quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Há sempre algo para dizer

De volta com este pequeno excerto dos tempos do Assassino do Amor!


À meia-noite, há sempre algo a dizer...

Uma flor caiu nos cabelos da jovem princesa, ao olhar para a água cristalina do lago que as fontes termais perto do Castelo Negro formavam. Ela não ligou muito para aquilo, mas os olhos estavam abertos, e o nariz captou umas mãos de homem a massajarem-lhe os ombros. Eram umas garras esqueléticas, mas gentis.

Ela nem pôde acreditar: o Assassino do Amor, o implacável senhor daquele palácio sinistro, olhava para ela com um olhar doce, enquanto descalçava as botas e desapertava o robe oriental.

Os olhos negros dela brilharam ao luar, enquanto ele entrava na água quente e a deitar espuma, como se fossem nuvens fofas de algodão. Estas nuvens cobriam o peito macio e de chocolate da princesa arco-íris, cujos cabelos negros apanhados num gancho de jade em forma de borboleta eram tão negros como a noite. Os cabelos ruivos dele resplandeciam como labaredas de fogo, ansiosas por consumir o mais precioso dos frutos concebidos pela Natureza!

A jovem virou a cabeça quando os dedos dele a tentaram acariciar. Aquelas duas esmeraldas forçaram-na a olhar para ele.

- Vossa Alteza está muito melancólica esta noite. - A voz metálica e aguda ressoou no silêncio nocturno. - Porque é que me evita?

A jovem tremeu quando ele encostou a cabeça ao ombro nu dela. Agora, depois do rapto, depois de saber que tipo de homem é que aquele bruxo era, a princesa mais nova do Rei Neptuno estava aterrorizada. Aquele homem, tão forte, mas tão perigoso, estava tão perto dela, como a flor estava da água a ferver. O nariz dela apanhava o desejo que ele respirava por ela, tão intenso, como as pétalas da camélia.

Inevitável aquele sorriso malicioso, enquanto lhe esfregava as costas femininas com as pétalas das camélias, ele suspirou, indiferente ao terror dela.

- Jamais devia ter-vos deixado com aquelas fadas malcriadas. - Ele encostou ao de leve, o nariz curvo de falcão perto das ancas suaves como seda, aquelas ancas frágeis e belas, que o faziam ansiar por mais. - Elas não compreendem que eu vos amo, muito!

Anjali Sarvahdinada engoliu em seco, ao ver que aquelas garras não a iam libertar.

- Por favor... - A voz dela murmurou, enfraquecida pelo feitiço hipnótico que o Assassino do Amor lhe pusera, horas antes. - Não me faça mal, Mestre Samiel!

- Eu? Fazer mal a ti, minha flor? - Repentinamente, as garras dele apertaram a cintura dela contra o corpo forte dele. - Eu só quero um pouco da tua energia, aquela Lua dos Sonhos que está escondida...

Os dedos anormalmente magros passearam num sítio onde Sarvahdinada não queria que estivessem! Arregalou os olhos, indignada, quando os dedos do feiticeiro tocaram, abruptamente, no íntimo dela.

Ele sorriu com um ar malévolo nos olhos rasgados e verdes, concluiu com um riso de hiena, perverso:

- Aqui, no teu templo sagrado!

- Tire...esses dedos demoníacos de mim!

A jovem princesa tentou espernear, mas o seu corpo não se mexia! Estava mesmo enfeitiçada por aquele homem maluco!

O que o Mestre Samiel não esperava era uma jovem fada dos seus dezanove anos, de lança em punho, preparada para defender a Princesa Arco-íris, dois anos mais nova que a Kinnari, a metade fada, metade cisne!