sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Lisaiten (Losjaftzen ou Losjafhden) e os Aosbeltzy


                  Muita gente ajuntou-se perto da estação de Losjafhden (que se podia pronunciar de várias maneiras, mas Fen Li e Quing chamavam àquela terra de Lishay-tēn), cuidadosamente, mas com curiosidade, para observar e saudar, gentilmente, Quing e Fen Li, que iam de mãos dadas com o experiente guerreiro; a maior parte das gentes bellantes eram de estatura baixa ou média, não atingindo mais que o metro e setenta de peles morenas e delicadas, verdadeiramente felizes, com sorrisos pacíficos auspiciando bondade, humildade e uma honestidade que era espelhada dos seus olhos negros, brilhantes. As casas das vilas e aldeias tinham telhados de cobre e bronze, as casas dos burgueses, tal como a dos camponeses, eram enchidas de várias pinturas coloridas alusivas à rica fauna que prosperava sobre os vales daquelas montanhas fora, giestas florescendo em várias camélias cor-de-rosa, sobre flores de lótus vermelhas, em fundos brancos e azuis, em pedra magnifica de mármore e tijolo firme, reluzindo ao sol fraco.

O que não mudava definitivamente eram as vestes. Estas eram uma espécie de togas cor-de-laranja, brancas e azuis, com faixas aveludadas numa cor de cereja, macia, e quente, o traje típico da Bellanária, juntamente com túnicas verde-claras e leves de seda. Todos, naquela terra, segundo explicava pormenorizadamente o Cocheiro, eram Sjhataram, que, na língua natal da ilha significava “Filhos e Irmãos dos Deuses”, uma religião antiga, dedicada aos Deuses que realmente consistiam dez por cento da população bellante.

Existia um sistema de protocolo muito rigoroso, quando se referia aos Deuses, a própria linguística bellante, muito semelhante às línguas tonais asiáticas, tinha um bizarro e complexo número de pronomes pessoais. Os Deuses escreviam e falavam de uma maneira completamente diferente dos camponeses, aldeões, cidadãos humanos, tal e qual como acontecia com as Fadas, as Kinnaries, os Demónios, os Grifos, os Centauros e os Feiticeiros. Cada um tinha a sua própria língua bellante.

«Na verdade, não há uma língua bellante básica, a não ser a dos Humanos, é claro, que se chamam por aqui pelos Aosbelsi, os “Homens da Bela Terra”. Existem vários tipos de línguas bellantes, mas aconselho-vos a aprenderdes a língua dos Aosbelsi, que é a mais fácil e mais falada entre os povos e várias raças da ilha.» Existia um registo cerimonial para cada raça, fosse ela Fada, Feiticeiro, Demónio, Humano, Grifo, Centauro, criaturas sagradas ou até mesmo os Deuses.

Surpreendentemente, os poucos Demónios que tinham encontrado no caminho falavam num Bellante convencido e muito carregado nos K’s e nos C’s e H’s, o que era normal entre a gente da montanha, com um dialecto muito próprio das zonas da Sibéria e da Rússia, ou talvez mesmo da Índia, com um tom alentejano, com um ar muito informal e rude. As Fadas tinham um ar muito europeu, acrescendo muitos S’s e T’s portugueses, com cabelos de cores variadas e tons diferentes, dando do ruivo pálido até ao louro cor de leite e até parando no amarelo tailandês. Os Feiticeiros eram geralmente europeus ou com ar americano. Havia uma diversidade de etnias que ultrapassava os conceitos de tradição e conservador da Bellanária. A pronúncia mais comum entre os Humanos bellantes nativos perante os estrangeiros era semelhante a de um Português arcaico expandido em Latim, com traços de Chinês, com uma mistura e nuances de sumério e hebraico.

                 Para além disso, todas as classes em dias vulgares tinham de se vestir de igual para igual para não haver distinção entre nobreza e povo. A realeza e a família real promoviam a igualdade e fraternidade entre classes sociais e estados, para que o Reino fosse mais unido. Apesar de assemelhar a uma sociedade bastante hierarquizada e estratificada, a Bellanária não criara as suas típicas formalidades e salamaleques para fazer frete e ficar bem diante do mundo antigo; as intenções de todas estas ancestrais tradições era apenas para cultivar a humildade e respeito que havia entre todas as classes.

Para grande espanto dos dois jovens, a maior parte das casas eram feitas de madrepérola, arroz cintilante de estrela, e cimento de tijolo, à medida que se aproximavam das ruelas e vielas dos arredores, viam que estas tinham um aspecto incrivelmente limpo e as portas estavam todas abertas; nem sequer existiam muralhas para defender a pequena Vila de Losjafhden, que ficava a dez minutos de Cyborg Town, e era um enchido de bairros bem catitas, com todas as bandeiritas bem colocadas. Quing foi o primeiro a tentar inquirir sobre a questão, olhando de baixo a acima, andando nos passeios da calçada.

- Aqui, as pessoas confiam muito umas nas outras, não há demónio algum que não faça a saudação nacional antes de entrar numa casa de gente civilizada, por isso, a delinquência é muito rara. Os campos são irrigados com a ajuda das monções de Outono, tudo se aproveita e se poupa, não há lugar para a luxúria, mas a beleza e riqueza de detalhes é admirada por todos os artistas e arquitectos Bellantes, em todos os Cinco Reinos. – Explicou o Cocheiro, parando os cavalos perto de uma moradia que albergava uma imensa família de árabes, mais a família do cocheiro, ornamentada com pérolas e ouro. Até os mais pobres eram ricos naquela ilha.