quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Seguir o Caminho de Tezcatlipoca (excerpto de livro)


Fosse lá ilusão ou não, o quarto enorme onde a Imperatriz acordou não era daquele que pudemos imaginar em sonhos: era melhor…! A câmara onde estava era ampla e com cerca de vinte metros quadrados de área, um palco de madeira de andiroba, onde a distinção e elegância combinavam em várias carpetes, cobrindo o chão gelado. Uma brancura e organização dominavam toda aquela sala, iluminando-a com raios de sol potentes, afastando as cortinas verde-escuras de veludo, bordadas com flores de gerânio e passarinhos colibri de ouro. A sala rectangular, com os tectos pintados em frescos de magnificência renascentistas, ostentavam um bom-gosto espantoso, e, sem a menor sombra de dúvida, uma repressão fascinante, um poder incapaz de ser controlado, uma caverna repleta de maravilhas, antiguidades, riqueza que denotava uma perfeição impossível.

A cama de talha dourada, com vários jaguares a proteger as alcovas de cores quentes, e de pele, eram tão fofas como nuvens, podendo alguém afundar-se completamente nelas, esquecendo tudo e todos, enquanto que as colchas eram cor-de-rosa, marcando uma imagem claramente compreensível e que sabia o que os outros queriam, embora não pudesse ser muito confortável, quando Sarvahdinada recuperou por fim os sentidos, pensou que estava num sonho criativo e artístico, muito clássico, mas imaginativo.

Sobre o tecto, um candeeiro de lâmpada de ouro dava o toque final à sala branca, enchendo o ar de um incenso perfumado em hortelã e gerânio, gerando um efeito soporífero em qualquer que sentisse tal delicado e fino aroma. No canto inferior esquerdo, havia uma porta para um quarto de banho, com torneiras de metal, com kinnaries pintados a ouro, e com jóias de turquesa, tudo isto rodeado por azulejos mesoamericana, demonstrando cenas de um paraíso azteca, onde a água e o azul-claro proliferavam em harmonia com as árvores e animais descritos em tal Éden selvagem.

No entanto, rodeada de tanta riqueza, ela não podia deixar de se sentir assustada. Alguém a tinha levado para aquele lugar, e, abrindo os olhos, espantada, num sitio onde não devia estar, ela reparou que as suas roupas tinham mudado de sujos trapos, para sedas brancas, um vestido de noite belo, e, que lhe assentava que nem uma luva, agraciando a sua curvilínea figura.

Ela sentia que alguém a estava a vigiar, e então, viu que a sala onde estava tinha como janelas cinco portas para a varanda, onde saia uma luz espantosa, várias flores repousavam, verdes, encantando o cenário, cintilando, a meio da manhã. Só então reparou que estava num palácio, cercado por uma selva imensa, a perder de vista.

Quando dormia em pequena no Château do Duque Von Tifon, ela tinha o quarto mais belo que se pudesse imaginar...mas não era nada comparada com este quarto digno de uma princesa dos contos de Fadas Bellantes. Na Alemanha decerto que não haveria uma vegetação tão variada. Se não tinha sido raptada nem pelos Alemães, nem pelos homens da temível Kempeitai, então aonde estaria ela...?

Embora gostasse da qualidade e do tradicional, aquilo certamente era demasiado tradicional, até mesmo para ela; móveis de mogno escuro, tirados de um antiquário qualquer, uma biblioteca privada cheia de livros e livros sobre a vida azteca, até existiam cópias raríssimas e modernas de códices de civilizações mesoamericana!... Havia uma moldura de uma fotografia a preto e branco assinado pela autêntica Mata Hari, datado de 1915, e até havia, ao pé das janelas, um esboço verdadeiro encomendado pelo proprietário a Picasso das Demoiselles de Avingnon, coisa que espantou muito a mulher, foi ter visto um pisa-papéis em metal do símbolo do México, uma águia a segurar uma serpente, empoleirada num cacto, sobre uma das prateleiras da pequena biblioteca de livros, todos eles em Inglês corrente ou em Mexicano, ou mesmo em Bellante, sobre Shunrasen. Pousado entre outras coisas, estava também um aquário em forma piramidal, como se fosse um templo mesoamericano, com os seus cinquenta centímetros de altura e dois metros de largura, e quatro peixinhos diferentes a nadarem, livremente, entre algas tropicais e corais provenientes, talvez, segundo os cálculos de Sarvahdinada, do Golfo do México.

Pondo os braços nas colchas da cama, ela respirou bem fundo o ar fresco que vinha da selva. Se tudo indicava para um clima exótico e quente...Supôs que aquele palácio só podia ser do seu salvador ou do seu raptor. O mistério assombrava Sarvahdinada Di Neptunus, e quanto mais pensava nisso, mais embriagada ficava com todo o esplendor daquele quarto.  Quem é que poderia viver ali...?

Os cabelos reflectiam os raios de Sol numa cor dourada e açucarada, estendidos ao comprido na cama. Ao passar com os dedos a longa cabeleira, Sarvahdinada ficou boquiaberta! Estavam mais sedosos do que nunca...! Um milhão de perguntas assaltavam a sua cabeça, mas, quanto mais pensava nisso, mais confusa ficava.
Entretanto, suspirou, aborrecida, esperando que alguém lhe desse respostas, para toda aquela confusão, sim, porque a solução para todo aquele mistério não ia exactamente bater à porta, pois não? Ou seria que ia?... Bom, o que importava é que ela estava sã e salva, e que, aonde quer que estivesse, já deveria estar bem longe daquelas criaturas asquerosas e demoníacas…Pelo menos por agora.
De repente, umas portas escuras de carvalho refinadas abriram-se juntas, de par em par, e ela viu um homem moreno ricamente vestido numa túnica negra, bordada com espirais de sangue quente. Usava uma gola felpuda de pele de jaguar escuro que ornava a capa de couro, que caía desde os ombros até ao chão de mármore escorregadio. No entanto, o rosto era incrivelmente masculino. Os seus olhos verdes brilhavam num mórbido e estranho prazer. O cabelo negro tinha sido rapado de forma militarística e moderna. O nariz cruel e afilado (tal como qualquer guerreiro antigo da Bellanária) pressentiu o medo dela. O pior nem era isso, ela conseguia escutá-lo, conseguia ouvir o barulho do pé artificial de obsidiana a roçar contra o chão, como se fosse um coxo, porém aquele, aquele era um homem muito poderoso.
- Muito bom-dia, Princesa Sarvahdinada...já lá vão quase dezoito anos desde que a vi, na cerimónia do Segundo Baptismo. – Disse a voz fumosa e sedutora do Senhor Tezcatlipoca num Bellante corrente e fluente. O barítono calmo daquela voz causava-lhe arrepios. – Para os Humanos, dezoito anos é muito tempo, mas, como muito bem sabeis, para mim isso é uma mera migalha nas centenas de anos que estarão para vir.  
Sarvahdinada, surpreendida com o facto de que o homem que a tinha salvado das tempestades do Deserto da Sabedoria fora o deus que outrora exigia mais sangue humano do que outro deus no panteão Bellante, não deixou de inclinar respeitosamente a cabeça em direcção ao deus de dois metros de altura.
- Muito obrigada pela vossa misericórdia, meu Senhor! – Gaguejou ela, o coração a pular, tanto da adrenalina de conhecer um verdadeiro deus em plena consciência, como também da aflicção. O que quereria o Criador de Si Próprio dela?
Enquanto um jovem servo pousava um sumo de maracujá e biscoitos de manteiga numa bandeja de prata à beira da cama, ela sentiu a respiração do deus perto dela. Sem que desse conta, ele já estava sentado na cama do lado dela.
 Estalando com os dedos anormalmente magros, quais patas de um jaguar faminto, ele olhou gentilmente para a mulher, que agora lhe virava as costas.
- Oh, Princesa Sarvahdinada...O prazer foi todo meu, não vos podia deixar assim, à mercê daqueles humanos selvagens. – Acenou neutralmente para a comida. – Aceitei, por favor, filha do meu sangue, estas delícias.
- Aqueles Japoneses não são selvagens! Eles só estão a cumprir o dever deles, que culpa têem do Imperador deles estar em guerra comigo? – Respondeu Sarvahdinada num tom estranhamente corajoso perante um deus.

 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Os chocolates não tão amargos (Parte II)


Embora a Dinastia Di Neptunus já viesse de seis gerações combinada com vários casamentos de outras famílias nobres da Bellanária, Melnjar VI começou lentamente a ficar cada vez mais parecida com a primeira Imperatriz. Na maior parte das vezes, a tia de Eris tinha uns sonhos muito esquisitos à noite. Dizia que, quando o marido a vinha visitar, o ardor da paixão não era o mesmo quando eram novos, que sentia-se a arder de febre sempre que estava sozinha, e que ao acordar de madrugada, via que estava ali, à beira do seu leito divino, a pele de uma cascavel dos montes do Sul Bellante. Que as cortinas sibilavam à noite, que ela estava sempre a ouvir as cordas de um instrumento exótico ao adormecer, um zumbido de outro e uma voz de uma mulher a cantar sabe-se lá de que lugar, numa língua estrangeira.

- Mas…oh, como todos estes sons são belos…tristes mas belos! As árvores a assobiar ao ritmo da música, enquanto os pés cantam ao sabor do vento…Olha, uma coisa, filha: se alguma vez experimentares os chocolates e pastéis dos Di Euncätzio, não te duvides dos teus sentidos, pois estas iguarias são comida demasiado voluptuosa para donzelas da tua idade. – Comentava a tia à princesa enquanto caminhavam em direcção à carruagem que as levaria até ao bairro Chinês. Como sempre quando saía, a Imperatriz usava, juntamente com o quéchquémitl da cor da noite pintalgado com estrelas, uma túnica da cor do mar, aveludada e que chegava a cinco metros de comprimento de cauda, com a tiara prateada com penas prateadas de Imperatriz a adornar a longa cabeleira, amarrada num carrapito de carvão fulgurante. Cabelo esse que chegava perto do peito elegante de senhora. Levava um leque de penas de quétzal, adornado com uma jóia de madrepérola.

A acompanhar a senhora, estavam duas aias de inferior mas graciosas vestes que a ajudavam a carregar o pesado Keramyatzal, a túnica de sete peças cerimoniais, apenas usado pelas donzelas da casa Imperial. Ambas usavam lindas tiaras de bronze, os símbolos das respectivas nobres famílias que faziam parte da corte de Suryadevnahutbal encravados em cada uma. Também elas usavam o quéchquémitl, a camisola sem alças ou mangas, que cobria dois terços dos seios delicados. Estas usavam lindas saias cor das ameixas, de um vermelho rosado, combinado com uma rosa bordada em branco, a cor da felicidade e da pureza. As sandálias cor das lindas flores alaranjadas com sinos de prata anunciavam a todos os sacerdotes, guardas, servos e escravos que aquelas eram as aias da Imperatriz.

As trombetas de bronze ecoaram por todo o districto sagrado onde viviam os nobres de todo o Império. Eris tinha-se apressado para pôr o seu melhor quéchquémitl cor do oceano, claro como os seus olhos. Tinha lavado o cabelo nas casas de vapor que existiam no districto, desenriçara-o e pusera um pouco de perfume doce de baunilha por todo o corpo. Tinha esperança que voltaria a ver o seu querido Samiel…! Seria que a mãe finalmente consentira em conhecer formalmente a família dele? Que poderia dizer ao jovem, formoso e simpático pasteleiro?

A tia esboçou um sorriso ao reparar que a princesa usava uma bonita túnica salgado da cor da turquesa a cobrir os seios bonitos como duas laranjas suculentas.  O ribombar constante dos tambores e das alegres flautas acompanhava os guardas que, ora montados em cavalos monstruosos, ora a tocar os instrumentos, caminhavam em direcção às escadas de mármore que davam para a saída sul do complexo divino e senhorial. Supostamente, os tambores, as trombetas e as flautas tocadas num salmo protegiam e abençoavam as seis senhoras que se afastavam de Suryadevnahutbal (o Sítio em que O Sol Abençoou). A própria Imperatriz juntou as mãos a um espinho de agave, causando um pouco de sangue em ambos os dedos anelares.

- Que os Deuses nos abençoem nesta viagem tão perigosa, a mim e à minha humilde sobrinha, Princesa Eris Di Neptunus. – Com estas mesmas palavras cantadas, arrancou um pedaço do cabelo arruivado e dourado da princesa, em seguida queimando-o num pequeno incensório em forma de coruja. Tudo isto acompanhado com o sangue das seis damas e os espinhos do agave. A partir de aí, as nuvens que outrora ameaçavam o alegre passeio da Imperatriz e da sua escolta (oito guardas, duas aias, as damas-de-companhia da Princesa e a própria Eris) desapareceram por completo. Melnjar VI ainda tinha um pouco de poder vindo dos seus antepassados dragões emplumados, metade homens, metade serpentes.  Ou seria por causa dos quatro guerreiros músicos que Jutierkajam, Jetwas e a sua mulher Shamanarta tinham decidido que não iria chover na viagem de quinze quilómetros até ao bairro Chinês…?

Ao atravessarem os portões, Sua Divina Alteza soltou um grande suspiro:

- Há décadas que não saía de Suryadevnahutbal. Só quando chegaste de barco há dez anos atrás é que saira para te conhecer, filha. – Parecia um pouco exausta com o pequeno encantamento, ao abanar-se com o leque de penas de quétzal.

Com ambas separadas por uma parede fina de pele de jaguar que determinava a posição de tanto a Princesa como Sua Divina Alteza, Eris lançou um olhar discreto para as janelas, cobertas com cortinas púrpura. Ninguém poderia ver o rosto da Princesa. No entanto, a Sobrinha da Imperatriz gostava tanto da Cidade dos Deuses que não podia deixar de ficar curiosa.

 - Tia…a que se deve esta saída momentânea do Lugar que a Senhora Bilafassabnsair escolheu para Ser o Lar d’Ela?

A mulher mais velha soltou uma risada paciente. No entanto, por detrás do leque e da pequena cortina de pele, os olhos azuis brilhavam com um ar de desprezo. Enquanto que a mulher mais nova tinha um belo cabelo louro arruivado, a Imperatriz usava um cabelo negro, severo, quase tão negro como a noite. Porém, não tinha o aspecto trigueiro e suave das mulheres da plebe. Eris, a sua Sobrinha, estava a tornar-se demasiado popular na Corte de Suryadevnahutbal, precisamente pela sua insistência no bom-gosto, nas leituras, e, claro pela sua beleza encantadora. A Princesa era exactamente o pólo oposto de Sua Divina Alteza. Enquanto que a Imperatriz pensava que os poemas eram algo digno apenas de cerimónias religiosas e  de Estado, Eris tinha o hábito de recitar poemas a toda a hora. Adorava fazer peças teatrais com as aias e gostava de apanhar ar fresco…Algo que fazia com que a maior parte dos sacerdotes franzissem o sobrolho. Mas a verdade é que ela era calma, sorridente e graciosa: três qualidades que obviamente faziam com que ela fosse a preferida dos altos-oficiais do Exército da Guarda Imperial.

Sua Divina Alteza achava que aquele comportamento de nunca aceitar um único pretendente de linhagem nobre, mesmo pela via tradicional de uma casamenteira, era recato a mais. E Saburou Di Euncätzio, o meio-irmão de língua bifurcada de Samiel, sabia como dar a informação exacta à Imperatriz sem levantar quaisquer suspeita das açafatas. Escandalizada com aquele comportamento da Sobrinha, a Imperatriz mandou uma carta a Yee Di Euncätzio. Preferia que ela se casasse com um filho legítimo de uma família talentosa e burguesa…do que ser a amante de um homem sem berço, um filho adoptado pela porta do cavalo!

Mas, mais do que isso, havia algo nos olhos azuis que inspirava medo. Era o tipo de sentimentos mesquinhos que uma filha não quer numa mãe.    

- Acontece que, através dos meus espiões, soube que há um homem da classe burguesa que está interessado em ti, filha. Por isso, decidi que seria melhor conhecer a família do teu pretendente do que estar a perder tempo a ouvir coisas alheias.  

Um homem da classe burguesa?! Eris ficou radiante de contentamento, ao pensar que aquele homem era o formoso e jovial Samiel. Como estava enganada! Antes mesmo de sair de Suryadevnahutbal, ela tinha a ligeira impressão que eram os Di Euncätzio quem elas iriam visitar, mas nunca pensara que a tia estaria a planear casá-la com um dos filhos do Mestre Di Euncätzio.

Sim, ela estava de todo convencida que iria encontrar-se oficialmente com o seu querido harpista.

Ao chegarem ao bairro Chinês, foram recebidas por uma multidão de imigrantes das Ásias, expectantes. Porque seria que a carruagem de Sua Divina Majestade se tinha dignado a passar por eles?

Uma bela senhora de origens Chinesas abriu os portões de trás da pequena vivenda onde vivia Yee e as suas cinco mulheres mais os seus filhos. Era engraçado, pensou a jovem Princesa: a mulher, apesar de não se parecer nada com Samiel, tinha  os mesmos olhos verdes. Eram muito bonitos, aquelas pérolas que se viam por detrás do véu delicado de seda perfumada… Tinham um ar tão amável, tão maternal!

- Sedes bem-vinda à Pastelaria Di Euncätzio, Vossa Divina Alteza e Alteza Imperial!  – Fez uma vénia extremamente formal a ambas as mulheres, quando estas desceram da carruagem.  – Peço-vos muito humildemente que me acompanhai até à sala de espera.

Eris sorriu, ao vislumbrar outra mulher de olhos negros e rasgados, com as mesmas vestimentas que a primeira. Ambas pareciam doces e muito esbeltas, embora ela só conseguisse ver os cabelos negros e exuberantes. Parecia quase inacreditável que fossem as esposas de Yee Di Euncätzio. Pelo pouco que tinha ouvido falar dele, o Mestre Di Euncätzio não era exactamente alguém sociável. Samiel tratava-o carinhosamente a ele como o “Velho”.  Só isso dava uma pista óbvia de como era o cobarde chefe da família de comerciantes.

Porém, ao chegarem ao opulento e colorido átrio, ela ficou encantada…! Alguém estava a tocar um alaúde Chinês.

- Princesa…A sua presença ilumina esta casa Chinesa. – A voz sabia falar Bellante vernacular da Cidade dos Deuses, mas não era a de Rwebertan Samiel Di Euncätzio.

- Hime wa koko ni aru…arimasen ka? – Outra voz de homem, mais velha, desta vez em Japonês, numa corrente de sílabas quase incompreensível para a princesa. A princípio, pensava que era o “Velho”, mas quando uma mão feminina, mas com unhas compridas e esquelética, ligou o óleo que percorria a casa, iluminando os candeeiros de cristal, ela reconheceu os dois Encantadores das Montanhas Japoneses.

Arqueou as sobrancelhas, ao ver que os três olhavam para ela, deslumbrados com a beleza dela.

O do meio assobiou num tom rude:

- Erisu-Hime kawaii wa desu, nee?    

O mais novo soltou uma risada quase arrepiante e falsete, enquanto mostrava os seus dentes afiados. Mas o mais surpreendente é que era ele quem estivera a tocar aquele Rhuan.  A Princesa nunca esperaria isso de um homem que parecia ter a mente ligeiramente perturbada.

- Vá lá, cavalheiros, não façamos disto um circo. Afinal de contas, estamos na presença de senhoras da corte sagrada de Suryadevnahutbal.
 
Uma mulher, alta com lábios sensualmente vermelhos, vestida às maneiras de uma senhora de corte Japonesa com treze camadas de roupa, apareceu, descendo as escadas em caracol  em cujos corrimões estavam empoleirados os três filhos: Yamelino, Hayabusa e Saburou. Eris ficou um pouco enojada quando a Senhora Uarasaki sorriu: tinha os dentes afiados e negros, como o carvão.

 As quatro damas da corte recuaram, um pouco assustadas e repugnadas, pois a imagem da Senhora Uarasaki assemelhava-se aos olhos delas a uma prostituta. Tentaram implorar à Imperatriz para que se retirassem de imediato para o districto sagrado, antes que ficassem impregnadas com tanta imoralidade burguesa. Mas Sua Divina Alteza estava sob a influência dos dois Demónios da Inveja e da Vaidade.