quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Um lírio selvagem... (Parte I)

Disseram a “Gisélia” – que era em breve, o nome que ela passaria a ter nos documentos oficiais – em Português para aguardar um pouco, pois “Sua Excelência” acabara de tomar chá, e, definitivamente, não queria ser incomodado.
Enquanto, de cabeça baixa em sinal de respeito, ela estava sentada num grande sofá encarnado de linho puro e bastante confortável, para se entreter, impaciente, a jovem brincava com a cabeleira negra, repleta de adoráveis anéis encaracolados, com um grande lago castanho-escuro, curto, e aonde não havia nem um piolho sequer. Toda a gente dizia que ela era feia e pequena, pelo que nunca poderia ter filhos e casar-se, assim tão má, poderia enfurecer os espíritos, e, furiosos, estes vingar-se-iam nos seus futuros filhos! Ela tinha um nariz demasiado pequeno e pontiagudo para as suas filhas serem bonitas fadas, ela tinha lábios e olhos demasiado grandes, uma cabeça “grande” para caber tanto saber! O que na linguagem prática dos Elfos significa que ela era infértil. Coisa que se veio provar a ser mentira, mas lá mais à frente iremos.
Añuli era filha da natureza, por que estar numa casa de Bruxos ou de Humanos, para ela, era algo, novo.
Durante a sua prolongada espera, diversos criados demónios ofereceram-lhe gentilmente vinho, castanhas, nozes, avelãs, Frambinam, chá de bambu, e até cigarros de hortelã-pimenta, mas tudo ela recusou. Tal como todos os seres da Floresta de Cristal, ela tinha feito um voto de pobreza e de descolar-se de tudo o que era luxuoso, voluptuoso e sensual. O único adorno que ela usava era um simples lírio amarelo como gancho para os cabelos encaracolados, que, por vezes, se lhe punham à frente da cara pequena e triangular, arredondada. Um esboço de mãos negras, deliciosas, já com vários calos, desenhavam-se sobre as suas próprias mãos, enquanto, que, direita, repunha os pés descalços e sujos, como que pequenas patas de uma cria de leoa, e nem se atreviam a sujar as compridas, garbosas, faustosas carpetes vindas do oriente.
O olhar dançante, retumbante, ardente, de uma pequena que já sabia tudo, parecia querer adivinhar, com curiosidade, onde raio estaria ela…Agora já não estava assustada, mas sim com um estranho sentimento, que lhe queimava o medo e receio, e, que eram substituído por um bizarro formigueiro na cabeça, que os braços, que as mãos humildes, que os próprios pés, queriam aprender todas as novidades que lhe eram favorecidas aos olhos. Criatura divina, iluminada, ela era um elfo fêmea, contrária àquelas que os antigos nórdicos as pintavam. Mas, em breve, seria alta, julgava a pequena criatura da floresta. Nascida entre os rochedos místicos e iluminados, cheios da música das ondinas e das musas, inspirada, Añuli tinha uma aptidão angélica para cantar, com uma voz efeminada barítono, e que adorava cantar, entoava poemas, como quem pensa alto, e em sempre rimada, ela entusiasmada, como qualquer criatura da floresta, adorava a música, pois era o privilégio, o tesouro dos pobres.
E, teimoso, o seu espírito, parecia querer, cantar, ali, mesmo, com todas as suas lindas flores escravas de um negro destino.
Cor de pele é uma ilusão, alegria de escravo é realidade, feiticeiro nórdico ser senhor, é uma mentira, incumbida por maliciosos diabos e transmitido entre malditas e malvadas bruxas, oriundas das brumas inglesas…! Tudo isto falava ela e cantava, em baixas ladainhas, fingindo dançar inocentemente ao ritmo das suaves fragrâncias que se faziam sobressair naquele sítio de sonho.