sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Um jantar amargo com falta de amor (Parte I)

Aquela noite estava mais brilhante do que o dia, com toda a abóbada celeste a cintilar de orgulho e prosperidade.
Perto do túnel que dava para o átrio principal desta visão horrífica e atraente, chegavam várias carruagens de todos os tipos e várias formas, quer fossem pequenas ou grandes, de todos os tipos, e de todas as raças, que se pudesse imaginar: demónios, nereidas, feiticeiros, e, é claro, a comitiva de Indra e de Anúbis, que, perdidos em mil delícias, quase tinham esquecido a sua querida amiga Eleonora. Pelo que aquelas criaturas diziam, festejava-se o aniversário do malvado bruxo. Mas, o que era mais impressionante, é que a Rainha Melnjar e a Rainha das Nereidas estavam lá, juntamente com os respectivos maridos, O Rei Neptuno e o Pai da Senhora Swertyhina. Na verdade, estavam mais inimigos do que amigos, o que era ainda mais suspeito, pois, sendo um homem reservado, o Assassino do Amor preferiria não ter ambos perto do seu alcance.
Os convidados foram levados até ao salão de jantar, e mal todos se sentaram, confortáveis nas suas cadeiras, a festa começou, com um Samiel taciturno no topo da mesa, com um ar impaciente num trono maior do que todas as outras cadeiras. Estava ainda mais requintadamente vestido do que para Eleonora de manhã, com um casaco de couro preto com adornos de ouro em figuras pontiagudas com uma gola felpuda pontiaguda nas pontas de um tigre, uma túnica azulíssima que lhe dava até aos pés, e que, na cinta, lhe apertava cinco fios de prata com o Terceiro Olho de Tsesustan em ametista, e, diagonalmente, usava uma faixa de pele de cobra apertada três vezes, com cerca de cinquenta centímetros. Nos pés, tinha calçado sandálias banhadas num mar de diamantes, cuja madeira de cerejeira era bastante resistente. Tudo em conjunto, dava uma figura bem sinistra e refinada do homem a quem toda a gente na Atlântida tinha os seus medos. Esta ideia não tinha vindo da mente insensível e solitária de Samiel, mas sim dos seus subordinados, que, atenciosos como sempre, quereriam festejar o trigésimo quinto aniversário do mestre com uma enorme festa, o que não agradou, de maneira nenhuma, o senhor do castelo. Dizia que detestava grandes alaridos e festinhas horríveis e barulhentas, mas lá lhe conseguiram convencer a não cancelar a ideia, pois já tinham enviado os convites, e seria uma enorme descortesia da sua parte dizer de maneira fria que não haveria festa para ninguém. Além disso, era o aniversário dele, e não se poderia esquecer uma data tão importante.
Com a cabeça apoiada sobre a luva cor-de-vinho de veludo duma maneira desinteressada, o feiticeiro quase que fazia com que toda a gente se sentisse mal com a sua presença. Soltou um inaudível suspiro. Quem lhe dera que os seus lacaios não fossem tão idiotas ao ponto de pensarem sequer numa coisa daquelas. Seria que eles não entendiam que não era só o barulho e as multidões que o incomodavam?... Teria se passado tanto tempo assim?
Se ao menos pudesse estar com a sua amada, ali, sozinho, com ela, mais ninguém, numa noite tão bonita como aquela, a celebrar o seu aniversário com ela num jantar romântico e simples, com uma comida simples, e ela, envergando aquelas vestes humildes e graciosas, naquele corpinho branco como o leite, apelando para ele a tocar com o seu amor carinhoso. Agora, vinha esta palhaçada inteira, ainda por cima com Neptuno, estas comidas todas, aquele excelente vinho dos Alpes das Sereias, os aperitivos com bacalhau e pimenta negra…Que aniversário perfeito ele iria ter!
O primeiro prato foi sopa de alho com beterraba e cenoura, uma especialidade da cozinha do Castelo Negro, do qual todos comeram com bastante apetite, excepto o anfitrião, que, apesar de ser um grande apreciador de gastronomia variada, olhava para o prato tristemente, fazendo curvas e contracurvas com a colher, enquanto o Tigre da Escuridão encostava a cabeça no colo do dono, consolando-o, tentando ronronar e acalmar a frieza do amo, mas em vão.
Samiel estava totalmente absorvido nos seus pensamentos negros, e, por isso, entendendo o mau humor do seu senhor, as criadas fantasmas logo retiraram o prato de sopa. Neptuno viu que esta era a oportunidade para ter uma longa conversa com o feiticeiro, por isso, pediu para também ir à casa-de-banho, uma vez que o senhor tinha se ausentado para fazer as necessidades.
Depois de dar algumas voltas ao labiríntico palácio, descobriu um homem infeliz, agarrado à porcelana do bidé, vomitando com alguma constância, os aperitivos e três copos de poção calmante.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

a Nuvem Doce:... Mistério na Comida


Situado na Inctaluatalidenistados Rue, nos arredores da Cidade dos Deuses, é a pastelaria fundada pela terna e doce mãe de Pedro, uma fada com o distinto nome de Susana Linsra, nos meados dos Anos 70. O meu namorado sabe pouco dela, a única coisa que sabe é que o tem nas fotografias a preto e branco: uma rapariga dos seus dezoito anos, sempre junto ou na Cidade dos Deuses, juntamente, com um homem de cabelo grisalho de cinquenta anos, alto, com um sorriso afável e misterioso. O nome desse homem é Aurélio Apolinnaris, o pai de do meu grande amigo. Ao lado deles, está um jovem dos seus trinta anos, com expressão insensível, fria, e distante, cabelos negros volumosos presos por várias tranças atrás, como usavam os antigos guerreiros Aztecas, e um casaco de couro à Michael jackson, e olhar de felino negro. Esse seria o único parente vivo do meu amigo, o Tio Custódio Epifânio Tezcatlipoca. Não confundas o último nome dele com o verdadeiro nome daquele deus azteca, cujo significado é “Espelho Fumegante”. O Pedro já me explicou que ele prefere ser chamado no bairro por “Tezca”, ou por Sr. Epifânio, e é assim que os pequenos fregueses o tratam, se não querem levar um puxão de orelhas, no entanto, os vizinhos e os filhos dos vizinhos continuam a chamá-lo de Tezcatlipoca, quando não está presente, é claro. Chamam-lhe assim, porque ele passa a vida a dizer «Olhe-me só o preço desta bebida: quase passa pelas mãos, como o fumo…» É o slogan dele, e o Pedro já me explicou o porquê de ainda não o ter posto à beira da tabuleta da velha pastelaria; mas disse-me que, as velhas garrafas são feitas de vidro de obsidiana, que, com a espuma do álcool, aquilo quase que tem fumo nas garrafas do bar do tio dele. Eu também não compreendi lá muito bem a piada, mas isso é lá com o velho humor bellante. O Tezcatlipoca tem uma voz muito sibilante e rouca, como se fosse o rosnar de um velho jaguar, e é muito desconfiado, mas algumas vezes, costuma brincar – assustar – as criancinhas que vêem à pastelaria dele comprar a farinha para as mães.
Na hora do almoço, eu costumo passar por lá para comer qualquer coisinha antes de voltar para a escola, e o mais engraçado é que ele é um excelente cozinheiro e um óptimo negociante. É muito esperto para a idade que tem, que devem ser para aí uns cinquenta anos, e costuma estar sempre com o cabelo curto, ao contrário das fotografias, com gel à maneira, como a malta nova aqui da geração moderna.
Contudo, a gabardina à Michael Jackson e o avental preto axadrezado com riscas vermelhas e pretas ainda não desapareceu. Ou está muito bem disposto, normalmente, a assobiar uma melodia bellante típica, arrumando a loja com a ajuda do sobrinho, ou está de péssimo humor, com um ar arrepiante.
O facto de ter aceitado tomar conta do filho da cunhada enquanto esta era levada para a Ilha da Morte não foi um acto de pura generosidade – cá para mim ele só quer aproveitar-se de ter um ajudante e empregado à borla.
Enfim, eu não me meto em discussões familiares, e o Pedro já tem demasiados problemas na vida dele.
Ao princípio, o Nuvem Doce é muito atraente e simpático, mas logo se vê que o tio do meu amigo é pão e bolor, bolor e pão; ou seja, não é lá muito de confiança…acho eu. Eu só como lá às terças e quintas porque é barato, e depois não tenho de ouvir a minha família com mais uma das discussões.
O mistério é…como é que o pai do Pedro morreu?... Quer dizer, um cyborg não morre assim tão facilmente, a seguir aos Bruxos, eles são uma das mais poderosas raças de feiticeiros de todas as Ilhas das Bellanárias.
Tezcatlipoca tem uma perna de metal, e, misteriosamente, uma vez, quando se vi a cortar-se com uma das facas, ele não sangrava. Ora, os Cyborgs têm de ter sangue, ao menos mágico nas veias, senão, não eram Cyborgs, eram Deuses, porque os Deuses não sangram!...
E porque é que a mãe de Pedro não é descrita como uma personalidade dominante na vida dele enquanto criança, porque é que ela foi separada, porque é que os Bruxos odeiam tanto os Cyborgs?

sábado, 8 de novembro de 2008

O rapaz dos olhos de ametista...


«…. Este se misturava com maneiras rudes e vulgares entre a multidão, à espera do melhor momento para se dirigir para suficientemente perto dela, com uma gabardina vermelha nos ombros, sapatos lustrosos castanhos e uma gravata branca desapertada que lhe pendia do colarinho branco de seda parisiense…»



Um misterioso bruxo dos seus vinte, vinte e quatro anos, durante toda a cena da Lua dos Meus Sonhos, segue a jovem protagonista e, com ele, um enorme rasto de sangue leva-nos até a uma das maiores conspirações jamais conhecidas. Uma marioneta nas mãos de outros, ou um assassino calculista e frio a solo…? Só para o meio descobriremos a derradeira identidade de “Flautista”. Querem ou não, aqui a têm…!

sábado, 25 de outubro de 2008

A morada do Sacerdote da Magia Negra


À noite, no Verão adiantado, o Castelo Negro parecia-se mais com um luxurioso palácio do que com um castelo assombrado e assenhorado por um bruxo solitário, cujo único deus que guardava e prestava homenagem era ao terrível Tsesustan, “O Renovador”, ou o “Destruidor”, ou, como os Hindus o chamavam, o deus Shiva. Por outro lado, os actos completamente imorais que o feiticeiro cometia não eram nada de acordo com as designações do deus hindu, mas sim da representação atlante, que era um lado negro do primeiro mestre do Yoga. A mitologia atlante conta que Samiel era ateu, contudo, o símbolo do tridente, da arquitectura oriental, as suas roupas apenas utilizadas daquilo que a natureza lhe dava, ou seja, que ele adorava casacos de animais ou de criaturas como dragões e tigres, o cabelo ruivo e longo emaranhado num puxão complicado, os conhecimentos e sabedoria da serpente, o seu olhar penetrante que lhe dava um ar aterrador e sinistro, os espíritos e demónios, e duendes e outros feiticeiros como únicos companheiros de viagem, …Tudo parecia suspeito e ambíguo no homem que já tinha ganhado o apelido de respeito de Tsesustangertinatva – A Encarnação de Tsesustan!
Contudo, a morada do Jettinfa – pedinte, pobretanas ou xamã – era riquíssima.
Construída sob o lago, esta magnifíca estrutura arquitectónica com semelhanças a uma fortaleza da idade média oriental muçulmana era sem dúvida alguma um espectáculo digno de se ver, com as suas pedras brancas e pérolas reluzir como estrelas num fundo negro que se parecia igual ao céu.
As cinco alas de mármore e alabastro eram firmemente seguradas por arcos monumentais, cúpulas gigantescas e colunas originais, pintados com desenhos de cores garridas, cenas de batalhas entre Deuses orientais e Demónios, dentre os quais, muitas eram as paredes e tectos decorados com orações e salmos de guerra, ou rezas de honra e elogios ao Senhor Tsesustan. Samiel adorava pintar ele próprio novas palavras e sonetos no tecto do seu castelo, sendo um fervente adepto do Hinduísmo em pequeno, por isso, ao ter chegado à Atlântida e ter visto o Senhor das Trevas como figura mais negra e obscura do seu deus preferido, não é de admirar que adagas, tridentes, conchas, facas afiadas e espadas fossem motivos fálicos e símbolos do Deus da Magia Negra. Da primeira vez que Neptuno ouviu falar no estilo do Castelo Negro, quase que ficou admirado por haver tridentes – o símbolo do rei atlante – a segurar os arcos em trilobado e tectos pesados de toneladas de pedra. Com as suas muralhas bicudas, o castelo tinha uma torre maior e mais alta do que todas as outras, um minarete bem no centro, do qual, algumas vezes, Samiel costumava tocar harpa para todo o Vale da Morte o escutar. Realmente, aquela torre tinha algo de mágico, pois, inscritas em letras atlantes, bem grandes, como pedras vermelhas como chamas, estava a seguinte frase:

Sdon mast fo Tsesustan Ulkaman lppsga bellantica

Este é o Reino de Tsesustan na Bellanaria

Com este mote, não admira que o luxo e a simplicidade imperassem num equilíbrio quase divinal, com as torres a brilhar com as suas telhas prateadas à luz da Lua, como se fossem serpentes erectas numa dança do ventre com todos os astros como espectadores
.

domingo, 19 de outubro de 2008

Inspiração...fadas, histórias, contra-cópia (precisa-se)


Tenho andado a pensar se por acaso alguma vez não se sentiram ameaçados quando, ao postarem algo no blog, uma história, de uma vez, alguém copiar as vossas ideias ou simplesmente, não gostarem...



Vou ver se consigo por um "copyright" nos meus blogs, sinceramente, a mim, inspiraçao nao me falta, o problema é que não sei se irei publicar as histórias de que tanto gostei, e o "Assassino do Amor" também já deve andar um pouco aborrecido - quer dizer, não tenho conseguido inventar histórias acerca dele.



LoL aqui estou eu a falar para as paredes, e só quero dizer-vos que, estejam onde estejam, agradece-vos imenso o vosso apoio. Um beijo a todos vós, que são meus amigos.

domingo, 28 de setembro de 2008

Inspiração para um Narciso Negro...



Algo está para nascer em mim...uma espécie de semente tripla, que liga três vidas num só círculo...por favor....Ajuda-me...



Não sei lá muito bem se hei-de escrever ou reescrever este livro de memórias, que tanto tempo me deu a recolher, todos os factos, todas as alegrias, todos os amores, todas as tristezas, as lufadas de ar fresco....!



Dois diários que contam a história de duas raparigas, uma continuação da "Lua dos Meus Sonhos"... Uma órfã que encontrou uma prometedora e engraçada, divertida família, e, possivelmente, o seu verdadeiro amor...!


Uma jovem herdeira de uma grande potência comercial, Swerdinada (a Serpente de Fogo, como conhecida nos clubes nocturnos e locais de diversão da noite na cidade de Cyborg Town), de vinte e dois anos tem tudo para ser feliz: uma fortuna deixada pela mãe deusa e pelo seu querido pai Neptuno - o governante de uma ilha que segue um estrito e hierarquico regime monárquico liberalista - um corpo com uma cintura de cinco centímetros de modelo digno das grandes estrelas americanas de cinema, um carisma e delicadeza dignos do seu nome, e poder....


A única coisa que lhe falta é um homem, pois devido às severas regras da fantástica Bellanária, ela só se poderá tornar-se rainha, após a noite de núpcias.



Annelina Sara é uma lutadora por excelência: dezasseis anos. Pacifista e corajosa, mas com um espírito surpreendentemente bondoso e condolente por todos aqueles que a rodeiam, principalmente os injustiçados e despedaçados orfãos, num reino onde a corrupção e a hipocrisia ameaçam envenenar as cortes da Cidade dos Deuses. Sobrinha do famoso samurai e temível, tirânico bruxo, o Duque Adrian Friedrich Von Tifon, dois dias após ter assistido ao traumático e dramático suicidio do avô, esta começa a lutar com uma negra depressão, e tentando ver, com a ajuda de Hans e Willhem, os seus irmãos por espírito e primos de sangue, a luz por detrás dos desastres do mundo...



No entanto, mal um desastre acontece sob os arredores da capital da ilha, todos os habitantes da Bellanária começam a pôr o dedo da suspeita sobre Eduardo Giovanni Oliviero Di Tutliari, o misterioso namorado da "Princesa Annelina Sara"... Dois frios e crueis oficiais nazis, o jovem Tenente-coronel Schwarzjaguar e o Major Karl Adolf Honestoffmann, chegam, para transformar a vida das duas princesas e da Família Von Tifon num autêntico inferno!


Será que Sara e Swerdinada conseguirão desmascarar o autor do crime - O Narciso Negro - e escorraçar os dois oficiais...! A não perder, ou talvez sim....Que é que vocçes acham?

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A Lua dos Meus Sonhos - situação política...


Era por isso que, agora, em 1932, mais do que nunca, a Rainha das Fadas dizia às suas vassalas para que não atravessassem a floresta sozinhas ou que fossem à cidade sempre com alguém como companhia. Havia muitas questões políticas em jogo, na capital da Bellanária, a enorme Cyborg Town, os Nazis começavam a ganhar poder na Alemanha graças ao grande apoio da classe dos Bruxos; a Serpente de Fogo acabara de ser nomeada regente a seguir ao seu pai, o Rei Neptuno, que estava nos seus últimos anos de vida; o povo citadino já começava a queixar-se que não queria uma fada como rainha; até o Conselhos da União dos Cyborgs e Feiticeiros Brancos fora abolida; havia uma crise mundial por resolver; a Rússia acabava de sofrer as consequências duma Revolução; Portugal estava num estado de depressão incrível; os partidos na Espanha estavam muito tensos; a Itália vivia já num regime ditatorial; e, quanto à pobre Bellanária, continuava mais firme do que uma rocha, enquanto os olhos invejosos da Ásia, da África, da América Latina. No entanto, a Princesa, como primeira lei, acabara por abolir o uso de qualquer objecto mágico que pudesse matar, e que apenas os feiticeiros mais ricos, e experientes pudessem usar esse tipo de armas. A era da Magia Negra acabara no príncipio do século vinte, a era da Magia Universal acabava de nascer, uma magia tão poderosa que seria preciso Deuses para a derrotar. Havia uma lenda acerca deste terceiro e extremo modo de magia: inventado pelo Deus Tut do Conhecimento, era uma magia com milhares, talvez milhões de anos, com o único propósito de acabar a disputa entre as trevas e a luz, a Magia Branca e a Magia Negra, o Bem e o Mal, fazendo um equilíbrio entre os dois. Esta Magia Universal era a Energia Radioactiva da Feitiçaria: os poucos que a possuíssem dentro si, teriam à sua espera o mais alto dos pedestais dos níveis de Feiticeiros, talvez nem o próprio Rei dos Bruxos seria capaz de competir com tal poder. Ora perguntam vocês “Como é que a Bellanária podia estar tão bem em relação ao mundo?!” A resposta é simples: por causa da rica princesa salamandra, a linda e desembaraçada Princesa Swerdinada, a única sobrevivente do assassinato e violação às sete filhas de Neptuno por Rwebertan Samiel Di Euncätzio, um bruxo tão vil e horrível, que, dentro do seu espírito, nada havia senão as vozes da vingança!
Este Assassino do Amor, uma vez servo de Tsesustan, ficou perdido de amores pelas sete princesas, mas a cada uma a virgindade arrancava, mais a sua alma ficava escurecida. Só Swerdinada fugiu a este terrível destino, nunca se soube como e quando…!
O milagroso facto é que esta rapariga, trespassada pelas lâminas do mais poderoso bruxo que há alguma vez a Bellanária ouviu falar, regressou dos mortos como princesa herdeira.
A linda Swerdinada, ia fazer nesse ano e dia os seus dezoito anos, e, era, igualzinha à dríade de quem estamos a referir, excepto o facto da ninfa de fogo ter nascido das últimas chamas de paixão e sensualidade que havia entre o Rei Neptuno e a Rainha Melnjar, que morrera de velha em 1929, catorze anos depois do nascimento da oitava pobrezinha salamandra, que não era nada menos que um avatar da Princesa que tinha sido esposa do poderoso Assassino do Amor.
Para compensar a perda da mãe à querida filha, o sempre caridoso e protector rei decidiu cobrir a bela princesa de mimos e guardiães.
Em breve, a vida, para a quente e selvagem Swerdinada tornou-se maçadora, dentro das muralhas do palácio.
Swerdinada era a cópia exacta de Sara, se não fosse pelo seu impetuoso comportamento da princesa. Rodeada sempre por homens, e educada numa sociedade maioritariamente machista, por mais surpreendente que pareça, a princesa saiu uma magnética, criativa e encantadora fada, que, por vezes, embriagada na fama e no deleite de ser admirada pelo povo atlante, tornava-se um pouco egoísta e demasiado brincalhona para as austeras tradições atlantes. Pomposa, mas ingenuamente generosa e amorosa com aqueles que amava, era muito bondosa e carinhosa por detrás daquele ar vaidoso, principalmente para com os mais desfavorecidos.
Além disso, tinha princípios, contra os homens, por exemplo: era uma fervente feminista. Era uma pessoa dum carácter bastante duvidoso: não gostava de homens arrogantes e convencidos, mas adorava fazer-se sentir desejada. Misteriosa, mas com um ar nobre e personalidade de líder, o seu lema era “A força de vontade dum homem move montanhas!”, aliás, duma mulher, que movia toda a Bellanária.

sábado, 6 de setembro de 2008

Annelina Sara - A Fadinha pobre...


Annelina Sara Lornam é uma amiga muito querida - tanto para mim, Jessica, como que para o resto da família - que veio das humildes Florestas de Cristal, quando nem tinha quinze anos, e se instalou nos quentes bairros de Cyborg Town, trabalhando como cantora de clubes nocturnos e salões.






O seu divino talento com a cítara - um instrumento hindu comprido da família da guitarra, do banjo e do alaúde, geralmente com com dezoito cordas, que se destaca pelo seu som metálico e glissandos; técnica de certos instrumentos que consiste em percorrer rapidamente e sem solução de continuidade, os graus de uma escala - é tão belo quanto a sua voz de anjo.




No entanto, por detrás do seu ar doce, a minha amiga tem sempre medo que alguém tente namorar com ela...e isso é que eu não percebo mesmo...Porque é que terá tanto medo do seu passado........?



É isso que tentarei descobrir, e só espero que prestem atenção, porque, senão,´é que não volto mais ao blogger.



tenho andado um pouco sozinha, e a minha família já tem andado a dizer coisas....!



um abraço e espero que este blog volte a ter visitantes. que depois eu comento os vossos!


quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O Mistério do Narciso Negro - a última flor de Outono


“ O Assassino costuma ser um antigo amigo da vítima…”
Agatha Christie


Hoje, darei um cheirinho de um novo romance policial que ando a trabalhar - a Lua dos Meus Sonhos já está completa - O Mistério do Narciso Negro.


Este, passa-se duas semanas depois da misteriosa morte do Duque Adrian Friedrich Von Tifon, o chefe da família dos Duques Von Tifon da Cidade Perdida.


Será que quererão ouvir as minhas histórias uma última vez....?


Prólogo…



Por vezes, os olhos podem pregar-nos partidas, mas apenas existe uma única coisa, em que existem duas completamente diferentes.
Eram 5 horas da manhã, e, sobre a Avenida Dríade Aurélia Benedita, não existia nem uma única vivalma, e, mesmo que estivesse, estaria ali apenas de passagem. Diziam-se muitas coisas daquele bairro de casas antigas do século quinze, renascentista, com alguns pilares e colorações, avermelhadas, brilhantes, como rubis incrustados em granito suave, polido, em grandes pedras. Este bairro, interior da Cidade dos Deuses, estava tanto de noite, como de dia, vazio, pelo que, a maior parte das enormes mansões e sumptuosas vivendas de antigos tempos estavam abandonadas ao Sol e à chuva, pequenina, que caía, trépida e pudica, durante o crepúsculo. Plana, limpa, com uma calçada de turquesa, esta particular parte da cidade apenas era habitada por uma família só, que se atrevia a ir, de tempos a tempos, fazer festas lá. Os Dark Sword, que possuíam a nº 945 do lado direito, uma maison vitoriana do século dezanove com três andares. O ar tosco, feio, triste, cor do Outono, dava-lhe uma certa penosidade, como se fosse uma prisão construída para os Homens da Inquisição, e, com as janelas quadradas, encadeadas por fortes luzes vermelhas bizarras que saíam das cinco estátuas, ou melhor as imponentes gárgulas do jardim com aproximadamente três metros de altura sobre os altares de mármore castanho, a mansão tinha um aspecto um tanto ou quanto bizarro.
Com as tijoleiras negras, a cobrir as duas torres principais da casa grande, este edifício triangular tinha uma complexidade simétrica de quase cinquenta metros de altura, e uma muralha a cercar o pálido, calvo, sombrio jardim de vinte metros quadrados, com as gárgulas aztecas como decoração, sem uma única árvore, apenas umas vinhas que chegavam até à janela principal, de arte mourisca, com um belo arco e uma flor de narciso como ornamentação em jade sobre as telhas da janela, esta era a única para avistar o quarto da Condessa, irmã de James Dark Sword.
Por mais estranho que pareça, o interior da casa era acolhedor, apesar de ter sempre aquele papel de parede rubi, acastanhado, que a Miss Felicity Dark Sword adorava, um átrio pequeno, com uma escada de caracol de mogno escuro folgada em veludo de cor de vinho, que desembocava numa bifurcação com dois corredores, no qual estavam dois quadros com os dois ominosos antepassados dos irmãos gémeos: Erika Dark Sword e Ezequiel Dark Sword. Pregado no tecto da casa, apenas existia uma única lâmpada vermelha, acesa por um pequeno diabinho com um tridente. Excepto o quarto de James e de Miss Felicity, as outras divisões eram apenas usadas quando havia festas na mansão ao estilo Nova Inglaterra.
“A nº 945”, como era apenas chamada pelos vizinhos, dizia-se ser assombrada pelos espíritos dos dois gémeos cyborgs, um monte de tretas para a mulher nova de vinte e seis anos, que, com um cigarro na ponta de uma boquilha vermelha, pontiaguda como a ponta de uma seta, iluminou o caminho de pedras triangulares até à estranha casa de feitio bizarro, parecendo ter sido esticada como se fosse pastilha elástica.
Á noite, não se podia ver muito bem, mas, com o rosto, rosado, de aspecto australiano, com um olho de metal cor de âmbar, meio verde, mexendo-se de um lado para o outro, como se fosse uma cascavel, apontou directamente para a Lua, que se ponha, graciosa, sobre o crepúsculo ardente. Orgulhosa, a mulher de estatura média, era uma deusa da tentação, sobre o cenário de aroma a melancia com pimenta, perfume favorito, que a envolvia numa nuvem sobrenatural de tentação, com um vestido branco e laranja de seda, o seu sorriso queimava até o coração mais empedernido de qualquer homem, e os seios, demasiado demonstrados sobre um decote diabólico, aguentavam umas pernas, escondidas sobre o doce, perigoso tecido de cetim. Com a cabeleira loira encaracolada solta num corte curto e selvagem, com um puxinho, como se fosse um redemoinho, os lábios vermelhos mascaram o tabaco, duramente, mas com uma sensação de prazer indescritível…Sobre as garras de pó-de-arroz, ela segurava uma malinha clássica, doirada, da chanel com cinco centímetros, e, com as unhas de três centímetros, brancas, ela estava lá, pendurada, como se fosse uma daquelas, que estava para a venda. Não, a Cyborg com pernas de noz não era uma dessas, e, com a sua constituição, bem atlética, e unhas pintadas de cor-de-rosa, o seu narizinho e ouvidos, atentos, escutavam e cheiravam qualquer coisa masculina que se mexesse e que tivesse músculos. Tal era o aspecto da misteriosa, glamourosa Felicity Dark Sword, a fumar a cigarrilha ousadamente, só, naquela avenida, sem um acompanhante sequer.
Minutos depois, acabou agradecidamente o cigarro, deitando-o indiscretamente, com um beijo sensual, para o meio da rua, ao escutar uma limusina jaguar Mark IV, bem comprida, aproximou-se da calçada de chamas. Entrando com os sapatos de salto pretos, como se patas bem aguçadas de uma crocodilo fêmea, a mulher sorriu, sentando-se sobre a escuridão do carro.
Confortável no cabedal do assento, ela avistou, primeiro, dois olhos verdes, penetrantes, e a seguir, sentiu o apertado, no entanto, quente, carinhoso, possessivo abraço dele.
A língua afiada do amante quase que sugava a garganta inteira da rapariga, enquanto que esta, retribuía com uma trincadela ousada no pescoço, lançando-se, como uma vampira, sobre a sua vítima.
- Ò amor… – A voz dela era grave, quase que para o sofisticado, mas com um toque sarcástico e convencido na voz.
De repente, ele largou-a, e falou-lhe num tom quente, em Espanhol:
- Uma prova do meu amor…Felicity!
Subitamente escutou-se, no meio daquele silêncio apaixonado, um grito aflitivo, de socorro, e, para ela…Ficou tudo escuro, como um narciso negro no meio dum lago de sangue…!


terça-feira, 19 de agosto de 2008

Um episódio engraçado... (Um pouco da história da vida passada da Serpente de Fogo e do Assassino do Amor)


'...Aconteceu há muito, muito tempo, quando eu estava para fazer os meus sessenta anos de idade e todo o meu arrependimento no coração começava a vir ao de cima, mesmo antes de eu o notar, um peso de chumbo na alma arrastava, com grilhetas mais pesadas que o próprio Inferno!... Quando Eleonora me deixou pela segunda vez, deixei de ter esperanças que alguma vez a Mãe Swertyhina me reservaria uma segunda amada para mim, e assim, os remorsos vieram assombrar-me à noite, como tenebrosos, aterrorizadores espectros dos meus antigos inimigos.
Sabia que tinha poucos anos de vida, só mais uns duzentos e quarenta anos, ou talvez quinhentos, mas Sabia que tinha poucos anos de vida, só mais uns duzentos e quarenta anos, ou talvez quinhentos, mas não passaria dos mil, de certeza.
Toda esta tristeza na alma me induziu, a cada noite que passava a tentar deixar a Magia Negra de uma vez por todas. Tentava não pensar nisso, comer até me fartar, mas nenhum dos prazeres mundanos, mesmo as mulheres e o álcool, que, anteriormente, eu considerava o melhor remédio para a depressão e o stress a que eu, um Feiticeiro daquele calibre, era sujeitado, todos os dias, poderia sucumbir…Uma pessoa não é de ferro, ora essa! E o terceiro-olho, o olho de Morte do Senhor Tsesustan, começava a chamar-me para a travessia da minha vida…tão Atormentado estava eu com tantos sinistros pensamentos, que decidira, numa noite terrível de insónia, recomeçar a minha vida, para que, ao menos, os Deuses se compadecessem de mim.
Por fim, ganhara uma consciência, mas não uma que não gostasse de mulheres…Pelo contrário, em mente e corpo, continuava o mesmo Samiel de sempre.

«Basta!» Disse para mim próprio, enquanto me revolvia sobre as alcovas, juntamente com o Tigre de Escuridão, que andava igualmente preocupado e sem conseguir adormecer… «Para mim, o Assassino do Amor, morrerá nesta mesma noite!» Assim tão convencido fiquei, assim tão presumido tornei a acordar, com o Sol nos olhos e o meu leal, simpático, valente companheiro de desventuras deitado ao meu lado, quase como que ronronando nas minhas pernas. E já sabia o que havia de fazer na vida: voltaria para o início, e sairia daquele castelo sombrio e solitário de uma vez por todas. Convicto, já levantado, mandei que planeassem uma nova mudança naquele sítio, para o melhor iluminar, pois aquilo parecia um inferno, com aquelas escadas, alas, escuras, e masmorras podres. Queria que tudo fosse alegre, e que nada me lembrasse da Deusa da Morte, a quem eu, em tempos, tão ardentemente, adorara. Estava com dúvidas, e, contudo, os meus Deuses não respondiam ás preces. Porque é que os Deuses não respondem perante a pergunta do porquê de um homem ser abençoado com um sinistro, obscuro, poderoso dom, milagroso! A ela e ao seu esposo, que naquele momento, nessa altura da minha vida, os recomendava ao Diabo. Assim fizeram outros tantos, que, confiantes em mim e nos meus ideais, me seguiriam para aonde quer que fosse, fosse a escolha que fizesse, eles acompanhavam-me. Obviamente, depois da minha greve, e ao ter mandado secretamente Jerininantus e Nimtauk, sabe-se lá porque razão, de metade do exército de idiotas que eu liderava, um terço decidiu ir-se embora, ou talvez mesmo matar-se, os tolos. Ri-me desprezivelmente deles por um bom bocado, e, depois, meti mãos à obra que tinha na cabeça durante muito tempo!…' ( versão inteira do prólogo do quinto capítulo da 3ª parte das Crónicas da Lógica e do Tempo)


Tudo na Atlântida – ou Bellanária, como quiserem – tinha-se passado, desde os vinte e cinco anos passados, e o Rei Neptuno estava contente. Não havia um sinal do Assassino do Amor pelas ruas, e tudo em Cyborg Town era belo, e maravilhoso, dinâmico. A cidade criada pelo temido, respeitado, e falecido – as pessoas agora acreditavam que o homem com o coração de ferro tinha morrido de velhice – Feiticeiro, Mestre Rwebertan Samiel Di Euncätzio, tornara-se numa importante polis, uma capital económica indispensável para o reino da ilha, e o culto do “Casal da Escuridão” tinha sido extinguido há imenso tempo. Viviam-se tempos, por fim de paz. Sob o céu, quente de Agosto, mais brilhante e precioso que, se o tentássemos agarrar com ambas as mãos, ela escaparia por entre os dedos, como areia molhada numa bela tarde, fresca, ao pé da praia. De manhã, tudo estava vivo, emaranhados naquela luz, maravilhosa, ritmada com os sons da cidade, e com os perfumes que dela emanava, havia algo mágico no ar. O cheiro delicioso a pastéis e a doçarias de todos os tipos era inundado pela pimenta e pelo quente, apetitoso chá verde de menta, com morango. Iguarias percorriam as narinas de todos, ou não seria esta a famosa “Cidade das Guloseimas e dos Prazeres”, e, enquanto o piano do centauro e a citar da fada tocavam, em acordes, harmoniosos, apaixonados, encantados, os gatos miavam contidamente com as suas vozes de sinos, as pessoas conversavam, as vizinhas mexericavam as notícias matinais, o Sol nascia sobre as montanhas, eclipsando o vale de Cyborg Town num belo arco-íris de um caleidoscópio de sensações, impacientes, ansiosas por diversão.

E, a Princesa Eudóxia Pelkafaninabaswerti, “Pequena Cobrinha do Açúcar”, como o pai lhe chamara carinhosamente, por ter uns lábios mais doces e ternos que o açúcar, e por causa dos seus olhos castanhos parecerem iguais a chocolate, rematado pela sombra de cacau negro e pelo rímel apimentado dos ornamentos que trazia, na cara morena, debaixo de uma cabeleira, negra, com o longo cabelo apanhado sobre um complexo apanhado, no qual um rabo de cavalo saía, dos tufos daqueles sedosos, lindos, ondulados cabelos de menina de catorze anos, lá estava, a comprar coisas à sua própria vontade, andando sem escolta, sem ninguém a acompanhá-la, apenas com um vestido vermelho, e cor-de-rosa, cujas alças seguravam o lindo peito, liberto sobre o ar fresco da montanha. Mal sabia ela que iria encontrar o marido da sua vida…!
Talvez fosse a distraída personalidade da princesa a qual as pessoas Tienenses achavam piada àquela rapariguinha, ou talvez fosse o seu carácter sonhador, espirituoso, e um pouco guloso. Era verdade, com o seu ar de adolescente, ela comia mais doces que nem uma outras fada ou humana qualquer. Era tão bela na sua idade, que até os centauros e grifos a vinham pedir-lhe a mão em casamento, e adoravam-na, como se adora uma deusa mãe. Todos os homens, velhos e novos, de todas as formas e raças, vinham trazer presentes ao Dristin Weltar, o palácio oficial da Família Real, das mais variadas e impressionantes maneiras: desde ás garrafas de bebidas doces, como sumos naturais e poções feitas pelos Feiticeiros, até aos pergaminhos de emocionantes histórias, escritas e narradas por Elfos, até a ramos de flores de duendes, e até se contava que Deuses, ricamente poderosos, de outras terras e reinos, lhe ofereceram elefantes preciosamente ornamentados de ouro e pedras preciosas, maravilhosas iguarias e cinquenta escravos negros dos grifos das terras de Sul de África, até os Demónios do Império do Meio e do Império do Japão tentavam a sua sorte, com cartas e poemas do mais formoso e inspirado que alguma vez a rapariga alguma vez conhecera. Não havia príncipe ou camponês em todo o mundo que não conhecesse as virtudes e beleza da perfeita filha mais nova do Rei Neptuno, e, todos os dias, fizesse chuva ou sol, havia uma fila quase interminável de vários pretendentes, e os elfos, os duendes, os gigantes, os demónios, os grifos, os centauros, os príncipes, os senhores feiticeiros, os imperadores, os reis solteiros, os deuses mesmos, esperavam, numa fila que se poderia contar até aos milhares, e vinham vestidos de todas as cores, de todas as maneiras possíveis, de todos os feitios, quer fossem pescadores ou até mesmo senhores nobres, como duques, marqueses, guardiães, condes...Um sem fim de apaixonados, que, anteriormente dedicados à Deusa Bilafassabnsair, a Deusa do Amor e da Beleza, que, a cada dia que passava, ficava cada vez mais furiosa, ao sentir que uma simples filha de um semideus era mais idolatrada por todas as criaturas masculinas do que ela. Queixosa e fingindo-se triste, pediu de joelhos ao Deus Tsesustan para que matasse a princesa, e que, de uma maneira, fizesse com que a princesa se casasse com um monstro, tão cruel, tão feroz, que a pequena Eudóxia Pelkafaninabaswerti sofreria um castigo eterno!...
No entanto, nessa altura, até o próprio Deus do Mal e da Discórdia estava já enamorado pela rapariga, pelo que, confuso, mandou que o Desejo (Polafafra) lançasse as suas setas de luxúria e de amor para um bruxo malvado qualquer.
Inesperadamente, as flechas vieram acertar no coração de ferro de um certo pasteleiro com barba ruiva por fazer, e o longo cabelo ruivo aparado, num astuto disfarce, com os cabelos brancos, lá na sua vida pacifica…Mas lá chegaremos.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

A Crueldade do Tigre

Assustado com o possível risco de vida, Dirlent implorava, com lágrimas nos olhos avermelhados e entre tosses secas e graves para que Samiel parasse imediatamente de fumar.
Um sorriso frio e cínico bailou pelo rosto insensível. Novamente, um prazer quase pérfido surgiu na mente de Samiel enquanto matava aos poucos o subordinado.
Queria fazer provar ao coitado o sabor da morte mesmo até ao limiar da dor e da ruína. Não interessava como é que havia de o fazer, só desejava vê-lo, ali, estatelado, pálido, sem vida.
Mas, quando ouviu as palavras “criança bela e inocente”, atirou imediatamente a cigarrilha para o chão.
Samiel gostava mesmo de assustar Dirlent, porque, caso contrário, o duende desobedeceria deliberadamente às ordens do mestre. O bruxo sabia como os duendes eram indisciplinados.
No entanto, ao pensar nas palavras do lacaio, meditou um pouco, com o sobrolho carregado.
Ao estalar os dedos para que o ar fosse limpo numa questão de segundos, virou-se desconfiado, com as mãos postas sobre o tronco, e lançou um olhar gélido para Dirlent.
- Porque haveria de me interessar por uma pirralha vergonhosa? – Indagou parcialmente. – És um incapaz, Dirlent. Só me fazes perder tempo, ainda por cima mentes tão mal como fazes as simples tarefas que te peço.
A abjecta criatura limitou-se a balbuciar receosamente, qual carneiro prestes a entrar num matadouro:
- Mas…Senhor…Ela é a mais bela mulher que já alguma vez entrou por estas portas, uma verdadeira pérola do oceano Atlântico.
Samiel, já mais recomposto, e com o manto a roçar de novo no chão de pedra bem trabalhado, pegou nele com uma das mãos e cobriu o seu tronco, como se não estivesse a envergar uma demasiado fresca dalmática de seda preta, com bordados vermelhos elegantes e prateados. Enquanto encaminhava-se lentamente até à saída, acompanhado por Dirlent que o seguia mais atrás e pelo seu animal de estimação, parou durante um bom bocado e pôs uma das mãos compridas sobre o queixo glabro.
- Se a tal menina é assim tão prendada como dizes, porque não a trazes vestida a preceito até à festa do meu trigésimo quinto aniversário para ser recebida como deve ser? – Perguntou ele num tom sarcástico ao servo. – Ou achas porventura que ela será demasiado medrosa e tímida para enfrentar o Assassino do Amor, o teu poderoso senhor, Dirlent?
- Não! – Respondeu imediatamente o duende, cheio de medo. – Ela estará à vossa espera, meu amo, tal como todos os outros convidados.
Ao serem abertas as portas para o Mestre sair daquela divisão do castelo, ele lançou um último olhar frio para Dirlent, que se arrastava pateticamente pelo chão de pedra, ainda de joelhos, com medo que o impiedoso patrão o obrigasse a andar assim sempre na sua presença.
- Ah, e não te esqueças de dar um banho ao Tigre da Escuridão. – Enquanto dizia isto, acarinhava o pêlo branco das costas do seu fabuloso animal. – Não quero que os convidados pensem que sou um bárbaro malcriado só por não tratar do meu lindo e magnífico rapaz.
Acabando as suas ordens que tinha para dar ao criado, o frio feiticeiro desapareceu por entre as portas de carvalho, deixando Dirlent sozinho com o feroz felino. Certificando-se que o cruel Samiel já tinha ido embora, Dirlent suspirou aliviado, mas um pouco temeroso. O duende sabia o quanto aquela fera o detestava, e, sempre que dava um banho ao tigre, acabava mais molhado que o próprio “gatinho de estimação” do patrão.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Prisioneira dos próprios Pensamentos!


Entretanto, o Assassino do Amor continuava a tentar convencer Eleonora a ir dormir com ele.
Ele puxou-a intencionalmente por trás, prendendo os braços e garupa feminina e adelgaçada da com as suas garras duras e ásperas, e aproximando a sua boca seca e cheia de cobiça do pescoço e decote da rapariga, aconchegando-se junto dela. A luxúria era sentida pelos dois, á medida que Eleonora cedia torpemente aos avanços libertinos de Samiel, ela era conduzida cegamente para uma das passagens secretas por detrás dum candeeiro da sala de jantar.
- Não estás destinada a ser esposa daquele palerma, com essas mãos sedosas e esse cabelo aromático de mil prazeres....Mereces alguém muito melhor. – Sussurrou com lascívia. – Não, meu amor, quero-te, mais do que tudo no mundo.
Ao massajar com um carinho estranho o peito já descoberto de Eleonora, o bruxo sorriu levemente, colocando uma rosa branca no meio dos seios dela, beijando-a ternamente. Completamente vermelha, a suar de tanta emoção e a deixar-se guiar, ela viu Samiel a apontar para uma parede, e, num segundo, uma passagem secreta em lugar do altar de mármore em miniatura abriu-se, com os olhos bruxo a arder de desejo sexual.
- Aquele é o caminho para o meu inferno, amor... – Disse ele numa voz harmoniosa e tentadora. – Vinde comigo, que quero fazer de Sua Alteza uma mulher feliz...! Sede minha, para sempre!
Ela, encantada pelas artes e feitiços diabólicos de Samiel, a suar do abrasador calor que se fazia sentir na sala fechada, derretida nas palavras cativantes e harmoniosas, cada uma enrolada na voz aguda e maliciosa do feiticeiro…!
Acenou com a cabeça, e, envolta com os braços e o manto negro do feiticeiro, deu-lhe enamoradamente uma linda carícia nos lábios.
- Sim, meu amo! – Foram as suas últimas palavras livres, murmuradas num doce tom apaixonado!... Os seus lábios estavam tão perto dos de Samiel, o suficiente para que ela caísse nos braços fortes do poderoso e heróico bruxo, afinal, ele tinha-a salvado dum terrível demónio.
Nesse momento, ele empurrou-a de propósito para a passagem, fechando fortemente a passagem para que ela não pudesse escapar.
Não estava orgulhoso das coisas horríveis por que estava a fazer passar aquela rapariga, mas alguém tinha que o fazer, para o Bem dela e da Atlântida, já para não falar do bem dos seus bolsos, que estariam mais cheios mal Neptuno soubesse do sucedido. Talvez nem o recompensasse, mas Samiel não queria nem a glória nem armar-se num herói. Apenas desejava que aquele inimigo seu não lhe espetasse mais alguma coisa afiada no pescoço. Afinal, menos um seria para ele se preocupar…
Estava tão absorto nos seus pensamentos, que nem deu por uma vozinha irritante e rouca que o cumprimentou de súbito:
- Boas tardes, mestre! – Disse um duende com a sua voz de xarroco a escorregar nos seus próprios pés do feiticeiro, que, num momento embaraçoso, ficou por debaixo do duende.
Muito zangado, Samiel levantou-se imediatamente e lançou um olhar penetrante e ameaçador para com o seu subordinado.
Ergueu a sua garra pálida para levitar o pequeno homenzinho traiçoeiro até que este estivesse à altura dos seus olhos.
Como é que aquela inútil criatura se atrevia a interromper
- DIRLENT! – Bradou ele irritado. – Diz-me lá o que tens para dizer e depois DESAPARECE DA MINHA VISTA, seu bobo!
Uma vez mais, a voz de Samiel suou como o próprio trovão, e o espírito sobrenatural doméstico tremeu de medo.
Dirlent era o mais exasperante de todos os esbirros do Assassino do Amor, uma vez que era uma criaturinha travessa e desastrada, que adorava o caos e provocar sarilhos. Algumas vezes, Samiel perguntava-se porque é que o teria posto ao seu serviço. Ao contrário do lógico e calculista amo; o Dirlent, de pele morena e olhos verdes, com umas orelhas pontiagudas, com um sorriso matreiro, gostava imenso de pregar partidas e de desarrumar tudo o que encontrava, como por exemplo as poções e frascos do bruxo. O que o tornava, muitas vezes, alvo das experiências maquiavélicas de Samiel.
Incauto e muito curioso, ele era o menos eficiente e eficaz dos subordinados, contudo, a sua ambição desmesurada compensava a falta de inteligência, e, assim, com um saco de moedas, Samiel manipulava os poderes caóticos e maldosos do incapaz.
Enquanto estava pendurado pelo feitiço do amo, Dirlent, de apenas trinta centímetros de altura e com um focinho feio e achatado, tal como um porco, encolheu os braços escanzelados.
- Já não me lembro, mestre. – Respondeu ele atrapalhado.
Extremamente fora de si, Samiel passou furiosamente uma mão pela cara, murmurando calúnias enquanto batia com o pé no chão.
Começava a ficar farto das tolices inúteis daquele palhaço, e, por vontade própria, já o teria morto há imenso tempo. Se não fosse o maldito juramento que fizera à mãe do desgraçado no leito de morte da víbora, talvez o tivesse trespassado friamente com a espada.
Sempre imaginava uma forma perfeita de fazer a vida negra a Dirlent, o problema é que nunca chegava a acordo da qual seria a mais dolorosa e perfeita para torturar.
Além disso, o estúpido tinha-o feito perder tempo e ele, Rwebertan Samiel Di Euncätzio, odiava perder tempo!
Como quem não quer a coisa, Samiel pegou na sua boquilha e, numa questão de minutos, começou a fumar presumidamente, e andar dum lado para o outro, largando de imediato o assistente.
Dirlent, não suportando o odor terrível de hortelã-pimenta, e sendo ele alérgico ao tabaco do patrão, começou a tossir gravemente.

sábado, 19 de julho de 2008

Guerreiros Nobres ou Assassinos de Elite?...


Uma vez que este é o post do aniversário do Grito da Verdade, falarei acerca dos Feiticeiros...O primeiro nasceu das artes amorosas entre um humano e uma elfo.


Ishikawa Rafael Stanislao Edokishim Ipólito seria o primeiro feiticeiro que alguma vez a Atlântida teria visto, e talvez o mais inteligente de todos…
É um dos feiticeiros mais famosos em toda a ilha, pois foi ele o primeiro a chegar às costas atlantes, mesmo antes de Neptuno.
Vindo da família dum ervanário japonês – daí o seu apelido aparecer primeiro nos escritos de registo história atlante – e duma elfo celta, os seus poderes eram espantosos.
Era mais conhecido pelos contemporâneos por “Feiticeiro Rafael Di Ipólito”, uma vez que as criaturas mágicas não conseguiam pronunciar o nome completo.
Os seus feitos heróicos são tão conhecidos tanto na Atlântida como as desventuras do famoso Assassino do Amor.
Rafael, como lhe chamavam os amigos, era de estatura baixa, com um cabelo longo e escuro, que este prendia por um rabo-de-cavalo tal e qual uma fonte brilhante de estrelas sedosas, e uns olhos azuis pálidos de boa natureza que nem um lago à meia-noite. Usava roupa humilde, com um quimono azul-claro e umas calças cinzentas japonesas, com uns chinelos de madeira. Porém, tinha uma aparência generosa e simpática, e a sua magia apenas era usada para o bem…Fazia mil e uma maravilhas, era educado, bondoso, e, com um ar neutral, aceitava o reino de Tsesustan. Podia-se dizer que jamais houve alguém mais tímido que ele, mas a sua voz jovial podia-se escutar até na mais distante das aldeias.
Nunca quis ter a ver com guerras, por isso, é de espantar que a maior parte dos Feiticeiros Brancos fossem guerreiros de coração nobre, que deambulavam de terra em terra para vender os seus produtos e oferecer protecção a quem precisasse.
Os Feiticeiros, tanto Brancos, como Bruxos, sempre foram desnaturadamente e deliciosamente ambíguos. Por um lado, tinham um espírito orgulhoso e quase austero, por outro, eram muito hospitaleiros e generosos. Isso vinha da sua cultura dominantemente oriental, muito diferente das Fadas e dos Deuses e das outras criaturas mágicas. Ainda hoje, há o cartoon do ervanário e comerciante de mil doçuras, retratado sobre o rosto e aparência oriental de Rafael, junto, atrás das suas costas, está um Samiel, um senhor do mal ocidental com um sorriso perverso, alto, de cabelos ruivos, a esfregar as mãos de contente, enquanto o outro oferece um doce a uma fada….Isto, claro, é um exagero.
A tolerância é sempre uma coisa óptima, mas creio que, por muitos séculos e milénios que passem, os Feiticeiros sempre serão os Feiticeiros.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Jutlipa - a Prostituta das Fadas...


Jutlipa, de cabelos castanho e dourados como a mais rica e preciosa filigrana, tão pequena como um travesso esquilo e olhos azuis dançantes, seria a mensageira e isca para desviar a atenção de Samiel.
Leila, a Rainha das Nereidas e a que tinha ordenado o rapto de Eleonora para ser mais uma escrava sua, o sabia como esta nereida, uma fada de aspecto humano duma criança de catorze anos, com um peito triangular e pequeno, de olhar muito atraente, nariz pequeno e afilado, orelhas bicudas e lábios tão apetitosos como uvas acabadas de colher, era capaz de seduzir até o demónio mais empedernido e frio. O seu narizinho, miúdo qual um botão de flor, era o mais bonito nariz que uma fada alguma vez podia ter. Com asas de borboleta transparentes e brancas como a seda, Jutlipa dirigiu-se então, mais rápida do que um raio, à entrada do castelo, disfarçada de uma inocente criança humana de quinze anos.
A esperta nereida sabia como Samiel, para além de mulherengo, tinha um elevado cadastro de pedofilia. Aliás, como mais nova, maior seria o desejo e apetite sexual do feiticeiro. E, mal ele estivesse distraído, ela espetaria uma adaga nas costas do desgraçado. Tinha sido, desde criança, preparada para matar demónios, um bruxo adulto seria um desafio ainda maior. Ela sabia que estava a fazer o certo, pois ao assassinar o mais perigoso assassino que toda a Atlântida conhecera, ela seria considerada uma heroína na sua terra, lá, nos altos Alpes…Sim, esta seria a missão da sua vida. De qualquer maneira, tinha lutado muito para chegar àquela posição voluntária, não iria deixar que um castelo tão gótico como aquele a assustasse. Na ala Norte, tudo é escuro com tons azuis-escuros e frios, e uma cúpula de berço, que ilumina uma escadaria comprida de mármore preto, com cada um dos lados dos corrimões de alabastro azul-escuro decorado com figuras de tigres prateados em miniatura, de precisamente dez centímetros de altura e largura, lindamente esculpidos na melhor tradição hindu. Sobre as paredes prateadas e escuras de dez metros de altura pintadas dum papel de parede com vários lírios azuis, estão suspensas várias tochas de mogno preto, com chamas azuis a brilhar na penumbra do átrio. As cinco grandes colunas de mármore preto e branco, cada uma com oito metros de altura e três metros de diâmetro são uma decoração de ordem jónica, perfeitamente trabalhada com vários altos-relevos de cenas de batalha entre bruxos e fadas, o que arrepiava imenso Jutlipa.
Nesta sala, não existem nenhumas portas nem móveis onde nos possamos sentar, apenas uma esguia lamparina de oiro delicado de filigrana pendente duma corrente banhada a prata, dum comprimento de um metro e cinquenta, com a lamparina de cinco centímetros a baloiçar graciosamente, pendurada ao tecto da cúpula pela corrente de prata fina, que até parece milagre ainda não se ter estilhaçado no chão. A lamparina fornece-nos gentilmente um agradável e calmante aroma a incenso misturado com baunilha, com o qual relaxava um pouco a nereida guerreira.
O porteiro tinha-a deixado entrar porque a considerara uma rapariga bonita, e, além disso que agradaria provavelmente o amo.
Com as mãos escondidas atrás da túnica branca, cuidadosamente retiradas das vestes de seda que usava, Jutlipa escondeu rapidamente as suas orelhas pontiagudas e longas, com medo que algum bruxo desconfiasse dela ao ver aquele pequeno, mas invulgar detalhe fisionómico. Ainda bem que tinha ocultado suavemente as asas castanhas-escuras de borboleta, caso contrário, pensariam mesmo que ela era mesmo uma fada, excepto o tamanho reduzido de trinta centímetros. A rainha tinha-lhe preparado uma poção para que a guerreira conseguisse ter uma altura considerável dum metro e sessenta e esconder as asas.
Estava muitíssimo bonita e expansiva, com as botas de cano alto feitas de veludo calçadas até aos joelhos, com a curta saia branca de renda por detrás da túnica, tapando-lhe as coxas e o traseiro humilde, mas espevitado – tal e qual o peito, mas muitíssimo mais suave.
Com o seu cabelo castanho rebelde e solto a dar-lhe pela cinta, ela suspirou, enquanto observava um bruxo que, decerto, a iria receber…

terça-feira, 17 de junho de 2008

Capítulo 1 (primeira parte de três)


O começo do épico em prosa "A Lua dos Meus Sonhos" - escrito pela escritora Tifongirl, baseado em testemunhas, algumas fícticias, outras autênticas, acerca daquela que veio a ser uma das maiores aventuras, desde a criação do Ser Humano - é como uma lufada de ar fresco antes da tempestade. As personagens, por si, não comentam, nem criticam nenhuma das alterações que tiveram de ser feitas - e estão a ser - durante a producção do livro. Em princípio, a obra era uma tradução em Português de Portugal, feito pela fada Alice Gernnützan no Verão de 1946, com o título original de 'A Princesa, a Bruxa e o General', com o intuito de ser um conto de fadas para crianças, mas devido à censura, a ideia da publicação ficou em «...águas de bacalhau...» até agora. Adaptado para todas as idades, "A Lua dos Meus Sonhos" é um romance que, decerto, apaixonará todos os leitores a um sonho, cujas intermináveis aventuras se desenrolam uma atrás da outra. Em nome de todos, obrigado pela vossa atenção, e agora, silêncio, pois, se vai dar a primeira parte do Capítulo 1 da "A Lua dos Meus Sonhos": ....


A nossa história começa realmente no ano de 1919 depois de Cristo, num dia solarengo de 25 de Maio, precisamente a treze minutos antes das nove horas.
Num campo florido de roseiras brancas, iluminado convenientemente ao Sol brilhante, naquela clareira quente e amena, no meio da Floresta de Cristal.
Esta floresta sagrada, símbolo da paz e da Mãe-Natureza, zona atlante que cobria um terço da Atlântida, habitada pelas Fadas e por outras demais criaturas e seres, nasceria a reencarnação duma das irmãs mais corajosas e valentes de toda a Atlântida, aquela rapariga que deu a vida pela sua pátria.
Este lugar colorido e bonito, com um fresco aroma a rosas trazido pelas graciosas sílfides (as leves ninfas e fadas do ar), com a relva verdinha acabada de regar pelas ondinas – as fadas e ninfas da água, dos rios e dos lagos, com cabelos de oiro e vozes de rouxinol, a nadar calmamente numa pequena ribeira à direita da clareira – e a temperatura agradável com que as folhas dos castanheiros, aveleiras balançavam, sem nunca cair, fazendo com que os botões em flor abrissem lentamente, pelas invisíveis salamandras.
Foi em Nutus – o Campo da Juventude – que Annelina Sara, ou “Anne” como lhe chamavam as amigas – nasceu.
À medida que crescera, a jovem ninfa da terra, ou melhor a dríade Annelina – um dos bons desta história – tornava-se cada vez mais bonita e sabedora. No entanto, conservava sempre a meninice dentro de si. Afinal de contas, era uma fada da terra, e as dríades, essas lindas criaturinhas extrovertidas e brincalhonas, são as mais formosas e engraçadas de todas as Fadas.
Também foi nesse local, que, aos onze anos de idade, o seu bando de dríades se juntara ao relento para dar uma festa em honra ao seu décimo primeiro aniversário.
De opinião aberta, o que a fazia um pouco pertinente, sempre de bom-humor, muito imaginativa, mas frequentemente distraída, Annelina era muito curiosa, para além de ser bastante teimosa e desconfiada.
Porém, diante de estranhos, era um pouco tímida, educada e receosa. Era uma rapariga bastante extrovertida e contraditória, mas era mais doce do que o mel das abelhas.
Ocasionalmente, ela é que era a mais corajosa para ir à cidade mais próxima comprar gengibre, leite, manteiga e pão para as refeições da sua tribo. Annelina até nem se importava de se cruzar com alguns Cyborgs e Feiticeiros Brancos, que a recebiam nas suas bancas com sorrisos de orelha e orelha e diziam nas suas vozes meigas “Ora, o que temos aqui? O que desejas, minha querida criança?”
Ela respondia sempre prontamente, com um sorriso, meio pudico, meio travesso, com os seus grande e lindos olhos azuis a brilhar de inocência «Um litro de leite, cinquenta gramas de gengibre, cem gramas de manteiga e uma baguete de pão.»
Sendo a mais nova da tribo de Dríades Hulme Defgirtanm, composta por aproximadamente vinte mulheres, Annelina seria, sem dúvida, quando crescesse, a mais bela de todas elas!... Tinha cabelos longos e escuros, que lhe davam pelos ombros, dando-lhe um aspecto bem amoroso. Faces morenas e pequenitas e um pouco redondinhas, nariz franzino e lábios pequenos, e um corpo médio, para aí com um metro e cinquenta e cinco, e uns olhos castanhos e cintilantes reflectiam uma alma bondosa e pura duma criança.
As que não estavam a cozinhar saudáveis sopas, saladas e outros alimentos vegetarianos, com bolos de cenoura e fantásticas sobremesas à base de fruta e vegetais – que era, tudo o que elas tinham lá na floresta – preparavam os melros, os rouxinóis, os grilos e as cigarras; ou enfeitavam as árvores, os arbustos e a relva com lindos pirilimpampos a brilhar ao luar; ou, no caso mais atrevido, iam a Cyborg Town buscar cacau em pó e outros condimentos.
Annelina Sara Rós Branca raramente ia à cidade, e quando o fazia, adorava ir até lá e ver os mercados, as gentes...Ficava simplesmente maravilhada com aquelas pessoas tão curiosas e ocupadas a trabalhar. O seu melhor amigo era Isaías Qerbhat, o jovem centauro de treze anos, mercador de gengibre, que viajava por terras desconhecidas e países do oriente. Como passavam pouco tempo juntos, ela via-o como um irmão mais velho. Um divertido e aventuroso irmão que partia, de vez em quando para paragens desconhecidas e regressava um mês depois, com histórias fantásticas e cristais sempre curiosos no saco à tiracolo. E era nessas alturas em que ela lia mais. Apesar de não ter muito jeito para a cozinha e ainda estar a aprender, Anne adorava ler livros, acerca de coisas para além da ilha, e o facto de novas coisas estarem sempre a acontecer em todos os lugares do mundo ao mesmo tempo deixavam-na curiosa.
Refugiada na calma floresta, juntamente com as outras fadas da terra, ela não fazia a mínima ideia de como as cidades podiam ser perigosas! É claro que ela só tinha ido aos arredores da Cidade Perdida, na costa oeste da Atlântida, mas se soubesse que, a esta altura, os Bruxos estavam no auge do seu poder, ficaria aterrorizada!
Isto porque, os Humanos estavam a chegar quase ao limiar entre a Dimensão Mágica e o seu mundo. Isto porque, certos homens maus – não estou a definir a Humanidade em geral – começavam a ficar interessados na Magia Negra e nos seguidores de Tsesustan, os Bruxos.

terça-feira, 10 de junho de 2008

O Cavalheiro (Informação)


Tal como já te contei, o Cavalheiro é uma mistura dum restaurante, com um clube nocturno francês e um salão de dança de aproximadamente cinco andares, localizado no número 88 da Avenida Principal. Fundado em 1928 pelo bruxo parisiense Alfredo Chévrier (um indivíduo deveras bizarro, diga-se de passagem, foi preso pela Gestapo por suspeitas de ser homossexual, apesar de ser casado), inicialmente como um salão de baile com jantares e almoços, o Cavalheiro teve um sucesso estrondoso por volta dos inícios dos Anos 30.
Por volta dos anos obscuros da ocupação nazi na Atlântida, o conhecido local nocturno de entretenimento faliu, devido à séria acusação de Chévrier. Actualmente, desde ‘79, este edifício é gerido por uma entidade anónima, que financia e dá carradas e carradas de dinheiro aos empregados, bailarinas e chefes de cozinha que trabalham lá. Embora já não seja o rei dos salões ou clubes ou restaurantes de Cyborg Town, continua a ter um seu toque de requinte e elegância pelos seus brilhantes pratos típicos atlantes, e por ter as mais belas dançarinas atlantes, com o estereótipo exótico moreno, mediterrânico, do qual o General B tanto gosta. Como se isso importasse de qualquer maneira, francamente! O turismo atlante é frequentemente alimentado pelo machismo que continua a imperar na nossa ilha, e o Cavalheiro é um hotspot para todos aqueles pimbalhões mulherengos que vem lá dos USA, da Rússia e dos países do Norte da Europa, que gostam das nossas pobres adolescentes que vêm dos bairros de lata ou do inocente campo da Floresta de Cristal. Sinceramente, sempre gostava de saber quem é o desavergonhado que gere aquele antro de…De…Bom! De uma pouca-vergonha, é o que aquilo é. Com aquelas lambisgóias todas, e o maricas do Nälden lá, toda a santa terça-feira. Mas enfim, o que quer que ele queira provar, dentro do seu minúsculozinho aparelho genital, o certo é que não tem nada a ver connosco, não achas?

Em honra ao clube nocturno e salão de baile mais famoso de toda a Atlântida, o General B mandou esculpir e pintar esta estátua dos dois "Senhores Amantes da Fronteira e da Magia Negra", onde foi colocada precisamente perto da entrada do Cavalheiro. Como é que Swertyhina e Tsesustan se conheceram? Isso é outra história

domingo, 1 de junho de 2008

O Senhor do Castelo (Parte III)


Terminado o delicioso pequeno-almoço, Samiel já ia começar com as suas artes de sedução, quando Jerininantus apareceu de repente, um pouco preocupado e os olhos azuis a reflectirem um ligeiro receio.
- Senhor, caro Mestre Samiel! – Disse ele, a recuperar o fôlego. – Preciso de falar convosco! É importantíssimo.
Samiel levantou-se rapidamente, ávido e curioso por saber as novidades e o que teria acontecido na sua ausência, enquanto estava ocupado a fingir ser um homem de bom coração para Eleonora acalmar-se.
- De que estás a falar, Jerininantus? – Perguntou ele, interessado.
- Jurai não vos enraivecer. – Disse ele numa voz inquieta.
Inclinou-se diligentemente e cautela até estar ao nível da altura do patrão, e com um ar de conspiração, segredou alguma coisa ao ouvido de Samiel.
Passado algum tempo, um ou dois minutos depois, soaram algumas vozes a anunciar a vinda de Anúbis, Indra e a sua comitiva.
Samiel acenou com a cabeça e sorriu. Eleonora não tinha a certeza, mas tinha a impressão de tê-lo ouvido murmurar “Perfeito” enquanto o bandido acariciava com os dedos magros o seu tigre, que ronronava ternamente em resposta ao dono.
- Então...compreendeis porque é que eu...
O cobarde servo já ia dizer mais alguma coisa quando o sempre calmo e frio bruxo interpelou-o, levantou-se da cadeira dum salto e deu uma palmadinha cúmplice nas costas de Jerininantus.
Eleonora franziu o sobrolho, desconfiada, e tentou aproximar-se com cautela discreta para escutar melhor a conversa.
O que estariam aqueles dois a tramar?
Com um ar frio e malévolo, Samiel estalou prontamente os dedos, e logo a louça foi arrumada numa nuvem de fumo pelos fantasmas das mulheres escravas.
Depois, ergueu o olhar autoritário, para Jerininantus.
- Não faz mal, convida essa boa gente para o meu castelo, ordena que tenhamos um bom café; excelente presunto; chocolate; figos; o melhor vinho e das melhores iguarias na sala de estar. Procura divertir todos com as mais belas bailarinas e os meus pássaros musicais; mostra a todo o séquito os quartos, os jardins, os corredores. De facto, faz com que o meu Indra esteja demasiado ocupado e contente para não dar falta da nossa querida princesa. – Ordenou ele de forma calculista. – Mas, faças o que fizeres, não menciones aquilo que nós sabemos e do qual não podemos falar com gentalha divina. Entendido?
Jerininantus beijou respeitosamente o anel do seu senhor, levantou-se, fez uma leve vénia quase militar e retirou-se solenemente pelas portas principais, sem dizer uma única palavra.
A rapariga olhou com nojo e desprezo para o homem. Afinal, o que é que ele pretendia ganhar com todos aqueles jogos manhosos de “faz-de-conta”?
Obviamente que não era nada de bom, senão, ela estaria mais aliviada.
Samiel pensara mal ao julgá-la inocente e ingénua. Na verdade, ela era bastante esperta. Pelo menos era o que lhe diziam.
Então, levantou-se de braços caídos, muito chateada, com uma coragem digna duma rainha, e lançou-lhe um olhar amargo.
- Chega, Assassino do Amor! – Disse ela. – O que é que quereis de mim...?! Dizei imediatamente! Pensais mesmo que eu sou medrosa ou burra o suficiente para acreditar na vossa língua peçonhenta e venenosa, é?
Samiel, concentrado nos seus planos, nem reparou nela, e, mal a ouviu, soltou uma gargalhada maldosa, esboçando um sorriso, como uma fissura num icebergue que fez com que a desconfiada rapariga recuasse uns quantos passos.
Com a boquilha de prata presa nos seus lábios, ele sorriu divertido com o aparente desconforto dela.
Avançou lentamente até ela, e, ao ver que Eleonora finalmente tremia de medo, pousou as suas mãos gélidas e frias cobertas pelas luvas nas costas frágeis da rapariga, quase como que num gesto meigo.
- Não há dúvida que és uma autêntica filha da grande Rainha Melnjar, minha querida, esperta e pequena Eleonora. – Ela fechou os olhos, por um momento, tentando manter a paciência e evitar dizer algum insulto ou calúnia, tentando ao mesmo tempo não olhar para o atroz rosto de Samiel, que sorria maliciosamente. – Vejo que não consigo mudar a tua opinião acerca de mim. É uma pena. Talvez num outro dia, com mais tempo.
O feiticeiro suspirou com alguma leveza e olhou para o Tigre da Escuridão, que agora estava adormecido num sono profundo, deitado na carpete, como sempre.
- Não é engraçado como a vida tem certas ironias? Se eu nunca tivesse conhecido a Eris, nunca me teria tornado num dos homens mais poderosos de toda a Atlântida e jamais me aperceberia da importância do espírito. Cada vez que mato uma mulher, penso nela, naquele dia em que ela me fez....Desaparecer, extinguiu o meu corpo verdadeiro, a minha matéria, deixando apenas o espírito. E, de cada vez que eu devoro o sangue e a carne duma mulher, a minha antiga beleza de jovem anjo reconstitui-se. Claro que, da primeira vez que o fiz, pensei que iria perder tudo! Mas, foi por causa daquela mulher e daquele doloroso dia que eu percebi a importância do espírito e da forma como manipular a Atlântida, de a governar tudo e todos sem ser preciso sequer sair do castelo, com uma única e rara excepção: as mulheres de sangue prateado. Aquelas malditas das tuas irmãs são a única forma de me derrotar em combate, querida Eleonora. Mas, … tu não compreendes, pois não? Que o mundo está cheio de inimigos, inimigos que te querem…Magoar, fazer-te muito infeliz, …
Enquanto dizia isto, o manto preto de Samiel roçava sinistramente dum lado para o outro, de encontro ao chão, enquanto as suas botas ouviam-se como assustadores sinos, prenunciadores da desgraça que se poderia vir a abater sobre a Atlântida.
«Se eu conseguir induzir uma que seja a deitar-se comigo, casarei com ela, e, numa só noite, sugarei toda a sua energia vital até que esta não passe duma linda marioneta, e, aí, poderei soltar o meu espírito e usar o corpo desta a meu favor, posso ascender á mais perfeita das imortalidades, poderei livrar-me de todos os meus adversários.
Chegarei onde quiser, verei tudo e todos. Serei imparável e imbatível, até que o idiota do teu paizinho ajoelhe-se perante a minha pessoa! Tão perfeito como um deus qualquer. Aí, eu restaurarei o meu corpo ao normal e reinarei em todos os domínios atlantes que me pertencem por direito. É uma visão ideal. O problema é que o corpo e espírito dessa rapariga nunca me aceitam tal e qual como sou. É por essa razão, devoro a sua carne para me tornar ainda mais poderoso. Poder e exterminar aqueles que me desafiam e tentam cobardemente apunhalar-me pelas costas! É tudo o que me interessa.» Parou abruptamente, acabando com aquele devaneio aterrorizador. O seu rosto ostentava a mesma expressão trocista e cínica que Eleonora lhe conhecia desde criança.
Ao apagar o cigarro e acabá-lo com elegância, pousando-o num cinzeiro de cristal em forma da cabeça dum leão chinês, prestes a engolir as cinzas a queimar de incenso e hortelã-pimenta, disse:
- Claro que, para isso, tenho de aprender muito. Mas, em todos estes anos, as minhas pesquisas sobre como possuir um corpo de outrem e outras magias universais revelaram-se sempre insuficientes. Por isso, fui obrigado a admitir que preciso de uma espécie de professor. E é aí que tu entras, ò meu rostinho de ouro. Que conheces tão bem o reino dos sonhos e podes entrar na mente de qualquer um sem qualquer dificuldade. Não é por acaso que te chamaram da “Sonhadora”.
Ela virou-se friamente para outro lado, completamente desinteressada dos planos megalómanos do bruxo. Com os braços cruzados, nem reparou que o felino de Samiel acordara para estar a passear entre as pernas suaves e bem esculturais dela.
- Eu não tenho medo de vós… – Disse ela receosa, tentando não olhar outra vez para Samiel, que estava a uns perigosos centímetros do seu rosto, tão perto que ela conseguia ouvir a respiração ofegante, mas gelada dele. – É só que eu nunca trairia as minhas irmãs para fazer parte dum dos seus diabólicos truques!
Eleonora tentou escapar do tigre, mas ele era tão grande, e com aqueles grandes olhos redondos que, ou eram azuis, ou vermelhos, ela sentia-se prisioneira do bruxo!
Inesperadamente, Samiel passou-lhe uma mão enluvada pelo rosto, um gesto que teve bastantes semelhanças com as carícias de Indra.
- Não sejas idiota, minha bela Eleonora. – Disse ele, numa voz quase doce e sedutora. – Eu posso dar-te tanto...
Com as mãos pousadas cobertas pelas luvas de cabedal nas mãozinhas delicadas da ondina, o feiticeiro olhou ternamente para ela.
O brilho amoroso dos seus olhos verdes encantava, lentamente, a pobrezinha, que convencida pelas palavras suaves e queridas de Samiel, já sucumbia à sua vontade. Já não eram os mesmos olhos frios e repletos de maldade que tinham ameaçado torturar os próprios ajudantes mais fiéis. Não, eram olhos dum homem experiente e que sabia o que queria, onde o podia achar e como o fazer.
- Oh...Que palavras doces...! – Exclamou ela, aproximando-se do corpo predatório e viril do Assassino do Amor. – E que corpo robusto...Quem me dera que o meu querido Indra tivesse a vossa discrição e corpo tão forte!
De repente, lembrou-se de Indra, e teve pena dele, que não devia estar a traí-lo com aquele homem horrível! Era um namorico desavergonhado, e, ainda por cima, que vinha contra tudo o que a sua mãe Melnjar lhe ensinara.
Não podia fazer uma coisa daquelas a Indra, era contra a sua própria natureza, e, mais do que tudo, contra os seus instintos femininos.
Eleonora sabia que o Assassino do Amor ainda poderia a vir enganá-la com algum truque ou magia qualquer; porém, ele continuava a olhá-la com aqueles olhinhos tão arrebatadores e masculinos....Mais um pouco e ainda não aguentaria.
O seu coração confrangia-se um pouco, e, no entanto, as palavras de Samiel pareciam tão verdadeiras....
Suspirou, presa num complexo dilema, com a mão encostada no bonito queixo de rapariga.
Recuou mais um bocado, já livre do animal de estimação do Assassino do Amor, que agora ronronava não nas suas pernas, mas sim as do nefasto amo, que sorria para o leal tigre com um ar satisfeito.
Eleonora abanou a cara, um pouco a medo, assustada com a ideia de poder ser uma traidora aos seus pais.
- Não o faria! – Disse ela num tom hesitante.
O tabaco de Samiel veio subitamente à sua cara castiça e perfeita, num sopro, quase que o expelisse e assobiasse para o ar.
Com o comprido objecto prateado entre os dedos da sua mão direita, ele tocou levemente nos cabelos encaracolados, quase como se estivesse a brincar lascivamente com eles, e aproximou-se novamente dela, com um ar atrevido, sorriu.
- Não faríeis o quê, vida minha? – Disse ele num tom hipócrita.
- Ajudar-te e ser morta no fim! – Retorquiu importunada. – Sei muito bem que os bruxos raramente são honestos e sinceros com as mulheres.
Ele largou repentinamente o pau feito com madeira refinadamente banhada em prata, que caiu de forma inócua no chão.
Pelos vistos, Samiel não admitia ser desconfiado com tais blasfémias, e, pelo seu ar, parecia bastante irritado pela rapariga ter falado acerca dos rumores e nomes que lhe chamavam.
- Disparates! Como é que uma princesa tão inocente, inteligente e bondosa poderá acreditar em tais calúnias espalhadas por nereidas cruéis e venenosas das montanhas?! – Comentou rispidamente. – A Magia Negra nasce limpa.
E, continuou a seduzi-la com os seus encantos de aristocrata, mas, por mais que tentasse, Eleonora conseguia sempre ser fiel à sua castidade e guardar-se para apenas os lábios e braços de Indra.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

A Lua dos Meus Sonhos - O Início antes do início


Tal como muitas demais histórias, esta começa com o fabrico dum precioso e raro objecto, o qual suscita a admiração de uns e a cobiça de outros.
Este tal artefacto, de grande valor, era denominado por Lua dos Sonhos. Enganam-se aqueles os que julgarem que este material fosse uma coisa bem rica, como um diamante ou uma jóia, feita a partir dos melhores joelheiros! Não...A Lua dos Sonhos era, de facto, uma pedra preciosa, mas não era uma pedra qualquer! Concebida com uma mistura de quartzo róseo e turquesa e âmbar, esta bela gema da forma duma esfera, do tamanho aproximadamente duma noz, que cabia perfeitamente no palmo dum adulto, possuía poderes misteriosos e místicos.
Diziam, em todos os cantos da Atlântida, que, quem a tivesse nas suas mãos, teria todas as raças e criaturas da Dimensão Mágico dominadas! Como funcionaria, é que foi, desde tempos imemoriais, um dilema enigmático e intrigante...! E porquê, perguntam vocês, meus caros leitores? Ora, a razão é simples: Vulcano, o deus romano do fogo, filho de Juno e Júpiter – o pai de todos os Deuses – e deus da metalurgia.
Era conhecido como o ferreiro e artesão dos Deuses, e, assim sendo, ele trabalhava nas mais profundas cavernas do centro da Terra. Isto tudo aconteceu há mais de mil anos, possivelmente nos tempos da fundação da Atlântida, quando nem sequer os Bruxos andavam pelas terras, voavam pelos céus, ou navegavam pelos mares.
Vulcano, o único deus fisicamente feio, com um terrível ódio de morte a Marte, o deus romano da guerra e amante da sua mulher, a bela deusa do amor, Vénus, decidiu vingar-se – mais uma vez – das aventuras amorosas entre o famoso casal.
E, foi no mais escuro e quente dos abismos no amaldiçoado Vale da Morte, uma região maldita da Atlântida, que este poliu e criou, com as suas artes de magia, a famosa Lua dos Sonhos. Vá-se lá saber por que é que pobre coitado pensou numa loucura dessas!...
A seguir, com a vingança a arder no peito, dirigiu-se ao reluzente e majestoso Palácio das Reuniões, localizado no grande e vasto Deserto da Sabedoria.
Para os que não sabem, o Deserto da Sabedoria cobre toda a costa sudeste e um pouco da sudoeste da nossa querida Atlântida. Com a forma dum barco, segurado por duas extremidades em forma de “L’s” invertidos – ou seja, o Deserto da Sabedoria no Norte, a conectar a Atlântida com o continente americano, e os Alpes das Sereias a ligarem o país com a Europa – esta era a forma desta curiosa e abundante ilha.
Como já dissemos, o Palácio das Reuniões era duma grande beleza, situava-se no centro do deserto, e, rodeado grades feitas de cristal inquebrável a um raio de cem metros, o palácio, sob o modelo dum cilindro achatado com mais de trezentos metros de altura, todo ele decorado minuciosamente com cristalinas pedras. Sustido por magníficos pilares de marfim branco na ordem jónica. As incontáveis janelas rectangulares, maravilhosamente esculpidas a prata, com dimensões de três metros de altura e dois de largura, mostravam finas cortinas de seda, sem quaisquer persianas.
Separadas pelos sete frisos da sorte de oiro, que, de certo modo, pareciam enrolar o palácio, tornando-o numa bela flor em botão do deserto.
Por debaixo das altas colunas, situavam-se, em cada lado do palácio com forma de prisma cilíndrico de seis lados, estava um portão de mogno, decorado com alto-relevo clássico, representando a beleza da Matemática, Artes, Letras e Direito.
Era neste local, construído pelos filhos de Neptuno – o Rei do Mediterrâneo e Atlântida, deus romano dos Mares – que os deuses das várias mitologias se reuniam e viviam.
Aqui também funcionava uma escola, desde o primeiro ano até ao secundário, para jovens feiticeiros brancos, fadas, bruxos e outras criaturas que tinham o dom da magia.
Vulcano, ao passar pelas portas, ignorou estupidamente a divindade deste maravilhoso local, na sua infinita burrice, nem reparou que a Lenifg, ou a Sombra, uma espécie de ninfa das trevas o seguia.
A Sombra, ser das trevas, e portanto, serva de Tsesustan, o Mal Supremo, ficou muito interessada ao ver com os seus olhos azuis-claros e frígidos que um deus coxo e corcunda, de barba castanho-escuro, mas olhos muitos expressivos e cabelo desgrenhado e solto, a dar-lhe pelos cabelos, caminhava por entre aquele chão sagrado.
Felizmente que a Sombra não podia entrar no Palácio das Reuniões, apenas entrar nas imediações do território. A Sombra, se ainda não perceberam, é representada por, exactamente, uma sombra duma bela mulher, pequena, despenteada, e de top preto.
Quando quer assumir uma aparência “humana”, esta é mostrada como uma pequeníssima – exactamente de cinquenta centímetros de altura – com lábios vermelhos como o sangue dos Homens; cara mais pálida que a Lua-Cheia; braços mais brancos e magros que as patas dum gato escanzelado; mãos tão pequenas e secas quanto as patas dum corvo; cabelo negro e despenteado, encaracolado e olhos frios, inexpressivos.
Estava classificada na classe das Fadas, mas há muito que a rainha a tinha banido, pois a sua ganância e orgulho fizeram com que as suas asas caíssem mortas, no chão.
Há muito que tinha unido forças com Tsesustan, aquele que, segundo as lendas atlantes contam, é o verdadeiro diabo. Não é nem um bruxo – feiticeiro mau – nem um deus. Ninguém sabe ao certo como é que apareceu nem donde veio, apenas se sabe que é maléfico e terrível!
Uma criatura, ora masculina, ora feminina, que se esconde na escuridão e nos infernos, e que apenas se representam sob a forma de dois olhos aterrorizadores, manchados da cor do fogo, avermelhados e repletos de ódio!
Dois olhos que vêem e observam tudo...E que detestavam a bela e maravilhosa luz e Bem que emanavam do Palácio das Reuniões...No começo da Atlântida, Tsesustan, a incarnação do Mal Supremo e criatura das trevas, ansiava por destruir e envenenar tudo o que os Deuses sábios criavam.
De repente, a Sombra viu outra figura a andar, num passo acelerado, em direcção ao palácio. Escuro e alto, com uma capa a tapar-lhe por completo o rosto disforme, mal se podia dizer que era humano.
Uma voz grossa e poderosa, vinda dum homem, com um bafo sujo de há mais de milhões de anos soltou uma risada amarga.
«Amo?!» Outra voz exclamou, num tom quase ondulado e suspirado sensualmente, como o barulho do sibilar duma serpente. «Também o sentistes?»
A voz grossa, e rude, e muito sinistra, respondeu friamente. «Sim, minha querida Lenifg, o ódio corrompia a alma daquele infeliz.» O homem – ou o quer que fosse que estivesse dentro daquelas vestes negras – respirou bem fundo, soltando uma tosse seca e longa. «Conseguiste apanhar o seu doce odor: o delicioso aroma a algo malicioso e falso, minha escrava?» Disse num tom maldoso. «Sabes o que tens a fazer...Cobre aquela horrível luz com a maravilhosa escuridão!»
O vulto ergueu solenemente as suas mãos, como se estivesse a invocar, possuído, algumas forças maquiavélicas.
«ESPÍRITOS! DOENÇA! PESTE, GUERRA E SOMBRA, E, POR FIM, QUERIDA ILUSÃO!» Gritou histericamente para o céu límpido. «FAÇAM COM QUE OS MEUS INIMIGOS CAEM DE DESESPERO E DESTRUAM AS SUAS CASAS, OS SEUS BENS, AS SUAS FAMÍLIAS, O SEU PRECIOSO E PATÉTICO AMOR!...»
Debateu-se a seguir uma terrível guerra, mas, felizmente, os Deuses ganharam a batalha contra as forças demoníacas e mulheres-generais dos exércitos das trevas, que se intitulavam como Tin, Fer e Nom – Guerra, Peste e Ilusão em Atlante – todas elas furiosas por matar, contra Júpiter, Plutão e Neptuno, que triunfaram, juntamente com os seus colegas, o glorioso Consílio dos Deuses.
Houve muitas baixas, de ambos os lados, mas Tsesustan não conseguiu escapar!...
Para o seu próprio bem, os deuses aprisionaram o Grande Mal numa gruta, na mais profunda das trevas, onde, encerrado numa flecha maligna, para toda a eternidade, ficaria.
Quanto à Lua dos Sonhos, bem....Ela, na verdade foi a arma da sorte para as forças do Bem, pois, quando usada com bons intuitos, a pedra reluziu triunfalmente, e, num raio de luz insuportável para os Demónios – os servos de Tsesustan que estavam mesmo em frente das linhas de batalha – e recuaram, assustados com a Gim, a Luz ou a força interior da pedra. Houve, porém, em toda a história da Atlântida, um anti herói que usou a pedra a seu favor e a propósitos, como e quando precisasse de usar a jóia, o bruxo Rwebertan Samiel Di Euncätzio, o apelidado Assassino do Amor, cujo segredo da utilização apenas revelou à mulher no leito de morte, deixando-lhe várias pistas, para que, um dia, ela encontrasse a jóia, e ajudasse a lutar contra as Forças do Mal.
Com os Demónios banidos para a Fronteira – o lugar mais noroeste da Atlântida e igualmente tenebroso – e com o Tsesustan derrotado, o único problema dos Deuses foi esconder a Lua dos Sonhos para que mais nenhum outro mal antigo ameaçasse a existência divina....!
Qual seria o paradeiro verdadeiro da maravilhosa relíquia...?
Para que propósitos tinha-a Vulcano construído...? E estaria, para sempre, Tsesustan, condenado a ficar reduzido a uma flecha negra...? Sim, mas não a sua serva, Lenifg, que, condenada a renascer todos os séculos como uma mulher malvada e traiçoeira, tão venenosa como as cobras, e mais hipócrita e falsa que um crocodilo, fora incumbida de recuperar a Lua dos Sonhos para o seu senhor, e que, com a sua caixa de mil males, uma vez em cada cem anos, Lenifg libertava todos as forças do Mal sobre a Atlântida, atraindo-as com os seus olhos demoníacos e maléficos…!

segunda-feira, 12 de maio de 2008

O Senhor do Castelo (Parte II de III)

Quando, por fim, ele se viu a sós com a rapariga, ele olhou-a com um ar encantador.
- Vamos comer qualquer coisa? – Perguntou, numa voz que podia passar por gentil, e estendendo uma mão a Eleonora, que ela não aceitou. – Então, Princesinha? Não é preciso teres medo de mim, de momento, a única coisa que eu estou interessado em provar é o meu pequeno-almoço normal. Podias esquecer as nossas divergências durante algum tempo e tomar qualquer coisa comigo. Afinal de contas, depois de um mês sem comer absolutamente nada de jeito, deves estar com muita fome, não é?
Eleonora sentiu uma onda de irritação e ultraje a invadi-la, mas expulsou-a, rapidamente. Precisava de estar calma e pensar claramente, e, logicamente, não conseguiria fazê-lo de barriga vazia. Para além do mais, pelo que tinha visto daquela demonstração de raiva do senhor do castelo, ele parecia ser bastante cruel e severo para com os seus escravos!
Deu a mão ao Assassino do Amor, como se toda aquela confiança fosse normal e aceitou o convite dele.
Logo que viu que ela estava segura que não lhe faria mal, Samiel assobiou alto cinco vezes e em cinco segundos, apareceram, vindos de uma porta escondida através dum retracto do pai do senhor daquele castelo, a levitar assombrosamente, dois tabuleiros com três pratinhos de porcelana dispostos em cada ponta, cada cinco fatias de pão quente, acabados de aquecer. Uma baixela de mousse de chocolate veio logo, juntamente com uma jarra de cristal, com sumo de laranja.
Mal desse conta, já toda a comida estava pronta e posta na mesa por aqueles criadas invisíveis, que não passavam de fantasmas das muitas raparigas que o terrível Assassino do Amor matara, apenas com um feitiço muito difícil e complicado fora possível tornar o ectoplasma destes seres deprimentes de forma a que não se visse.
- Desejas um pouco de açúcar e chocolate no teu leite, Eleonora? – Perguntou ele, naturalmente, numa voz simpática, como se fosse normal que uma ondina, ainda por cima uma filha de Neptuno, tomasse o pequeno-almoço com um terrível e maléfico bruxo.
Lambendo os beiços de satisfeita com a torrada com manteiga que tinha comido com grande apetite, a rapariga anuiu timidamente.
O que é que ele queria...?
Estava com algum medo, e era natural. Afinal, ele estava a tratar-lhe como uma igual, e isso era raro na personalidade arrogante e egocêntrica de Samiel.
Por que é que ele não a desprezava, ou dizia coisas vergonhosas a seu respeito...?
Seria muito mais fácil aceitar essa realidade do que a que estava a viver realmente; e, apesar de ser corajosa, só esperava que Indra e Anúbis viessem o mais depressa possível para a irem buscar!
- Sim, pode ser. – Disse ela, nada nervosa.
- Muito bem. – Disse ele calmamente.
A seguir, olhou para o açucareiro e para a baixela de prata e chamou alto, fazendo sinal para eles se aproximarem:
- Açúcar e Chocolate! Venham cá.
Eleonora nem pude acreditar quando a baixela e o açucareiro ganharam vida de novo e levitaram alegremente, quase como crianças irrequietas, até ao copo do gentil anfitrião, que agora, nem parecia o mal-humorado feiticeiro de pedra que há pouco tempo mandara os seus lacaios embora.
Ele sorriu levemente e abanou a cabeça, resignado e, com uma cara que podia passar por a dum homem compreensível.
- Não! – Riu-se honestamente. – Sirvam a nossa encantadora convidada primeiro, minhas chinesinhas incompetentes. Já deviam saber isso.
Num momento inacreditável, ele deu um beijo suavemente na palma da mão da princesa, e acrescentou, num tom gentil:
- Nem que procurassem em todos os cantos do Universo, mulheres idiotas, conseguiriam atingir a beleza e castidade desta adorável e nobre menina.
Eleonora sentiu-se profundamente revoltada e dirigiu o olhar para outro lugar que não o rosto de Samiel.
Ele admirava-a!? Como poderia ser lá isso, se ele detestava todas as Fadas, Deuses e tudo o que fosse benéfico e divino?!
Estava a acontecer tudo como no caso de Eris e do Assassino do Amor…E, no entanto…Não! Samiel nunca era honesto.
As mãos invisíveis dos fantasmas pegaram cuidadosamente no açucareiro e na baixela, estenderam-nas de forma silenciosa até ao tabuleiro de madeira da rapariga.
- Diz-lhes que chega quando não quiseres mais, Princesa. – Aconselhou Samiel com um ar bem disposto. – Depois de acabares o leite, gostaria imenso que me acompanhasses num passeio pelo meus domínios e tivesses uma palavrinha comigo...
Eleonora apenas cruzou firmemente os braços; bastante aborrecidos e retorquiu num tom de desafio:
- Ah, sim! Pois, claro. Eu gostaria imenso de falar com um bruxo velho, feio e mau como vós, ò arrogante e fantasioso Assassino do Amor!
A ondina esperava uma ameaça ou insulto horrível por parte do feiticeiro, mas ele, em vez disso, bateu palmas entusiasmadamente.
Com um sorriso, bebeu um pouco de Frambinam rapidamente, engolindo de forma muito perturbadora a bebida alcoólica.
- Bravo, Eleonora. – Disse ele satisfeito. – Afinal, também consegues ser sarcástica.
Por esta altura, já a princesa começava a ter dúvidas se o Assassino do Amor realmente era um monstro sádico e sedento de poder ou um bruxo com um coração de manteiga.
As faces de Eleonora coraram de pudor, enquanto bebia o leite com ambas as mãos nervosas.
Engoliu duma só vez o doce leite, que tinha um aroma divinal a pêssego e canela, com o qual ela ficou quase que relaxada e olhou para os olhos verdes de Samiel, escondendo timidamente as mãos debaixo da mesa.
- Desculpai se foi isso que as minhas palavras vos pareceram. – Disse num tom defensivo e humilde. – Não queria, de maneira alguma, ser admirada por vós.
Ele estava a ser tão simpático e querido para ela...! Não podiam haver dois homens no mesmo corpo! E isso, assustava-a imenso. Ainda mais do que o próprio aspecto dele. O facto é que com ele, tudo era imprevisível, ele nunca fazia o que realmente se esperava da sua parte. Era esse o terror que o perverso Mestre Samiel influenciava nas pessoas: não há nada mais assustador do que não saber o que é que o destino nos reserva...!
Para além de Indra e dos guardas, ela nunca tinha visto um homem a sério em toda a sua vida – muito menos um bruxo – o que a mantinha numa posição ainda mais ingénua e ignorante. Apesar de demonstrado ter muita fibra e valentia, estava com receio que Samiel a pudesse apanhá-la nas suas garras.
Foi obrigada a admitir que ali, ele era o senhor, e ela, apenas uma mera rapariga, que Samiel poderia muito bem assassinar num piscar de olhos, ao virar duma esquina, e ela, neste caso em particular, estava em desvantagem.
Quase que virando o leite, aceitou a proposta com um anuir humilde da cabeça, mas lançou-lhe um olhar desconfiado.
- Só depois de me prometerdes que não tentareis violar-me. – Um sorriso de desafio apareceu de repente no rosto de Eleonora.
- Isso será uma promessa difícil de cumprir, minha querida. – Respondeu o bruxo, retribuindo com um sorriso matreiro, mas um pouco levado na brincadeira. – Mas não te preocupes, que eu não te quero fazer mal, és a minha convidada, afinal de contas.
De súbito, ela deu – por sua própria vontade – um beijo brincalhão no rosto desfigurado do bruxo, com um sobrolho levantado, mas com um sorriso amarelo nos lábios femininos.
Seria…?