segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A Estátua da Vingança



Há muitos anos que eu já estou aqui, neste pedestal de pedra e de jade esculpido, perto do Poço das Três Bisavós da Senhora Murakami, perto da Praça dos Nove Gritos. Chama-se assim porque se supõe que foi aqui que a minha mãe, a Rainha Kalkashanta morreu ao dar-me à luz. Estou sempre habituada a ver os humanos a passearem por aqui, mas eles quase nunca me cumprimentam. Quando era mais nova, isso sim eram pessoas respeitadas, os homens. Tremiam, faziam vénias, com as suas mãos, beijavam a minha cauda de serpente e tudo! Agora sou apenas uma estátua de jade pintada, esquecida no meio de uma praça cujo nome raras são as pessoas que percebem o significado. A minha cara fria penetra bem dentro do seu coração, tenta adivinhar o que estarão elas a pensar sobre mim, e sobre os meus olhos amarelos de serpente. Mas ninguém quer ouvir o que uma estátua tem para dizer. A minha pele gelada de jade quase que não sente aquilo que alguns rapazes costumam fazer quando me atiram bolas de neve. Não sabem quem é que eu sou. Há coisa de poucos duzentos anos, costumavam haver pequenos rapazes que, por esta altura, colocavam oferendas em minha honra e enfeitavam o meu quimono de seda japonês e o meu roupão e túnica bellante de couro dourado com fitas brancas e azuis-claros. A representação da pessoa de quem eu era em vida, e da criatura magnifica, da inspiração que eu tinha sido para muitos dos habitantes do Norte – era algo que os fazia arrepios e ao mesmo tempo, uma sensação de protecção inigualável. Eu era a única pessoa que conseguia fazer frente ao Assassino do Amor, chinês maldito. Nós, as serpentes, somos como filhas da natureza: mesmo mortos, temos um pouco de alma para pensar, para ter olhos, para olhar para os Humanos. Os meus lábios, já gastos, outrora pintados em bétel, eram belos, e todos os homens tanto me temiam, quanto me amavam. A Senhora Murakami era uma amiga do meu peito, ela fazia sempre uma curta vénia e dava um ligeiro sorriso sempre que me via. Ela era uma filha da neve, ela sabe o quanto eu sofro. O meu cabelo, longo, negro tal como as penas dos corvos, costumava ser o mais invejado por todas as criaturas femininas. As mulheres humanas costumavam olhar-me com um lampejo de medo nos seus olhos. Afinal, que sou eu, senão a irmã gémea de Shamanarta, eu, Rusalka, a Rainha das Nagas?! A minha irmã simboliza a serenidade do Verão, eu sou o início da Primavera. Os humanos a quem os bellantes chamam de Russos puseram-me o nome de uma famosa fantasma eslava.



Quando soube deste tão insultuoso evento, fiquei com vontade de me agarrar ao rapazinho de cabelos de avelã que trocou a minha linda placa que tinha o meu antigo nome em japonês por um nome sei lá de onde veio. Que vergonha, agora já nem sei qual é o meu verdadeiro nome. Seja como for, eu não gosto lá muito do clima do Verão, muito menos o da Primavera. Prefiro o Inverno e o Outono, com as chuvas, a neve – oh, que coisa tão bonita que ela é, a cair ao pé do meu pedestal, enquanto os Homens morrem, estafados nos seus casacos pesados de pele de animais. Eu cá não me importo de os ver, eles é que nem dão pela minha presença, principalmente no Inverno. Se olhassem para os meus olhos, diriam que eu sou uma filha da neve, mas eu cá, sou mesmo uma filha de Jetwas, uma filha e uma irmã, escrava e rainha! Numa das minhas mãos, eu seguro um bastão de ouro – ou pelo menos, costumava ser feito de ouro, agora acho que é mais de bronze ou de ferro ou de outra coisa que substitua estes metais.



Quando eu era nova, costumava cantar nos grandes cabarets de Cyborg Town, quando os meses da Magia Negra chegavam. Quando eu era nova…Enfim, era tudo diferente. Os Invernos duravam mais tempo, os Verões eram mais curtos, e o meu corpo esticava-se sobre rapazinhos indefesos.


O meu corpo alto de mulher era atraente, todavia, ai de alguém que se esquecesse que a parte inferior era de uma serpente. Os meus quatro braços envolviam falsamente, com um ar tentador, aos jovens feiticeiros.



Antigamente, eles tinham medo de mim. Agora, ninguém olha para os meus lindos olhos amarelos, que conseguiam fazer com que uma mulher humana soltasse um grito de terror!



Em cada uma das faces, eu tenho uma bola vermelha pintada, para condizer com os meus lábios da cor do sangue. Com o umbigo e as ancas à mostra, eu desafio Jutierkajam, o grande deus águia demoníaco das tempestades e do mar revolto.



Não que eu me importe muito com isso nos dias que correm. Com os Russos a chegarem que nem baratas à nossa ilha, eu não tenho tido visto nada senão homenzinhos convencidos que julgam saber tudo sobre a vida. Já para não falar nos Nazis, que quiseram deitar-me abaixo, os idiotas!



Se eu pudesse, dava-lhes um enorme puxão de orelhas! Ah, mas eu não vou permitir que me tirem do meu querido pedestal, me dispam das minhas queridas roupas envelhecidas pelo tempo e que me partem em bocadinhos, como fizeram a outras figuras divinas. Afinal de contas, sou uma bellante, e vocês sabem muito bem o que é que se diz sobre as mulheres bellantes: “Quem quiser fazer troça de uma mulher das ilhas, é melhor que corra a milhas depois de a ter traído!”



Contudo, hoje estava tudo muito calmo. Um Kolmanatry de origem judaica parecia estar a tocar uma bela sinfonia, perto dos campos dos Von Tifon. Gosto imenso dos Kolmanatries. Eles não são como a maior parte dos humanos, eles conhecem a Mãe Natureza. Eu ouvia atentamente a sua melodia, e, pouco a pouco, senti-me como nos velhos tempos em que estava viva.



Aquele jovem rapaz humano decerto tinha um talento especial com o violino! Nunca tinha visto ninguém a tocar tão bem um instrumento, a expressar os seus sentimentos poéticos aos elementos, às cerejeiras em flor…E eu vi-o com os meus próprios olhos. Reconheci que era logo um judeu por causa do seu nariz grande e curvo, e da sua cara pálida…Tal como a neve!



Era belo, tão belo quanto o próprio Assassino do Amor, o meu eterno inimigo! Subitamente, um velho instinto impiedoso de matar invadiu a minha eterna alma! Aquele homem tinha uns olhos esquisitos, uns olhos semelhantes ao do antigo feiticeiro chinês que eu tinha enfrentado há milénios atrás.



Ele tinha matado várias mulheres da minha espécie, e eu tinha congelado de morte e de medo muitos dos homens dele.



Tínhamos, sem sombra de dúvida sido inimigos um do outro em vidas passadas. Ele, o Diabo dos Infernos, eu, a Mulher Serpente do Inverno e do frio do norte. Senti uma vontade de o estrangular com as minhas garras eu própria! Porém, eu não podia fazer nada, estava pregada àquele maldito pedestal.


Era a maldição que Samiel tinha arranjado para me manter quieta. Já que eu era da classe dos demónios, ele tinha que me manter presa em algum sítio. Escolheu, portanto, aprisionar-me numa estátua de jade pintada.


Mas enfim, não quero alimentar mais o meu ódio que tenho por aquele homem!



De manhã, fiquei mais calma quando o nosso Senhor de Quem Somos Todos Escravos passou por aqui. Subitamente, escutei gritos vindos do Château von Tifon. Que se passava ali…?



Eu sabia que aquele grito era da neta da Yui, mas nunca pensei que mais desgraças viessem a ter encontro àquela pobre e pura princesa!



Tentei cheirar com o meu pobre e fino, pequeno demais, nariz, o ar frio do vento, mas, repentinamente, tornou-se quente. Sua Senhoria estava a dar uma maldição àquela rapariguinha mestiça.



É claro que não era nada comparado com aquilo que me tinha acontecido a mim! Aquela princesa ia ser capaz de o ultrapassar...



E o facto é que, numa questão de minutos, eu já não escutava mais o ar seco do calor insuportável. Chuva. Estava a chover… A chuva lavava todos os meus problemas. Fiquei com os olhos um pouco salteados de lágrimas, mas não me importei. Desde que o antigo ducado ficasse mais fértil e as frutas mais maduras que nunca.



domingo, 10 de outubro de 2010

A Bela Fragrância e Azul Esverdeado





As escarpas dos maiores picos eram bem definidas pelo cor-de-rosa do crepúsculo, formando lindas gigantescas rosas como única paisagem, e, bem no fundo, na beira do precipício, as fantásticas quedas de água do Rio Bênção, cujas margens estavam cobertas de um manto verde e fresco, colorido pelas luzes românticas da madrugada, formando um lindo cenário natural. Estávamos no pique do Verão, porém ela agachava-se bem quente sobre o manto verde-escuro, escondendo, com inocência, a sua carinha amarela e pálida.


Havia uma certa magia em todo aquele sítio que a fazia sentir-se bem, tudo era tão inclinado, e apesar de ver perfeitamente que aquele caminho era o mais perigoso até à Bellanária, com apenas a uns centímetros de uma queda de cem metros até aos poderosos rápidos, que corriam violentamente contra os penedos e rochas duras que esculpiam o cenário do desfiladeiro que constituía o leito do rio. Nunca, em toda a sua vida, ela tinha visto tamanha força num só rio!... O poderio e majestade dele fascinavam-na tanto que nem reparava no irmão mais velho, que olhava de relance, desinteressado, para a janela.


Quing viu que os seus brilhantes olhos verdes se espelhavam bem lá no fundo do desfiladeiro, e lhe davam um ar brilhante azul esverdeado aos seus cabelos escuros. Fen Li era uma rapariga muito jovem e interessante – era óbvio, era a sua irmã – e com os seus treze anos, poderia muito bem ter arranjado o melhor dos maridos, com aqueles cabelos de lótus negro, penetrando bem dentro do seu coração. Ela era suficientemente simples – uma miúda de campo nunca é inteligente, segundo os princípios dele – para que um senhor de guerra a aceitasse como principal mulher. Mas, tão pouco seria assim tão ingénua quanto belo era o novo visual do novo lar deles. Era inteligente, era, porque sabia demasiado bem como falar Bellante, como também conseguia preparar óptimos cozinhados. A jovem escrevia como ninguém, e, para ser realmente franco, ela era muito melhor espadachim, cavaleira e guerreira do que ele próprio.


Quem lhe dera que não fosse tão lógica, tão forte, … Mas ela era assim; mesmo mais nova do que ele uns bons três anos, Fen Li estaria sempre a um passo à frente dele.




O cocheiro parou de repente os cavalos alados numa saliência, numa espécie de planalto de granito, onde se podia avistar um vale grande e inóspito, por onde o rio era desviado até a uma gruta, suficientemente enorme para o engolir, até às Florestas de Cristal. O ar ali era rarefeito, mas muito mais puro do que na capital, e, por isso, os ciprestes formavam uma muralha natural até lá. Ainda se podia apanhar o cheiro a laranjeiras e framboeseiros que de lá vinha. Era realmente um cenário lindo, pensou Quing enquanto ponha as mãos sobre os bolsos da túnica oriental, dirigindo os seus olhos para o vale, aspirando profundamente o cheiro a eucaliptos.


O cocheiro, com o seu quimono simples, arrastou a jovem rapariga até si, mas, os olhos verdes e rasgados do irmão mais velho apareceram sobre ele, como duas lanternas no meio da madrugada, e rapidamente, o velho cavaleiro japonês fez um gesto com as mãos.


- Jovem mestre Quing, eu não queria desonrar a vossa irmã, de maneira alguma, ela é mais do que uma formosa obra de arte, é uma espectacular obra de arte viva! – Exclamou, ardentemente, o cocheiro, recuando servilmente.


- Sim, mas não sereis vós quem há-de a ter como esposa, velho ronin deserdado, vagabundo! – Cortou friamente o irmão, contendo a espada na bainha.


Imediatamente, Fen Li interveio, preocupada, aproximando-se de ambos os dois, pondo uma das mãos de fora do manto verde-escuro, revelando um pouco da sua linda túnica azul-claro, que adelgaçava as curvas das suas ancas, desenhado através de seda, e com lindas, graciosas linhas douradas, de peixes e de dragões verdes. Os bracinhos estavam ocultos por detrás das longas, delicadas mangas, e os seus olhos negros brilhavam sobre a manhã fresca, como duas oliveiras.


- Por favor, honrado irmão. – Disse ela, serenamente, na sua voz de rouxinol, o cabelo estava apanhado por umas duas tranças lindas, que faziam ainda mais belo o seu rosto. – Temos de continuar, ou quereis derramar ainda mais sangue do que a nossa mãe quis?


Ao som em Chinês da palavra “Mãe”, o jovem aprendiz de guerreiro calou-se, em silêncio, porque sabia, sabia muito bem porque é que a mãe lhes tinha mandado para ai. Um arrepio passou-lhe pela cara, e lembrou-se de como a mãe tinha sido generosa ao enviar-lhes ao cuidado de um tio que nunca tinham conhecido em toda a vida. Estava habituado a ter parentes em sítios que nem sequer faziam parte das rotas migratórias chinesas. O que tinha sido combinado entre a mãe e o vagabundo samurai era que caso os miúdos não quisessem ir para a Bellanária, ele teria o direito de lhes trazer até à Fronteira, a Terra dos Demónios. E não estavam assim tão longe do caminho para o sinistro reinado de Tsesustan. Temia pela irmã, e temia também o que é que lhe poderia acontecer se o Deus do Mal lhe pusesse os olhos em cima.


Apenas rezava que tal desgraça nunca acontecesse…!


Acenando que sim com a cabeça, ordenou ao Cocheiro para que lhes transportasse até Cyborg Town, onde o desfiladeiro ficava mais largo, para que os rápidos acalmassem. Fen Li, por uns momentos, enjoo, quando o desceram uma escarpa, de maneira súbita, mais veloz e abrupta que um relâmpago, tão sibilante quanto o rugido de um tigre. Mas logo Quing acalmou-a, protegendo-a com os seus braços. Adorava-a, e jamais permitiria que algo de horrível lhe acontecesse.


domingo, 3 de outubro de 2010

Uma nova vida espera-a....


Antes de vos contar a história de Fen Li e de Quing, tenho de vos dizer o que aconteceu com Eleonora....





....tal como disse anteriormente, as versões dessa história variam muito....alguns dizem que ela engravidou do Assassino do Amor, outros dizem que ela fugiu, outros dizem ainda que ele matou-a sem qualquer pingo de piedade.


Seja como for, depois de Eleonora, nunca houve outra mulher que incendiasse nunca mais o coração gelado do Mestre Samiel.


Só para resumir as coisas, a nossa jovem Princesa, filha dos Reis Humanos da Bellanária, passou sete noites no castelo do seu "protector". Durante as seis primeiras, nenhum dos servos ou bruxos que habitavam naquele castelo suspeitaram das grandes jogadas de sedução e das tentativas falhadas que o senhor deles fez com que acontecesse. A rapariga era tão resistente que ele não conseguia, de forma alguma, deitar-se com ela.


Contudo, a sétima noite foi diferente das anteriores. Ao fazer ternamente carícias e a pousar lentamente os lábios em cada ponto do corpo indefeso da princesa, o temível bruxo descobriu que ela era sensível a esse ponto. Que ela se deixava derreter pelos sentidos, e não pelas palavras. Ele, o homem alto com mais de um metro e oitenta, segurava-a nervosamente nos braços fortes, com um olhar quase incrédulo, pressionando e mostrando os seus sinais de excitação de encontro com o corpo dela. Mesmo assim, a jovem de cabelos encaracolados e castanhos ignorou os chamamentos apaixonados que ele lhe fazia. Eleonora era diferente, não se deixava hipnotizar tão facilmente como as outras, não tinha medo daquele homem.


Meio desesperado, ele lá ouviu o que ela tinha para dizer, e agarrou-a com força pelos cabelos, à medida que as palavras dela saíam, fluentemente, em chinês. Porque é que as princesas bellantes tinham de ser assim tão perfeitas?... Tão aristocráticas?! Os instintos masculinos dele diziam-lhe outra coisa. Os lindos lábios dela continuavam sérios e frios, enquanto os olhos dele não conseguiam resistir ao feitiço. Afinal, era ele quem estava enfeitiçado Ele tinha sido atingido pela flecha do Desejo...Amor...há quanto tempo não escutava aquela palavra!... Há quanto tempo que não tinha uma noite daquelas...


Quanto à jovem princesa de dezasseis anos, ela não sabia o que se passava consigo própria. Tinha tentado fugir dele, mas, por mais que tentasse, não conseguia dizer que não...


Passado o tempo do conto, as palavras quase que lhe saíram de repente, agarrada com o colo nu sobre as pernas grandes do homem, ela viu não um vilão, mas um homem pleno em virtude e rodeado de vários inimigos.

Com a roupa interior cor-de-rosa a roçar no tronco forte dele, ela murmurou gentilmente:


- O que achastes da minha história?


Por fim, ele roçou ternamente os lábios nos lábios dela, e os lábios de Samiel sabiam a hortelã-pimenta gélida e queimada. Esta sensação de inferno assaltou de imediato todos os poros da rapariga, mais corada do que o costume, ao escutar o pulsar sedutor do coração do feiticeiro, a respirar de êxtase.


- Foi maravilhosa! - As garras do feiticeiro alongaram-se até chegarem à cintura frágil da princesa, e a voz aguda e ameçadora de Samiel era agora um cicio falsete e quente. - Agora, minha pequerrucha: deixai-me contar-vos a minha história!


Rapidamente, com uma força incrível, quebrou as correntes que aprisionavam a jovem à sua virgindade. Por fim, Eleonora cedeu cegamente às bizarras fantasias sexuais do seu senhor e beijou-o furiosamente, como se ambos se tocassem entre as chamas da paixão. Ela estava a sentir-se tão bem, e naquela altura, pareceu-lhe que o homem tinha descortinado o véu que o separava dela, para enfim serem um. Um sorriso voluptuoso brilhou no formoso rosto da princesa humana. Porque é que o prazer não deixava de desvanecer no estreito abraço do terrível Assassino do Amor? Porque é que agora, o desejava perto de si?


Embora a mente quisesse gritar por socorro, o corpo continuava a ansiar pelos beijos e pelas carícias e pela voz maviosa do Assassino do Amor. Queria dar-lhe um estalo na cara, queria fazer com que a sua voz gritasse aos sete ventos que estava a ser violada por um malvado, mas as mãos não cediam, e a voz não lhe saía da boca, a não ser que fosse apenas para soltar gemidos estranhos. Mal olhasse nos olhos de Samiel, as suas coxas abriam-se à sensualidade! Mesmo que tentasse gemer, o Assassino do Amor silenciava-a, mergulhando ambas as línguas numa virilidade impressionante.


Cada vez que ela soltava um gemido, mais fundo ele ia! Estavam agora unidos, naquele estranho laço de amor e desejo, e ela queria sentir mais uma vez, aqueles líquidos a entrarem para dentro do seu corpo! Lágrimas rolaram pela cara mal o seu corpo acabou de ser profanado. O templo que ela mais estimava, arruinado e destruido, mas decorado com um estranho aroma a pêssego e a maracujá...


Em breve, o Sol já resplandecia uma vez mais sobre a camada azul-celeste. Samiel, adormecido com a pesada cabeça sobre o peito lindo da formosa fada, dormia profundamente, e o seu sorriso confirmava uma sensação de paz que jamais o Castelo Negro tinha antes experimentado. Por umas raras e preciosas horas, o severo senhor de temperamento sádico esteve feliz.


Aquele sorriso de orelha em orelha, nunca visto, desapareceu tão incrivelmente como veio quando ele acordou pelas lambidelas do seu inseparável tigre da Sibéria. Ele reparou que ela tinha os olhos fechados forçosamente e assustados. Iria fugir...? Aquela voz de anjo fora um sonho, e talvez já a tivesse matado...Nem ele próprio se lembrava. O mais estranho de tudo aquilo é que ele nem sequer se lembrava de ter sugado a energia vital àquela rapariga. Subitamente, algo de surpreendente aconteceu, algo que ele nunca tinha previsto: num ressalto, ele beijou apaixonadamente o rosto pálido da menina pálida, mas desta vez, não foi nos lábios, mas sim na testa.

«A minha Princesinha...» Samiel murmurou, amargamente, começando a soluçar, com a sua voz de um jovem caprino. «Matei-a...? Que fiz eu...?!» Cheio de remoros, tentou recordar-se do que ele tinha feito antes de ela lhe ter contado aquele maravilhoso conto. Tinha-lhe soprado um pó...


Era veneno, que actuava dentro de vinte e quatro horas, caso ele começasse a sentir algo por ela. Logo, aqueles sentimentalismos desapareceram. Lembrou-se do facto de Eris lhe ter dito: «Tu nunca tens tempo para os sentimentos...» E era verdade. Tinha sido a sua querida família, os seus amigos da China que lhe tinham ensinado isso.


Obviamente que Eleonora sentia um inevitável amor por Samiel, por isso é que se tinha submetido a tudo pelo que ele a fizera passar.


«Infelizmente que eu não...» Riu-se cruelmente uma vez mais. Com as mãos sob o seu manto de dormir, chamou os fieis servos dele:


- RAPAZES! Preparem o pequeno-almoço...!


Dito isto, soltou aquela gargalhada sinistra inconfundível que qualquer habitante da Bellanária reconheceria: a gargalhada aterradora e maléfica que o Assassino do Amor soltava quando acabava de matar uma rapariga inocente.


Jerininantus foi de imediato até ao quarto onde o seu senhor estava a trautear uma antiga música chinesa.




sexta-feira, 24 de setembro de 2010

James Dark Sword - criança no corpo de um homem


"....Se alguém merece um pouco de esclarecimento, esse alguém é o James Dark Sword. Possivelmente, esta é a única pintura ou imagem que encontrei dele sem aquela máscara de porcelana, em que apenas se vê os lábios dele, e mais nada. Não se sabe quem é a criança que corre a fugir dele, mas o cabelo dele - segundo o que dizem as pessoas - pode muito bem ter escurecido para revelar-se ruivo. Dark Sword era, pelos vistos, uma criança de olhos verdes-escuros e uma camisola negra à marinheiro, com umas calçinhas pequeninas e uns sapatinhos vermelhos. Não mudou absolutamente nada.

É por isso que eu não gosto nada dele, é um pouco para o maluco. Um feiticeiro que se fosse parecido com o Assassino do Amor, então toda a gente na Bellanária diria que este chefe escrupuloso, dramático, amante de festas, cavalheiro, sempre com um sorriso na cara - se é o que se pode chamar àquela máscara horrorosa de porcelana de cara - é a reencarnação do Assassino do Amor. Não podiam haver pessoas mais diferentes, segundo a minha opinião. Enquanto que nós sabemos parcialmente algumas coisas sobre Rwebertan Samiel Di Euncätzio, não se sabe absolutamente nada sobre James Dark Sword, nem sequer se é esse mesmo o nome verdadeiro.

Os bellantes mais velhos dizem que ele era, antes da segunda grande guerra, um nobre milionário, um descendente de uma casa nobre ou real qualquer britânica, que foi esquecida pelo tempo. Para além da antiga polícia bellante - ironicamente chamada de Resistência - não se sabia mais nada sobre ele, nem aonde é que vivia, nem como. Só se sabe que tinha uma suposta irmã - Felicity Dark Sword - que sofreu muitos atentados contra a vida. Vivia uma vida de luxo e de prazer, sempre às custas do ordenado que recebia - e de mais outras coisas que nunca vieram à superfície.

De uma maneira ou de outra, James Dark Sword continua a ser um amante da boa vida e das festas, mesmo que isso faça com que ele corra, muitas vezes, perigo de vida. Pelas testemunhas que o viram, ele é um homem alto, bem constituído, de olhos verdes escuros e agradáveis, sempre com roupas bem elegantes (que, até de longe realçam a sua forma acrobática e atlética) , uma capa negra de veludo a cobrir-lhe o corpo másculo, e uma espada muito poderosa presa á cinta, embora o Conde Dark Sword seja um homem de muitos recursos.

Hábil nos flertes e nos galanteios, ele é a única razão pela qual eu e a Serpente de Fogo temos uma coisa em comum: odiamos o homem por completo! Primeiro porque é um dramático teatral de primeira, que quando fala em Inglês, parece que está a recitar uma obra de Shakespeare, segundo porque é um idiota chapado que faz com que a maior parte dos Tienenses o admirem, tanto quanto o temem. Não é como o Assassino do Amor, cujo as pessoas do Norte odiavam de todo. Este homem [o Dark Sword] tem o seu ar de cavalheiro justiceiro, que oferece uma rosa azul a uma dama e recusa-se teminantemente a lutar quando as "senhoras" estão por perto. Enquanto que o Assassino do Amor preferia manter-se nas sombras e não ser visto, Dark Sword faz os possíveis - e os impossíveis - para ser notado pela sociedade de Cyborg Town.

E, quanto a ele, acho que é tudo....e mais uma coisa: o Pedro (o sobrinho cyborg do castigado deus Tezcatlipoca) adora o Dark Sword. Tanto que até costuma compõr canções sobre ele na guitarra. Não que isto ajude lá muito a pastelaria, café, snack-bar do tio Tezcatlipoca, mas o Pedro sempre foi um rapaz muito despistado. ... "

Parte do diário de Jessica von Tifon....porque eu queria desenvolver a personagem da Jessica, e não me ocorria outro texto senão descrever o Dark Sword, que é uma das personagens mais teatrais e exibicionistas que eu alguma vez criei! :D

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Praga, Cidade dos Mil Demónios 5

Cyborg Town, Cidade dos Mil Demónios



Para mim, tens o nome de uma desgraça,

Iminente, ò eterna cidade,

Para mim, o teu nome atrai toda a minha massa,

Massa inteligente, ó amaldiçoado sangue,

Licor de framboesa da minha própria cave!

Sangue de mil demónios que corre pela chave

Da minha própria mente!


Querida Cyborg Town (2x),

No meio da escuridão,

Tão longe da minha imaginação,

Tão longe daquilo que eu possa alcançar,

No meio daquilo a que eu chamo o Negro bazar,

Por entre mil ruas, andarei sempre a me embriagar,

No teu querido perfume alcóolico, Cyborg Town!

(Mas sinto-me aliviada que ainda não descobriram

O cigarro de ópio que me ofereceste, o segredo

Só meu e teu, as cinzas coloridas nunca me feriram

A mente, aquilo que eu tenho de mais negro!)


Contudo, sinto-me atraído por ti, querida Cyborg Town,

Porque não és nada mais que uma reflexão minha,

Um ponto dourado no meio do horizonte,

Que consigo agarrar com o meu monte,

Bem no meio das pernas, bem no meio das minhas enluvadas mãos!


Cyborg Town, a ti pergunto-te,

O que seria de ti, que serias tu?

Sem o teu demónio preferido,

Um monte horroroso de cu!


Na verdade, eu queria falar sobre Praga, não sobre Cyborg Town, mas a musicalidade do poema é tanta que dá para a mesma. Dá para reparar que os Tienenses - os habitantes de Cyborg Town - não são nenhuns santinhos. Mas isto é um pouco a gozar com a minha ideia do Tienense - um mercenário bêbado ou uma prostituta que se droga às escondidas. É verdade que os Tienenses são muito diferentes dos restantes bellantes, mas quem não seria, com uma mistura de tantos povos e nacionalidades - japoneses, russos, alemães, italianos, árabes, nórdicos, irlandeses - na mesma cidade?

A má reputação dos Tienenses é devido ao seu humour mordaz, a forma quase caótica como as ruas estão organizadas, e , claro, ás várias histórias de terror que são contadas, naturalmente, sobre o norte.

As pessoas ficariam espantadas que de entre a população Tienense, só 30% fuma, e 45% bebe como divertimento 3 vezes por semana. Pois é, tal como todos os estereótipos, este estereótipo que eu criei do Tienense está muito enganado, embora uma coisa seja verdade: eles vivem mesmo para a música!

sábado, 21 de agosto de 2010

Falta de Inspiração......

Ok..........antes de tudo, queria dizer que estou um pouco ocupada com o projecto de "animação Cosplay" com a www.lanorthway.deviantart.com.

Ela já está em aulas, e eu estou de férias. Como resultado - completo aborrecimento. Eu gosto muito dela, e só espero que ela consiga fazer o melhor possível para pôr as minhas personagens espectaculares. Até agora, não me tenho queixado. As personagens estão espectaculares, mas ainda estamos na fase dos sketches.

Em segundo lugar, eu adoro escrever com ela os guiões. Muito melhor do que as minhas histórias....E por falar nisso, só queria saber se algum de vocês não gosta das minhas histórias "politicamente erradas" que falam sobre Nazis e tal. É que se não gostam, basta comentarem!


Eu quero que as minhas histórias se adaptem aos leitores, não o contrário! As histórias do Assassino do Amor não estão assim lá grande coisa, portanto não vou publicar mais, uma vez que nunca peguei nelas desde que ando ocupada com o deviantart. ^^;

Mais uma vez, peço desculpa pelo atraso. Queria que vissem um pouco das minhas histórias que publico no dA mas se não querem ouvir de Heydrich para cá e Hitler para lá, então não ouçam! :P

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Cidade dos Mil Demónios 4

Perigosa Fonte de Inspiração

Interno desejo, bela tentação,

Um pedaço de espelho partido

Uma parte de ti que nunca imaginaste ter,

Será que alguma vez conseguirás livrar-te de mim,

Aquele amante que ainda passeia na tua imaginação!

Oooh, loucura de imitação, loucura de inspiração,

Será que alguma vez eu te irá deixar?

Não enquanto eu estiver aqui!

Tu entraste na porta do desconhecido,

Na porta daquilo que não é permitido,

E agora queres-me deixar, queres deixar de ser

Aquilo que mais temes, aquilo que te permite escrever

Doces palavras que ainda te fazem tremer…

Oooh, porta do desconhecido, porta do poder,

Será que alguma vez eu te irei libertar,

Não enquanto me pertenceres!

Não sei o que se passa com a porcaria do blogger, mas parece que não consigo fazer um único espaçamento! :(

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A Morte da Noite das Estrelas (Parte I)


Já alguma vez se perguntaram porque razão as ruas bellantes estão sempre vazias a partir das nove da noite? Porque é que o silêncio se abate sobre estas ruas a partir do momento em que os ponteiros da enorme torre da Catedral dos Sete Feitiços atinge as nove horas?


É porque toda a gente ainda tem medo do Assassino do Amor! A Bellanária pode muito bem ser um império de ilhas moderno, com uma monarquia constitucional dividida em cinco poderes: Poder Real Humano, poder Judiciário, Poder Divino, Poder das classes no Palácio das Reuniões, e o poder Armado, pertencente ao Exército e ao Castelo Negro. De entre os cinco poderes, são as pessoas a cargo do Poder Armado que os Bellantes temem mais. Os bruxos, o Rei dos Bruxos, o chamado "Poder do Tigre Prateado" tem sido assombrado com várias histórias e mistérios. O facto é que a Resistência e os Bruxos têm tentado abafar esses boatos, mas a maior parte do povo bellante sabe a verdade: os Feiticeiros têm muito mais poder do que deviam.


As pessoas não se atrevem a sair à rua precisamente por que têm medo dos Bruxos. Isto acontece mais no Norte do que no Sul da Ilha Capital.


Há muito tempo, a Rainha Meljnar IV - com o merecido cognome de "Severa" e mais conhecida nos textos históricos como Dona Melnjar Aglaia di Neptunvs - não concordava com estas leis, aprovadas pelas várias classes. Tanto humanos, como deuses, feiticeiros, criaturas mágicas, Fadas e outras raças tinham concordado com elas. No entanto, a rainha humana era exactamente contra estas leis porque elas rebaixavam a condição da classe das Fadas, a sua raça favorita. Uma vez que não podia ficar malvista diante da classe que ela tanto protegia, a Rainha decidiu inviabilizar as leis que tornavam possível que as Fadas fossem maltratadas pela classe dos Bruxos.


É claro que a Dona Melnjar IV não sabia com quem é que se estava a meter quando fez suar o martelo no Palácio das Reuniões. Mesmo assim, toda a gente nos lugares ocupados por Bruxo ficou calada quando ela perguntou: "Se há algum dos Senhores Deputados que não esteja de acordo com esta acção, por favor fale agora: Quereis ver as Fadas em pé de Igualdade com as Outras Classes ou não?"


E mesmo assim, ninguém falou. E também ninguém falou sobre a estranha morte de Dona Melnjar IV!




Não se encontrava vivalma naquela noite invulgarmente fria de Outubro, na avenida onde se localizava o antigo Schesrfhafranneegas, a catedral ou templo, onde, os Bellantes, habitantes daquela cidade quente e húmida que era a Cidade dos Deuses, mas, esta, era o lado negro da cidade dos deuses. Descendendo por entre várias colinas, esta cidade era, em pleno Outono, onde as pétalas das flores começavam a cair. A avenida era toda ela coberta por vários pessegueiros, limoeiros, laranjeiras, camélias, cerejeiras, e mangueiras, que despertavam curiosidade nos turistas que, ocasionalmente, por ali passavam. As guitarras choravam nos clubes das “Trovinhas” [1] e dos mercados e palácios resplandecentes na luz do luar, ainda passeavam, por aqueles parques e árvores assombradas pelas próprias sombras da noite sem estrelas, os Phees, as rokorokubis, os dragões desempregados, os centauros, e outras espécies de demónios. Ironicamente, a Cidade dos Deuses ainda estava empenhada de demónios, e todos eles nos bairros mais pobres. Embora a Princesa Swerdinada quisesse muito que esta classe fosse mais respeitada pela sociedade bellante, os humanos fugiam, repugnados daquelas criaturas, que, durante séculos atrás, tinham respeitado e convivido em alegria e paz...



Isso era há dois anos atrás, antes de se ter dado o suicídio de um filho de uma demónio japonesa, depois de ter ameaçado uma das pupilas da Deusa Melnjar. E, depois, porque nenhuns dos demónios que Qerbhat conhecia estavam ali, e isso era porque Sua Majestade, a Rainha Melnjar IV, tinha confirmado a lei antiga que proibia os demónios de sair das suas casas, na Cidade dos Deuses, a partir das oito da noite. Os Demónios eram a alma e o humor tão bem-disposto da Cidade dos Deuses que ponham as pessoas a rir com as suas trapaças e partidinhas cómicas e completamente hilariantes. Mais pareciam uma data de desenhos animados soltos nos bairros, ruas, ruelas, escadinhas, travessas, praças e avenidas de toda a cidade sul, com aquele clima quase tropical que tinha, tão estrambólico como a cara dos gigantes e tão criativo quanto a classe dos Cyborgs, demónios com um aspecto humano e afectados pela doença rara da alergia à própria epiderme e a derme que tinham, obrigando-os a andarem de máscaras e de corpos de metal.



Os párias na sociedade bellante eram os últimos da sociedade de sete classes, a seguir aos Cyborgs. Desde sempre, os demónios são condenados a trabalhos mais degradantes e sujos, são aqueles que trabalham com o morto e com os arriscados de perigo de vida, são eles, normalmente, os carrascos de muitos dos Deuses e dos Bruxos para castigos horríveis, que envolvem a tortura, a decapitação, esfolamento, amontoados de cadáveres, frutos podres, a gastronomia “demoníaca” e outros trabalhos como tráfico de drogas, como outras coisas nojentas e desagradáveis. Estas árduas tarefas eram apenas reservadas a nós, pois não devem ser feitas a ninguém, pelo que, no antigo sistema decretado pela Rainha Melnjar IV, éramos considerados individualmente sujos e nem sequer éramos julgados como qualquer outro ninguém, uma vez que éramos tidos como as criaturas menos humanas da sociedade. Tínhamos de usar roupas que já tinham sido usadas pelos mortos, retalhos esfarrapados e cozidos após um ser humano, um feiticeiro ou um deus morrerem e ser queimado na pira funerária e barco. Nas nossas casas completamente pobres, eles comiam insectos com a comida em pratos de barro que eram partilhados por toda a família e raça.



Vivíamos tão miseravelmente que só mesmo o trabalho nos podia suportar, mas mesmo assim, constituíamos a alegria de Cyborg Town, éramos as estrelas da Cidade dos Deuses, aqueles que mantinham o espírito vivo daquelas que eram as capitais mais vivas da grande ilha bellante. E, quando não havia nada para se alegrar, a gente lá se contentava com as coscuvilhices do dia. Tudo o que queríamos era muitos feriados para festejar, uma vez por dia, as poucas e preciosas felicidades que Deus nos dava. E tudo o que fosse novidade ou não, tinha de ser festejado com a maior pompa e circunstância que o dinheiro que se conseguisse arranjar, e se um homem demónio, fosse de que raça fosse, se dispusesse a casar com uma fada, ou com uma bruxa, então era festa, ou luto geral, por parte de todos os irmãos e irmãs, assim era como nos tratamos, quer tios, quer tios, quer avós, quer primos ou primas, quer mães ou pais.



As Fadas ainda nos davam algumas esmolas, mas nós estávamos bem da vida. Nunca haverá um demónio insatisfeito com a sua raça ou a classe a que pertence. Pelo contrário, somos muito orgulhosos, de nós, e da nossa terra. Não me posso queixar da vida que tive, que, tenho de acrescentar, foi uma vida abençoada, aos cuidados da nossa amiga Sara, a linda Princesa Sara, filha do muito respeitado e honrado Capitão Lornam, que sempre nos respeitou e nos tratou como igual.


Foi por causa dela e da família Lornam que consegui a permissão para vos narrar a história, e como testemunha de tudo o que se passou, é meu dever contar tudo o que se passou e apresentar-me (estavas a começar a ficar curioso quem era, não é verdade?) A nossa família é tão grande que raramente chamamos pelos nossos nomes únicos, que são mesmo os únicos que temos, ou porque os Senhores Divinos não permitiram que tivéssemos apelidos, ou para nos mantermos mais unidos.



Chamam-me por Qerbhat, da raça dos Centauros, que não é mais do que metade humano, metade cavalo, e que negoceia as suas histórias e produtos em troca de outras coisas ainda mais preciosas e raras. Fomos sempre o povo mais antigo de todo aquele arquipélagozinho no Atlântico, conhecido por Bellanária, e creio que somos os únicos que damos apreço por ela e pelos seus frutos. De qualquer maneira, não vim cá para fazer elogios a ninguém, mas sim para continuar a minha história.



Como eu estava a dizer, não havia absolutamente ninguém naquela noite (estarei a tornar-me repetitivo…?), naquela avenida. Poupei-vos à descrição da avenida, porque seria material para dois capítulos de arquitectura e arte de péssimo gosto.


A antiga rainha tirana, a Senhora Melnjar estava destroçada, e cantava em Bellante, uma lamúria muito triste. Tinha perdido o seu escravo feiticeiro, e, ainda por cima, tinha perdido todo o seu luxo e prestígio: estava despenteada, com o batom borrado, e a chorar parecia ainda mais feia! Uma bruxa vendida que já tinha esgotado as suas palavras vazias de amor. Que tipo de tola seria aquela? Que tipo de mulher era aquela, uma concha vazia, um coração vazio que não tinha nenhuma pérola amada? Porque é que ela não podia apaixonar-se, como as outras deusas? Que tipo de lábios eram aqueles que tinham morrido com cada mentira e beijo, …Que a tinham deixado tão solitária? O dinheiro, e o marido que tanto ansiara eram agora as suas eternas maldições! Na verdade, ela gostava muito de ambos, mas jamais poderia amar realmente um homem, e tal e qual a sua odiosa maldição, ela jamais poderia viver sem amar, beijar, acariciar, e fazer amor com aquela coisa tão preciosa que era aquele metal tão precioso denominado por dinheiro!... Agora tinha aprendido a lição de nunca mais ser tocada e beijada a não ser pelo seu verdadeiro amor, mas era tarde de mais, e mais cedo ou mais, a Morte iria levá-la, a questão era: quem é que iria matá-la…?



Ela não se importava de morrer pela pátria, mas…Será que Deus poderia perdoar uma ovelha tresmalhada como ela?... Sentia-se mais zangada do que uma doninha enfurecida, e, acreditem em mim, uma doninha assustara-se com o fedor que aquela história escandalosa da nossa querida Rainha Melnjar e do novo Chanceler da Alemanha, apanhados de mão dada, na véspera do funeral de Sua Senhoria, o Duque Von Tifon. Swerdinada, a filha, estava destroçada, e nunca mais se atreveu a falar com a mãe. É óbvio que esta história já era terrível suficiente para eu desatar a chorar, nem sequer a princesa comentou o acto repreensível da própria mãe. Mas…Seria que ninguém via que ela é que era a vítima!? A Rainha Melnjar estava, de uma vez por todas, entre a espada e a parede, e ela sabia disso.


Bem, as coisas não podiam piorar, disso ela tinha a certeza…!








[1] Música popular da Grande Ilha da Bellanária, aonde estão presentes influências asiáticas e portuguesas do fado de Lisboa. É uma música muito refinada, com uma guitarra clássica bellante, denominada por shenariafsa (voz de flor-de-lótus prateada, pois é utilizado uma palheta feita especialmente de folha e madeira de flor de lótus, para acentuar melhor a acústica do instrumento), de oito cordas e caracterizada pelo seu som melódico e sinuoso, parecido com um cântico ancestral, e por várias vozes e instrumentos de percussão bellantes. Com motivos tristes como a saudade de tempos passados, o sofrimento, a dor, a tragédia, a desgraça, amor e ciúme, a cidade, a alegria, crítica a sociedade, as misérias da vida…Enfim, na grande ilha, diz-se que as Trovinhas são “música dos Demónios”, pois foram estes os criadores dela, lamentando-se e subalternando entre um optimismo nostálgico e um pessimismo inconformado. Esta música é também oriunda dos bairros mais humildes e boémios das cidades bellantes, onde moram a outrora dominante classe dos Demónios.




domingo, 18 de julho de 2010

Praga, Cidade dos Mil Demónnios 3



Remorsos num pedaço de papel…




Este poema é um pouco mais complicado.... é o tipo de pensamentos que as pessoas que me enganaram no amor me diriam...é por isso que pus um desenho da artista Hello-heydi.

Remorsos Num Pedaço de Papel não só fala dos sentimentos que tenho por este homem, já morto, mas também pelo medo que por vezes uma desilusão causa, quando encontramos um novo amor.

Afinal....quem tem a culpa...A mulher....Ou o homem? ....





Será que não sentes o meu coração,



Serei apenas isso para ti,



Um papel vazio que tu podes deitar



Num obscuro papelão,



Eu não se alguma vez poderei contar



O quanto te odeio e te amo, querida Mimi…





Agora está feito, agora o papel está amachucado,



Agora a tua tinta enegreceu a minha alma,



E não sinto mais nada do que simples ódio,



Ódio e amor por alguém que fez sentir



(Como se eu tivesse a maior calma



Para te ouvir,



Ó monstro da luxúria e do ócio!)



Está tudo destruído, está tudo incendiado



Pelas chamas venenosas do teu sódio,



Das tuas palavras!





Saberás alguma vez como eu te amo,



Saberás por acaso que o único que te amou



Verdadeiramente, fui eu…

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Praga Cidade dos Mil Demónios 2


Aqui está uma imagem que eu achei "perfeita" para equilibrar junto à imagem de Heydrich, o eterno manipulador que puxava cordelinhos nos bastidores e que era, de uma forma ou de outra, o manipulado - segundo a minha perspectiva, o manipulado. Encontrei esta marioneta birmanesa num site qualquer, e a imagem do Heydrich a mexer cordéis enquanto ele próprio era uma marioneta parecia estar presa na cabeça (vocês nunca tiveram medo de marionetas quando eram pequeninos? Eu tinha! ^^; )


A verdade é que muitas vezes fico inspirada por coisas que são tabu ou obscuras, ou que eu não conheço....O desconhecido é sempre atraente. Eu também podia pôr uma imagem da Hello-heydi que fala que Heydrich não tinha olhos, mas isso é dela agora. Zanguei-me com ela, e não vou mais perturbá-la com as minhas idiotices....se bem que os desenhos dela algumas vezes são tão aterradores ou perversos como esta marioneta que "manipulei" através do GIMP....


E aqui está, Perfekt Marionette - Marioneta Perfeita - porque, durante toda a vida Heydrich foi exactamente isso para as pessoas que o conheciam - um aterrador boneco sem coração nem alma com uma http://www.youtube.com/watch?v=yeUTf-6XNu4 (voz) digna daqueles bonecos dos Marretas com uma capacidade espantosa de....fazer aquilo que ele fazia..,..



Olhos cinzentos, olhos de vidro,



Olhos fabricados para uma marioneta


Muito especial, concebida para uma única meta:


A perfeição suprema!



Mas qual não é o teu espanto,


Quando o Pinóquio de nariz grande,


Ganha vida própria!


Tem cuidado, porque vais ter


Sempre de estar um passo à frente deste gigante,


Está próximo, tem cuidado,


Para que não tenhas de destruir,


A tua querida marioneta,


A qual gostas tanto de ouvir

domingo, 4 de julho de 2010

Praga, Cidade dos Mil Demónios…!







Oh meu deus.....já é Julho.....como o tempo corre depressa ^^ ! Enfim...como "comemoração" do terceiro ano do Grito da Verdade (uiiiiiiii tantos anos....!) vou postar um poema que, apesar de não ser "O POEMA" que originou a personagem do Assassino do Amor - porque afinal, a maior parte dos posts aqui neste blog são sobre ele - vou dar um poema mais...moderno.













É deste ano, e explica precisamente aquilo que eu sinto pelo Reinhard Heydrich Sim, sim, eu sou uma doida varrida, podem espetar-me com mil lanças e empalhar-me no vosso museu acerca do Holocausto. No último ano, encontrei um monte de pessoas que concordam comigo - não, não são nazis. O que acontece é que estas mulheres - no deviantart http://princesshamanarta.deviantart.com/ também estão interessadas acerca dessa época tão obscura da Alemanha que foi o Terceiro Reich. Não só porque é um motivo de inspiração para elas, mas também querem compreender melhor o que levou homens a tornarem-se monstros e monstros a tornarem-se em homens.



Já alguma vez viram aqueles "gibis" - para utilizar a expressão brasileira - da Mónica, em que havia umas actividades para os miúdos fazerem? E viram de certeza o "Descubra as X diferenças"....bom, agora eu apresento outra actividade.




Se alguma vez vissem este homem desta maneira, achariam-no um monstro desprezível e sem coração? Eu não....



A seguir olhem para a imagem à direita.... achavam que este homem é um talentoso violinista que traz lágrimas aos espectadores, um esgrima de renome nível nacional, o chefe da Interpol durante dois anos e um pai carinhoso de dois filhos e uma filha?



Foi sobre isso e sobre outras coisas demais que escrevi a colecção "Praga, Cidade dos Mil Demónios".

O Assassino do Amor também é tio de dois irmãos, ele também toca harpa que cativa quase magicamente a audiência, ele também é um pasteleiro de renome nacional e é por vezes o único feiticeiro que a Bellanária recorreria.

Mas chega de tanto palavreado, está na hora do primeiro poema, Deus Moderno Marte, inspirado na mitologia romana.

Fico tonta só de te ver,

A minha cabeça gira, rodopia e desequilibra-se,

Nos fios da loucura e do Prazer,

Se houve que avivasse

A minha alma de saber,

Que ficasse para sempre

A atormentar aquele fio condutor

Que nunca se sente

A mentir nem a fugir - foste tu!


És uma maravilha da tecnologia,

Um autómato perfeito,

Pintado só na melhor refinaria,

O teu musculado peito,

Aço inoxidável formado

Pelo mais puro pecado,

Junto aos meus seios conformais,

Juntos iremos fazer as nossas energias chocar,

Fazer faísca numa combustão,

Combustão indecente, combustão quente,

Combustão ardente!


Se houve uma substãncia

Que fosse destilada a partir

De tão grande clemência,

Pelo ser humano

Que afinal é escravo

Da máquina, ser insano,

Ser sem coração,

Ser amargo!




Essa substância, tão faíscante,

Que faz do frio assassino ardente amante,

Essa substância eu não a conheço!

Só sei que pela minha luxúria,

Pela minha ambição,

Tive de pagar um alto preço,

Ó tecnologia, porque criaste

Tal perfeito diabo,

Porque é que o amaste,

Ninguém o sabe,

Só tu e eu, querida tecnologia!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Após os exames.... "Histórias do Rio Sagrado"


Hei.-..... Olá malta!.... Tiveram saudades minhas? Espero que sim....Vamos continuar a história do Visconde Erwin, porque eu acho que era uma pena desperdiçar uma história tão bonita se eu não a posso contar .... ;)



Enquanto lavava, a água gelava-lhe nos ossos, e enquanto o árduo trabalho sufocava-lhe as lágrimas nos olhos, e os seios pequenos espevitavam-se, amassando, delicadamente, a roupa suja dos senhores Von Tifon. A fria noite de Outubro parecia querer atormentá-la ainda mais, mas Añuli não desistiu de fazer as suas tarefas que tinha em dever para com Sua Mui Estimada Excelência, o Duque Rüdiger da Cidade Perdida. Tão breve fora a sua esperança, tão longa era aquela vida de sofrimento. As ondas do enorme, escaldante e cruel e subterrâneo rio, espalmava-lhe implacavelmente.

Toda a vida tinha trabalhado para outras pessoas, mas isto não era nada comparado com a felicidade que passava entre as Fadas. Toda a vida, tinham-lhe dito que seria alguém…E então as riquezas, de que tanto falavam, e então a alegria que tanto lhe tinham prometido…E a sua amada terra, que há muito lhe tinha sido arrancada, mal ela tinha dois anos!...


O grandioso século de 1600 inaugurara-se sobre o signo da fome; na Bellanária, os terríveis, rigorosos Invernos alternavam com verões particularmente frescos e húmidos, que faziam apodrecer as colheitas.


Nem os Deuses se apercebiam do que é que se estava a passar, as Fadas reinavam em paz, e distribuíam generosamente, toda a comida que pudesse a vir ser útil. Os Bruxos e os Feiticeiros tinham triplicado o preço dos cereais, e as crises de subsistência sucediam-se uma após a outra, algumas particularmente mais graves do que outras.


A fome arrastou, lentamente, consigo, a doença: nos corpos debilitados a infecção instalava-se mais facilmente; os assaltos e saques de demónios a navios e a carros tornaram-se mais vulgares e comuns. A delinquência aumentava de dia para dia, de semana para semana, de mês para mês, e de ano para ano!... Eram tempos negros, tempos em que um pedaço de pão era o suficiente para que começassem sangrentas batalhas entre camponeses humanos e criaturas do bosque.


Os Deuses não conseguiam controlar a situação, e por isso, mandavam os feiticeiros para tentarem resolver as querelas, mas o que se pensou ser a solução, tornou-se ainda pior. Eram dolorosos conflitos, que poderiam demorar dias a fio, e em que só o mais forte conseguia alcançar a tão desejada vitória. Os perdedores eram humilhados, à frente de toda a comunidade dos Feiticeiros, e rebaixados durante largos períodos de tempo; porém estas batalhas tinham as suas razões.


O equilíbrio de terras e a economia de trocas pré-industriais dependiam disso, e mais, a batalha entre nobres da classe de Feiticeiros era vital para a sobrevivência de todo o Império Bellante.


Mas, guerra era guerra, e não deixavam de serem extremamente perigosas e horríveis, para ambos os lados.


Añuli já pensara nisso, mas só o facto de pertencer aos Von Tifon proibia-a de dizer sequer uma palavra que fosse à frente deles.


Tinha de ter muito cuidado, para que ninguém a ouvisse; por vezes, até pensava que a sua magia era capaz de alguma coisa para além de lavar todas as roupas que existiam, limpar os chãos do palácio dos senhores, cozinhar enormes festins juntamente com as empregadas, arar as terras, colher os frutos nas árvores, semear os campos, carregar as uvas, tal como a maior parte dos servos humanos daquela região, e por fim, tratar dos animais.


Tudo isto num só dia, e, se não tivesse mais nada para fazer, então organizava todos os ingredientes e poções de Sua Excelência antes que este chegasse à hora combinada. Ela nunca o via, muito menos ficava o tempo suficiente para que pudesse contemplar os outros membros da família dos Duques Von Tifon.


Já se tinha passado três luas cheias, e nem um rasto de bondade para com ela. O trabalho nunca parava, desde a manhã até à noite, e dormir numa cama feita de palha com um saco carregado de sal não era precisamente o que ela chamava de um lar. Tentara falar mil vezes com Sua Excelência, mas ele nunca lhe prestava atenção, nem sequer se dignava a olhar. Na verdade, ela nem sequer tinha o direito de lhe falar, e era isso que a irritava…Porquê? Porque é que ninguém falava com ele?


Haviam guardas por toda a parte, até mesmo perto da praia, e, quando ela parava de lavar, atiravam-lhe pedras ou atiçavam-lhe cobras para o corpo.


Graças a Deus que nenhuma delas lhe mordia, pois eram suas amigas, e nunca deixariam que aqueles homens sujos a fizessem chorar ainda mais.


Haviam turnos diurnos e nocturnos, nas portas traseiras, nas portas dianteiras dos portões do palácio, naquela gaiola, nas portas, no interior do palácio, no primeiro andar, nos compridos e médios, claustrofóbico, corredores do segundo andar, na cozinha, nas masmorras, no átrio…Já para não falar na multidão de homens brancos sem armas, que a rodeavam para aonde quer que andasse nas câmaras, nos salões, nos quartos, nas salas e nos sanatórios do palácio, e estes eram os espiões do Diabo Branco, como Añuli já lhe apelidara há pesadelos passados.


As cicatrizes do chicote dos Homens Brancos ainda estavam no seu coração, os gritos de insultos e de rebeldia, as pernas a correr o mais depressa que podiam, as marcas de palmatória e de ferro a escaldar de fervor e crueldade desumana.


Os pontapés, as gargalhadas implacáveis, que não paravam de ressoar dentro do seu coração, o sangue prateado de fada que secava entre lagos e intervalos de trabalho…A vida era difícil, e isso ela já tinha aprendido, há muito, muito, muito, muito tempo. Só o facto de ver outros como ela, a morrer, a morrer, a morrer, num mar de esperanças e desespero. Aquilo era uma tortura, não havia maneira de ela escapar à morte certa, pois sabia, ela sabia que um dia, os Homens Brancos a iriam matar.




Lavava, lavava, lavava, e continuava a lavar, porém, por muito que tentasse, as manchas do vestido de farrapos brancos de sangue de fogo de paixão entristecida, empobrecida, não saiam, nunca mais, nunca mais…Da sua vida…! A esperança de que algo mais saísse daquela desventura de vida, de que a morte aliviasse aquela dor no peito, aliviava-a.


Seria louca…? Não, não, não era. Apenas apreciava a noite enublada, as corujas que piavam adoravelmente sobre as sobrancelhas dos carvalhos e pinheiros, a natureza inóspita das grutas, tão silenciosa, tão pacifica…


Que pena, que pena de que aquela noite não pudesse durar mais, quem lhe dera que aquele Inverno nocturno não acabasse.


Só ali encontrava paz, só ali encontrara esperança para continuar a viver, e para que fosse ainda mais alegre, por que não era vergonha nenhuma ser pobre, o único problema que ela tinha é que ninguém a respeitava, ninguém a amava, e toda aquela multidão de olhos perturbava-a.



Naquela floresta subterrânea, podia encontrar solidão, naquela floresta doce de novos, fofos e macios sabores, perfumes que jamais esqueceria, e que sonharia nos seus ricos, ásperos, realistas sonhos da sua vida, ilusões verdadeiras, de facas e alguidar, gritos de amor e beijos odiosos e carinhosos. Na madrugada, naquela silenciosa, sombria, gelada e quente madrugada, ela lavava as roupas do sangue que os Homens Brancos lhe tinham imposto sobre mãos de demónio.