sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Claudinitiana e o Senhor Uukeshet

Ano 152 antes de Cristo, Cidade dos Deuses, Capital da Bellanária 


Claudinitiana do Clã Klau-Klau-Aohome fez saber aos Conselheiros de Suryadevnahutbal que ela mesma iria encarrregar-se de encomendar as flores de Shunrasen para o Primeiro Aniversário da Sétima Princesa. As flores do Arquipélago de Shunrasen eram das mais belas que a nobre poderia alguma vez pensar, desde as flores de Hibisco, mangas-rosas, maracujá até às jasmim-manga que cresciam perto das bananeiras. Seriam um excelente augúrio para o primeiro aniversário da Princesa Sarvahdinada.

Era um milagre que uma criança Humana amaldiçoada com o ódio das Seis Tribos tivesse sobrevivido os doze meses solares do ano 152 antes de Cristo. Peléena já tinha muito com que se ocupar, a enviar cartas de desculpas aos senhores tubarões dos clãs Nortenhos.

Como se isto não bastasse, Claudinitiana deu por si a pensar que a manhã do primeiro mês do Ano Lunar não poderia estar melhor... A sua janela era de uma mansão Humana do Districto “Dos Peixes”. Contudo, a vista era suficientemente larga para que ela visse o mar a uns poucos quinhentos metros de distância. Tinham instalado uma piscina com sete metros de profundidade com água aquecia, limpa e salgada. Claudinitiana nunca sentia saudades do mar...

Sabia que aquela vivenda era mais uma prisão que os Conselheiros de Suryadevnahutbal tinham arranjado. Contudo, era como dissera a Peléena Atzara:

« Não há um dia que não ofereça um sorriso aos Atl-Náhualli que vivem nesta cidade de Humanos... Não podemos deixar que o ódio tome conta de nós...! »

Depois de viver na Cidade dos Deuses durante (quantos anos? De certo que seriam mais de vinte) muito tempo, Claudinitiana seria capaz de jurar qualquer pessoa normal sente uma espécie de ansiedade solene ao ouvir o relógio do Templo dos Peixes...

O Pai trouxera-a quando ela ainda tinha dez anos segundo o calendário lunar, para “conhecer melhor os Humanos e servi-los numa posição favorecida”. Era um eufemismo para as ´varias tarefas” que teve de desempenhar como aia de companhia de Eris.

Enfim, tinha de arranjar o papel resistente para mandar uma carta aos Ajaw de Shunrasen. O problema é que o fabricante Atl-Náhualli que o fabricava com a maior dedicação fdugira depois da Noite da Magia Negra. Teria de ir ao districto onde estavam os comerciantes Gemmyarkan.

Mordeu com os dentes serrilhados de tubarão os lábios carnudos, aparentemente típicos de uma Humana... Empurrou as pernas  Humanas, frustrada, ao calçar os sapatos de musselina e algodão de uma cor acinzentada. Fora tão habituada ao luxo de deslocar-se numa carruagem, das roupas humanas frívolas e opulentas de uma dama aristocrática que ficava irritada ao usar aquele saree acastanhado, frugal, com um casaco de lã a cobrir os braços suaves.

Conseguia ouvir o trote insano, selvagem de uns rapazotes, aprendizes da escola militar do Exército Imperial Humano, a apressarem-se para Suryadevnahutbal.

Tossiu, incomodada com o pó que eles erguiam. Os Atl-Náhualli da ilha controlada pelo pai, líder dos Klau-Klau-Aohome, nunca seriam capazes de lhe fazer tal coisa! 

Mesmo assim, ela gostava daquela cidade.

« Assim que conseguir reactar as relações diplomáticas com o Imperador Humano e os Ajaw Atl-Náhualli de Shunrasen, irei usar uma vez mais casacos de pele e sedas...Esta cidade tem crianças saudáveis que não lutam umas contra as outras, esta cidade não tem escravos, esta cidade é tão calorosa...! Nada como a cidade do meu Pai... »

Suspirou... Talvez nunca se habituasse às conservadoras Ilhas de Shunrasen!