domingo, 18 de janeiro de 2015

Califa Onisamatzeka

Um Mundo Tanto de Luz como de Escuridão - Ou o Califa Onisamatzeka 

Prólogo Histórico

Numa época em que mal se falava sobre o Clã Bre'Ziziki em 1226, Shajaaka, o II do Clã Muçulmano Shajaaka, casou-se com a jovem filha de Arij-Çarvnatr, a Senhora da Ilha Tartaruga Flutuante de Jade, no Sudeste da Bellanária. Badrya-Asharadinwada queria escapar ao enleio com o Terceiro Filho de Yekatörya Di Euncätzio.  




Nessa altura, só existia o Caminho do Peregrino e a Ponte do Senhor Xorunash ainda não fora construída. A floresta de Xorunash era imensa e o rio S'vnark' era forte, de tal forma que a cascata por onde caía era chamada "Mandíbula de Saburou Di Euncätzio". 

Nessa altura, doze anos depois, um filho ilegítimo da Princesa da Luz - a filha do Califa e da Rainha Badrya-Asharadinwada - e de Yasunori Saburou ocupou o trono do  Califado.  Ficou conhecido como o "Ajaw Onisamatzeka", o Rei Onisamatzeka. 

Esses cem anos foram conhecidos pela "Avalanche da Magia Negra", até que Mokuren Hime restabelecer a paz com um exército tanto Budista como Muçulmano, em 1340. 

Em 1350, fundou-se o Clã Bre'Ziziki, uma aliança entre clãs Humanos Muçulmanos do Norte de África e do exército de homens e mulheres do Nordeste Asiático com os descendentes do Clã Shajaaka.  

Durante estes anos prósperos - em que a agricultura era rica e o comércio entre o Califado e as outras regiões Imperiais alargou-se - e por muitos mais séculos - Petrybloom permaneceu fiel aos ensinamentos de Arij-Çarvnatr. O Emir de Petrybloom permitiu que as várias religiões proliferassem pela região Este mais nortenha do Império Bellante. 

No ano Católico de 1700, o Califa Himmayasdev tentou destruir um pequeno sanctuário em honra ao filho "Desconhecido" de Yasunori Saburou.  O Emir dos Crentes acreditava que aquele sanctuário, localizado nas Florestas de Xorunash não passava de uma fachada para que os "Seguidores" dos Di Euncätzio tentassem conspirar contra o Clã Bre'Ziziki.  Muitas foram as testemunhas que alegaram ter visto uma luz arrepiante, esverdeada a surgir do centro do templo Budista a honrar os restos mortais do Di Euncätzio. 

No meio da floresta, o santuário podia passar despercebido pelas suas cores amadeiradas e uma altura de quatro metros, uma ninharia quando comparado com as árvores do clima mediterrânico da floresta. Havia uma pequena estátua a representar uma figura da Senhora Swertyhina de oitenta centímetros a amamentar um Onisamatzeka recém-nascido e uma laje em pedra em honra ao "Califa Onisamatzeka", com carácteres antigos em Bellante do Norte. 

Uma espada comprida, elegante, de uma bainha preta, estava pousada junto ao incensório dedicado ao filho desconhecido de Yasunori Saburou. 

Havia nessa altura uma canção que tinha como tema os sobrenaturais fogos-fáctuos da Floresta de Xorunash', "As Luzes de Petrybloom". 

E como os corações se unem, 
Ao ver o Sol a nascer por detrás das montanhas, 
As flores de pessegueiro e de amendoeira a sorrirem, 
Anda e desata as correntes dos meus pés, jovem Muçulamno, 
Eu, a  que adora a Mãe das Aranhas, 
Eu, a que adora dançar durante a Vintena Naggaina!  
A que corre pelos Caminhos Antigos de Enok' e de Hideyoshi! 

Era assim uma das estrofes da canção... A canção narrava a história de uma jovem que morrera de amor por um princípe Muçulmano.  A canção terminava "como adoro o meu Princípezinho, mesmo sendo uma luz no meio da noite".  Por vezes, eram as jovens dos bordéis de Petrybloom que a cantavam,  por vezes eram os Kolmanatry que dedilhavam a sua melodia hipnótica de acordo com um alaúde com uma flauta doce e sedutora, ou sob o ritmo melancólico, dramático de um bi-wa. 

Himmayasdev teve cinco filhos, de entre os quais um era filho ilegítimo de Benzaiten, uma Onisamatzeka misteriosa, mas com um coração misericordioso. Tal como o seu nome indicava, Benzaiten era uma devota amiga da música que gostava de cantar e tocar o seu koto de treze cordas para o seu senhor.  

Foi numa noite de Outono picturesca, sedutora, quando as flores dos crisântemos estavam no seu esplendor, uma Lua em crescente sorria, como se estivesse pintada em cal. Um estranho calor abafava as salas do Palácio do Emir de Petrybloom, e Benzaiten, a Segunda Mulher do Califa, espraiou-se na ala Nordeste do palácio, numa varanda com vista para a Lua e para as estrelas. 

Uma jovem aia tocava um alaúde Persa - um tar  de quatro cordas, dentre as quais três eram duplas - enquanto um eunuco aquecia na varanda um braseiro em forma de dragão. Uma escrava adolescente de cabelos fofos, da etnia dos povos do Sul da Bellanária, estendeu uma terrina de prata com o corpo gordo e tenro de um faisão. A Esposa do Califa estava desculpada por comer um prato de carne tão luxuoso, uma vez que este não era o mês da abstenção. 

As duas lamparinas suspendidas na varanda davam ao rosto da Senhora Benzaiten um ar gracioso, mas ao mesmo tempo, intimidante, como se ela fosse feita de mármore. O silêncio era quebrado ora pela voz de Benzaiten a cantar em Bellante do Norte, ora pelas duas raparigas a cantarem em Phetrkaträlam. 

Benzaiten cortou um pedaço generoso do faisão. Ofereceu um pedaço de carne com as mangas do saree - mangas essas seguradas por outro eunuco - à pequena artista e sorriu. O seu saree era tão elegante e comprido que roçava e fazia um som metálico com  as flores de metal sempre que esta fazia o mínimo gesto. 

« Toca-me as Luzes de Petrybloom, minha querida... » 

A artista do  tar  engoliu em seco. 

« Peço imensas desculpas, mas essa é uma música a qual não me é permitido dedilhar, senhora. » 

 Ao que os olhos da aparentemente jovem senhora do Califa dardejaram num tom ameaçador. 

Quando estava para dizer à adolescente para começar a tocar, um barulho metálico começou a tilintar, a ecooar pelos jardins do palácio. Era a melodia das  Luzes de Petrybloom...! 

Como a música parecia encantadora, Benzaiten cortou um pedaço ainda maior da carne de faisão e ordenou que este fosse oferecido ao vulto que tocava a caixa de música, sob a sombra de uma das laranjeiras. 

  

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