturas tudo aquilo que se passava.
Com um raio de luzes verdes e azuis, a poderosa ave de rapina transformou a pequenita numa noz. Os acontecimentos, naquele momento, foram-se desenrolando de uma forma tão acelerada que apenas com um efeito lento é que nos poderíamos aperceber que Indra não recebeu nada nos seus braços, e que o magnífico pássaro de olhos verdes penetrantes apanhara silenciosamente a noz num voo picado a trezentos quilómetros por hora.
Abrindo as asas com um ar triunfante, o falcão olhou uma última vez para a noz com alguma indiferença.
O misterioso pássaro, em vez de pousar suavemente numa das muitas saliências da escarpa, envoltas nas brumas do entardecer, abriu novamente as suas asas musculadas e heróicas, voando, mais rápido do que um único som, para outras paragens desconhecidas.
Ao vislumbrar por uma última vez o falcão, já um pontinho negro no horizonte, o guerreiro hindu suspirou, olhando para cima, no desfiladeiro Fgesil Tirnam em busca de respostas sábias.
- Para onde é que aquela fantástica ave terá ido? – Perguntou prudentemente.
Anúbis olhou também para cima, e reparou que, tal como o pássaro e a princesa, os cavaleiros negros tinham desaparecido, tão enigmaticamente como tinham aparecido.
Pelo seu amor, Indra era capaz de fazer tudo, mas tinha de permanecer eternamente a famosa paciência oriental, e esperar que tudo corresse pela positiva, ao contrário do amigo, que não podia acreditar em ninguém.
Toda a gente na Índia dizia que o humano Príncipe Indra descendia de deuses e que era a pessoa mais bondosa e justa em toda a Ásia. Teria o seu amor desaparecido para todo o sempre
...?