sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Uma "Convidada" Indesejada


Com um simples estalar de dedos e umas quantas palavras, o Assassino tinha conseguido tirar a Eleonora tudo o que lhe tinham dado!... Como é que ele conseguia fazer aquilo, melhor; porque é que a fazia passar por tanto sofrimento?!...

Com as mãos apoiadas sobre o travesseiro vermelho escuro de algodão puro e suave, os seus olhos tornaram-se vermelhos de raiva.
Jamais consentiria que aquele homem lhe tocasse num único cabelo que fosse, mesmo que isso significasse a sua morte…Ela sabia que a rejeição do noivo ao matrimónio significaria a morte da noiva. Era uma lei estúpida, ela sabia disso, mas era um costume já muito antigo, e não queria ser acusada de nenhum adultério. Naquele tempo, uma “Çomanoiraia” – que significa rosa vermelha murchada – era preferível deixar-se morrer e cometer suicídio ritual por uma espada dum homem, do que ser considerada uma demónio imunda e ranhosa, que ninguém poderia tocar. Isso seria a desonra das desonras para a família dela. Tudo menos isso.
Desde pequena, a princesa tinha sido ensinada através dos antigos costumes atlantes, praticados pelas mais velhas e sábias fadas, de todo o bosque, de toda a floresta. Sob altos vestidos coloridos com abas decotadas de renda e espartilhos apertados invisíveis de seda, o mundo das Fadas e das mulheres atlantes estava reduzido à religião, à beleza, o amor matrimonial, e a passeatas pelo campo com as amigas, ou caso fossem das classes mais baixas, teriam que cozinhar para o marido, as mulheres sacerdotisas, as burguesas e as nobres jamais cozinhavam, a não ser nas oferendas para os dias santos de cada deus patriarca ou deusa matrona de cada família ou região da ilha.Enquanto que o papel do homem era o da guerra e o da liderança e amizade para com os seus camaradas e companheiros de batalha e jornadas, a mulher era a “Senhora da Sua Casa”, de facto, era o único lugar onde ela mandava, e, não lhe admirou muito que Samiel ficara indignado com o comportamento pouco formal dela. Embora em outras religiões ou países não fosse assim, a mulher atlante tinha um pouco de liberdade para passear sem estar de guarda com o homem, excepto se este não fosse o seu irmão ou filho. Também estes privilégios estavam reservados ás mulheres feiticeiras nobres e às criaturas sagradas femininas mais santificadas de toda a Atlântida. A Rainha Melnjar, sendo a Deusa e Senhora Suprema, poderia ir sozinha aonde e quando apetecesse, tinha poder total sobre ela própria, como qualquer mulher moderna, o que seria um escândalo, principalmente vindo duma princesa ordinária como Eleonora…

De súbito, as lágrimas não lhe vinham à cara, pois ela estava fascinada por aquele homem, os olhos verdes da noite, que lhe provocavam arrepios, aqueles mesmos olhos que tinham hipnotizado a sua querida amiga Ariana agora olhavam para ela, e, subitamente, ela não se sentia sozinha, mas também não se sentia enfeitiçada ou inconsciente, era como se algo mais forte dentro dela emergisse para se defender da Magia Negra do Assassino do Amor….Conseguia enfrentá-lo nos olhos. Conseguia olhar naqueles olhos de esmeralda, e não ter medo, mas sim ódio! Ódio era o que sentia, por dentro, e por fora. O florete ou sabre do homem quase que se recusava a ser desembainhado para fora para a matar.
- Serás morta dentro de dois dias, Eleonora. – Disse o homem friamente, olhando-a de relance com desprezo. – O teu coração não me serve para me alimentar.
- Isso quer dizer que não sois demasiado cruel para terdes a decência de me matar, como mandam as tradições? – Perguntou ousadamente a jovem, quase num tom trocista, mordendo os lábios com tal impertinência.
O homem limitou-se a fechar as portas ruidosamente atrás de si, obviamente perturbado e irritado com a esperteza e raciocínio rápido da jovem. Ela não era como as outras. Ou talvez seria?...