quarta-feira, 27 de agosto de 2008

O Mistério do Narciso Negro - a última flor de Outono


“ O Assassino costuma ser um antigo amigo da vítima…”
Agatha Christie


Hoje, darei um cheirinho de um novo romance policial que ando a trabalhar - a Lua dos Meus Sonhos já está completa - O Mistério do Narciso Negro.


Este, passa-se duas semanas depois da misteriosa morte do Duque Adrian Friedrich Von Tifon, o chefe da família dos Duques Von Tifon da Cidade Perdida.


Será que quererão ouvir as minhas histórias uma última vez....?


Prólogo…



Por vezes, os olhos podem pregar-nos partidas, mas apenas existe uma única coisa, em que existem duas completamente diferentes.
Eram 5 horas da manhã, e, sobre a Avenida Dríade Aurélia Benedita, não existia nem uma única vivalma, e, mesmo que estivesse, estaria ali apenas de passagem. Diziam-se muitas coisas daquele bairro de casas antigas do século quinze, renascentista, com alguns pilares e colorações, avermelhadas, brilhantes, como rubis incrustados em granito suave, polido, em grandes pedras. Este bairro, interior da Cidade dos Deuses, estava tanto de noite, como de dia, vazio, pelo que, a maior parte das enormes mansões e sumptuosas vivendas de antigos tempos estavam abandonadas ao Sol e à chuva, pequenina, que caía, trépida e pudica, durante o crepúsculo. Plana, limpa, com uma calçada de turquesa, esta particular parte da cidade apenas era habitada por uma família só, que se atrevia a ir, de tempos a tempos, fazer festas lá. Os Dark Sword, que possuíam a nº 945 do lado direito, uma maison vitoriana do século dezanove com três andares. O ar tosco, feio, triste, cor do Outono, dava-lhe uma certa penosidade, como se fosse uma prisão construída para os Homens da Inquisição, e, com as janelas quadradas, encadeadas por fortes luzes vermelhas bizarras que saíam das cinco estátuas, ou melhor as imponentes gárgulas do jardim com aproximadamente três metros de altura sobre os altares de mármore castanho, a mansão tinha um aspecto um tanto ou quanto bizarro.
Com as tijoleiras negras, a cobrir as duas torres principais da casa grande, este edifício triangular tinha uma complexidade simétrica de quase cinquenta metros de altura, e uma muralha a cercar o pálido, calvo, sombrio jardim de vinte metros quadrados, com as gárgulas aztecas como decoração, sem uma única árvore, apenas umas vinhas que chegavam até à janela principal, de arte mourisca, com um belo arco e uma flor de narciso como ornamentação em jade sobre as telhas da janela, esta era a única para avistar o quarto da Condessa, irmã de James Dark Sword.
Por mais estranho que pareça, o interior da casa era acolhedor, apesar de ter sempre aquele papel de parede rubi, acastanhado, que a Miss Felicity Dark Sword adorava, um átrio pequeno, com uma escada de caracol de mogno escuro folgada em veludo de cor de vinho, que desembocava numa bifurcação com dois corredores, no qual estavam dois quadros com os dois ominosos antepassados dos irmãos gémeos: Erika Dark Sword e Ezequiel Dark Sword. Pregado no tecto da casa, apenas existia uma única lâmpada vermelha, acesa por um pequeno diabinho com um tridente. Excepto o quarto de James e de Miss Felicity, as outras divisões eram apenas usadas quando havia festas na mansão ao estilo Nova Inglaterra.
“A nº 945”, como era apenas chamada pelos vizinhos, dizia-se ser assombrada pelos espíritos dos dois gémeos cyborgs, um monte de tretas para a mulher nova de vinte e seis anos, que, com um cigarro na ponta de uma boquilha vermelha, pontiaguda como a ponta de uma seta, iluminou o caminho de pedras triangulares até à estranha casa de feitio bizarro, parecendo ter sido esticada como se fosse pastilha elástica.
Á noite, não se podia ver muito bem, mas, com o rosto, rosado, de aspecto australiano, com um olho de metal cor de âmbar, meio verde, mexendo-se de um lado para o outro, como se fosse uma cascavel, apontou directamente para a Lua, que se ponha, graciosa, sobre o crepúsculo ardente. Orgulhosa, a mulher de estatura média, era uma deusa da tentação, sobre o cenário de aroma a melancia com pimenta, perfume favorito, que a envolvia numa nuvem sobrenatural de tentação, com um vestido branco e laranja de seda, o seu sorriso queimava até o coração mais empedernido de qualquer homem, e os seios, demasiado demonstrados sobre um decote diabólico, aguentavam umas pernas, escondidas sobre o doce, perigoso tecido de cetim. Com a cabeleira loira encaracolada solta num corte curto e selvagem, com um puxinho, como se fosse um redemoinho, os lábios vermelhos mascaram o tabaco, duramente, mas com uma sensação de prazer indescritível…Sobre as garras de pó-de-arroz, ela segurava uma malinha clássica, doirada, da chanel com cinco centímetros, e, com as unhas de três centímetros, brancas, ela estava lá, pendurada, como se fosse uma daquelas, que estava para a venda. Não, a Cyborg com pernas de noz não era uma dessas, e, com a sua constituição, bem atlética, e unhas pintadas de cor-de-rosa, o seu narizinho e ouvidos, atentos, escutavam e cheiravam qualquer coisa masculina que se mexesse e que tivesse músculos. Tal era o aspecto da misteriosa, glamourosa Felicity Dark Sword, a fumar a cigarrilha ousadamente, só, naquela avenida, sem um acompanhante sequer.
Minutos depois, acabou agradecidamente o cigarro, deitando-o indiscretamente, com um beijo sensual, para o meio da rua, ao escutar uma limusina jaguar Mark IV, bem comprida, aproximou-se da calçada de chamas. Entrando com os sapatos de salto pretos, como se patas bem aguçadas de uma crocodilo fêmea, a mulher sorriu, sentando-se sobre a escuridão do carro.
Confortável no cabedal do assento, ela avistou, primeiro, dois olhos verdes, penetrantes, e a seguir, sentiu o apertado, no entanto, quente, carinhoso, possessivo abraço dele.
A língua afiada do amante quase que sugava a garganta inteira da rapariga, enquanto que esta, retribuía com uma trincadela ousada no pescoço, lançando-se, como uma vampira, sobre a sua vítima.
- Ò amor… – A voz dela era grave, quase que para o sofisticado, mas com um toque sarcástico e convencido na voz.
De repente, ele largou-a, e falou-lhe num tom quente, em Espanhol:
- Uma prova do meu amor…Felicity!
Subitamente escutou-se, no meio daquele silêncio apaixonado, um grito aflitivo, de socorro, e, para ela…Ficou tudo escuro, como um narciso negro no meio dum lago de sangue…!


terça-feira, 19 de agosto de 2008

Um episódio engraçado... (Um pouco da história da vida passada da Serpente de Fogo e do Assassino do Amor)


'...Aconteceu há muito, muito tempo, quando eu estava para fazer os meus sessenta anos de idade e todo o meu arrependimento no coração começava a vir ao de cima, mesmo antes de eu o notar, um peso de chumbo na alma arrastava, com grilhetas mais pesadas que o próprio Inferno!... Quando Eleonora me deixou pela segunda vez, deixei de ter esperanças que alguma vez a Mãe Swertyhina me reservaria uma segunda amada para mim, e assim, os remorsos vieram assombrar-me à noite, como tenebrosos, aterrorizadores espectros dos meus antigos inimigos.
Sabia que tinha poucos anos de vida, só mais uns duzentos e quarenta anos, ou talvez quinhentos, mas Sabia que tinha poucos anos de vida, só mais uns duzentos e quarenta anos, ou talvez quinhentos, mas não passaria dos mil, de certeza.
Toda esta tristeza na alma me induziu, a cada noite que passava a tentar deixar a Magia Negra de uma vez por todas. Tentava não pensar nisso, comer até me fartar, mas nenhum dos prazeres mundanos, mesmo as mulheres e o álcool, que, anteriormente, eu considerava o melhor remédio para a depressão e o stress a que eu, um Feiticeiro daquele calibre, era sujeitado, todos os dias, poderia sucumbir…Uma pessoa não é de ferro, ora essa! E o terceiro-olho, o olho de Morte do Senhor Tsesustan, começava a chamar-me para a travessia da minha vida…tão Atormentado estava eu com tantos sinistros pensamentos, que decidira, numa noite terrível de insónia, recomeçar a minha vida, para que, ao menos, os Deuses se compadecessem de mim.
Por fim, ganhara uma consciência, mas não uma que não gostasse de mulheres…Pelo contrário, em mente e corpo, continuava o mesmo Samiel de sempre.

«Basta!» Disse para mim próprio, enquanto me revolvia sobre as alcovas, juntamente com o Tigre de Escuridão, que andava igualmente preocupado e sem conseguir adormecer… «Para mim, o Assassino do Amor, morrerá nesta mesma noite!» Assim tão convencido fiquei, assim tão presumido tornei a acordar, com o Sol nos olhos e o meu leal, simpático, valente companheiro de desventuras deitado ao meu lado, quase como que ronronando nas minhas pernas. E já sabia o que havia de fazer na vida: voltaria para o início, e sairia daquele castelo sombrio e solitário de uma vez por todas. Convicto, já levantado, mandei que planeassem uma nova mudança naquele sítio, para o melhor iluminar, pois aquilo parecia um inferno, com aquelas escadas, alas, escuras, e masmorras podres. Queria que tudo fosse alegre, e que nada me lembrasse da Deusa da Morte, a quem eu, em tempos, tão ardentemente, adorara. Estava com dúvidas, e, contudo, os meus Deuses não respondiam ás preces. Porque é que os Deuses não respondem perante a pergunta do porquê de um homem ser abençoado com um sinistro, obscuro, poderoso dom, milagroso! A ela e ao seu esposo, que naquele momento, nessa altura da minha vida, os recomendava ao Diabo. Assim fizeram outros tantos, que, confiantes em mim e nos meus ideais, me seguiriam para aonde quer que fosse, fosse a escolha que fizesse, eles acompanhavam-me. Obviamente, depois da minha greve, e ao ter mandado secretamente Jerininantus e Nimtauk, sabe-se lá porque razão, de metade do exército de idiotas que eu liderava, um terço decidiu ir-se embora, ou talvez mesmo matar-se, os tolos. Ri-me desprezivelmente deles por um bom bocado, e, depois, meti mãos à obra que tinha na cabeça durante muito tempo!…' ( versão inteira do prólogo do quinto capítulo da 3ª parte das Crónicas da Lógica e do Tempo)


Tudo na Atlântida – ou Bellanária, como quiserem – tinha-se passado, desde os vinte e cinco anos passados, e o Rei Neptuno estava contente. Não havia um sinal do Assassino do Amor pelas ruas, e tudo em Cyborg Town era belo, e maravilhoso, dinâmico. A cidade criada pelo temido, respeitado, e falecido – as pessoas agora acreditavam que o homem com o coração de ferro tinha morrido de velhice – Feiticeiro, Mestre Rwebertan Samiel Di Euncätzio, tornara-se numa importante polis, uma capital económica indispensável para o reino da ilha, e o culto do “Casal da Escuridão” tinha sido extinguido há imenso tempo. Viviam-se tempos, por fim de paz. Sob o céu, quente de Agosto, mais brilhante e precioso que, se o tentássemos agarrar com ambas as mãos, ela escaparia por entre os dedos, como areia molhada numa bela tarde, fresca, ao pé da praia. De manhã, tudo estava vivo, emaranhados naquela luz, maravilhosa, ritmada com os sons da cidade, e com os perfumes que dela emanava, havia algo mágico no ar. O cheiro delicioso a pastéis e a doçarias de todos os tipos era inundado pela pimenta e pelo quente, apetitoso chá verde de menta, com morango. Iguarias percorriam as narinas de todos, ou não seria esta a famosa “Cidade das Guloseimas e dos Prazeres”, e, enquanto o piano do centauro e a citar da fada tocavam, em acordes, harmoniosos, apaixonados, encantados, os gatos miavam contidamente com as suas vozes de sinos, as pessoas conversavam, as vizinhas mexericavam as notícias matinais, o Sol nascia sobre as montanhas, eclipsando o vale de Cyborg Town num belo arco-íris de um caleidoscópio de sensações, impacientes, ansiosas por diversão.

E, a Princesa Eudóxia Pelkafaninabaswerti, “Pequena Cobrinha do Açúcar”, como o pai lhe chamara carinhosamente, por ter uns lábios mais doces e ternos que o açúcar, e por causa dos seus olhos castanhos parecerem iguais a chocolate, rematado pela sombra de cacau negro e pelo rímel apimentado dos ornamentos que trazia, na cara morena, debaixo de uma cabeleira, negra, com o longo cabelo apanhado sobre um complexo apanhado, no qual um rabo de cavalo saía, dos tufos daqueles sedosos, lindos, ondulados cabelos de menina de catorze anos, lá estava, a comprar coisas à sua própria vontade, andando sem escolta, sem ninguém a acompanhá-la, apenas com um vestido vermelho, e cor-de-rosa, cujas alças seguravam o lindo peito, liberto sobre o ar fresco da montanha. Mal sabia ela que iria encontrar o marido da sua vida…!
Talvez fosse a distraída personalidade da princesa a qual as pessoas Tienenses achavam piada àquela rapariguinha, ou talvez fosse o seu carácter sonhador, espirituoso, e um pouco guloso. Era verdade, com o seu ar de adolescente, ela comia mais doces que nem uma outras fada ou humana qualquer. Era tão bela na sua idade, que até os centauros e grifos a vinham pedir-lhe a mão em casamento, e adoravam-na, como se adora uma deusa mãe. Todos os homens, velhos e novos, de todas as formas e raças, vinham trazer presentes ao Dristin Weltar, o palácio oficial da Família Real, das mais variadas e impressionantes maneiras: desde ás garrafas de bebidas doces, como sumos naturais e poções feitas pelos Feiticeiros, até aos pergaminhos de emocionantes histórias, escritas e narradas por Elfos, até a ramos de flores de duendes, e até se contava que Deuses, ricamente poderosos, de outras terras e reinos, lhe ofereceram elefantes preciosamente ornamentados de ouro e pedras preciosas, maravilhosas iguarias e cinquenta escravos negros dos grifos das terras de Sul de África, até os Demónios do Império do Meio e do Império do Japão tentavam a sua sorte, com cartas e poemas do mais formoso e inspirado que alguma vez a rapariga alguma vez conhecera. Não havia príncipe ou camponês em todo o mundo que não conhecesse as virtudes e beleza da perfeita filha mais nova do Rei Neptuno, e, todos os dias, fizesse chuva ou sol, havia uma fila quase interminável de vários pretendentes, e os elfos, os duendes, os gigantes, os demónios, os grifos, os centauros, os príncipes, os senhores feiticeiros, os imperadores, os reis solteiros, os deuses mesmos, esperavam, numa fila que se poderia contar até aos milhares, e vinham vestidos de todas as cores, de todas as maneiras possíveis, de todos os feitios, quer fossem pescadores ou até mesmo senhores nobres, como duques, marqueses, guardiães, condes...Um sem fim de apaixonados, que, anteriormente dedicados à Deusa Bilafassabnsair, a Deusa do Amor e da Beleza, que, a cada dia que passava, ficava cada vez mais furiosa, ao sentir que uma simples filha de um semideus era mais idolatrada por todas as criaturas masculinas do que ela. Queixosa e fingindo-se triste, pediu de joelhos ao Deus Tsesustan para que matasse a princesa, e que, de uma maneira, fizesse com que a princesa se casasse com um monstro, tão cruel, tão feroz, que a pequena Eudóxia Pelkafaninabaswerti sofreria um castigo eterno!...
No entanto, nessa altura, até o próprio Deus do Mal e da Discórdia estava já enamorado pela rapariga, pelo que, confuso, mandou que o Desejo (Polafafra) lançasse as suas setas de luxúria e de amor para um bruxo malvado qualquer.
Inesperadamente, as flechas vieram acertar no coração de ferro de um certo pasteleiro com barba ruiva por fazer, e o longo cabelo ruivo aparado, num astuto disfarce, com os cabelos brancos, lá na sua vida pacifica…Mas lá chegaremos.