sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O Barco Precioso


Silêncio, porque agora vos contarei o resto da história sobre Claudinitiana (a Sacerdotisa da Ilha de Melxocolatlbilar) , o jovem Homem Livre e o pérfido Capitão da Guarda.
Passado o primeiro ano de liberdade que todo o escravo tem de cumprir para ser considerado oficialmente um homem Bellante, ele teve como esposa a Sacerdotisa da Ilha de Melxocolatlbilar e tornou-se assim o Primeiro Sacerdote.
Quando o filho de ambos tinha um ano, Claudinitiana decidiu pôr-lhe um nome oriental, uma vez que era mais parecido com o pai. Pelo sábio conselho do Capitão da Guarda da Ilha, o rapaz ficou com o nome de Lin Zhou - que, em Chinês, significa, Barco de Jade. Lin Zhou era tal como qualquer bebé, energético e curioso. Era difícil para a mãe não olhar para ele com carinho. Por ouvir mais as conversas dos homens e dos feiticeiros estrangeiros, Lin Zhou tentava pronunciar mais as vogais e as consoantes com um sotaque asiático, o que fazia os deleites do Capitão da Guarda, que era o seu padrinho.
Porém, a felicidade e as brincadeiras e carinhos da mãe orgulhosa, sozinha com o seu pequeno rebento dentro da gruta oculta pela cascata sagrada não durariam por muito tempo. Um dia, na ausência de Ishikawa Rukorou, do Sacerdote ou de outro homem, ao enganar a Sacerdotisa Claudinitiana tocando-a com os lábios venenosos de demónio na pele, o maldito imobilizou a pobre sereia ali mesmo. Aproveitando o facto que estava paralisada com o veneno, o Capitão pegou na criança com as garras e fugiu, soltando gargalhadas histéricas.
Quando a Senhora Claudinitiana recuperou a consciência tirada pelo veneno soporífero, ela viu que o Mestre Rukorou Ishikawa (o Rei dos Magos), a Senhora Roshini (a Rainha das Kinnaries, fadas com corpo de metade cisne, metade mulher), a Mestra Cuixtletleuctic Citlali (Estrela de Prata), o Mestre Zollin (Lança, irmão mais velho de Citlali), o Senhor Jutierkajam (o Deus do Vento Selvagem e Dourado) e o Mestre Ichtaka Ti Quetzalxoquiyae (Segredo de Esmeralda) estavam todos ao redor dela, muitíssimo aliviados. Eram eles os restantes Cinco Guardiães das Placas dos Elementos. Mas isso fica para outra altura.
A primeira a proferir uma palavra foi a Mestra Cuixtletleuctic Citlali, que apesar de ser a mais nova, era muito talentosa com as artes mágicas e ocultas.
- Senhora Claudinitiana...estais viva! - A jovem bruxa de etnia Viking e Chinesa esboçou um leve sorriso.
Sim, graças aos Deuses, o Capitão da Guarda - que afinal de contas, era um bruxo demoníaco disfarçado, que ainda praticava as artes proíbidas - tinha-lhe poupado a vida. Mas, e...quanto ao seu querido Lin Zhou? Que era feito dele? E do seu marido?
Por acaso do destino, o pequeno Lin Zhou escapou do demónio que o queria entregar ao cuidado de outros da sua odiosa espécie para o educarem como seu escravo, e foi cair no lustroso navio de comerciantes Chineses que por aquele oceano Atlântico passavam. Com a ajuda das correntes do mar - e com um pouco de sorte abençoada pela Deusa Shamanarta, aquela à qual os Chineses chamam de Guanyin, a criança foi parar às costas longínquas da China.
Lin Zhou foi então, uma vez mais, desviado do caminho do bem por invasores mongóis. Criado com os cavalos e para a guerra, o jovem filho da sereia precocemente mostrou os seus poderes sobrenaturais. Os seus descendentes começaram, lentamente, a suspeitar que descendiam ou de um semideus, ou de um demónio. E, eles estavam confiantes, que um dia, o poder da Água os chamaria...
Mas esse será assunto para outro conto, pois é aqui em que se encerra as aventuras de Lin Zhou e dos seus descendentes...por agora.

Notas da Autora - com tudo isto, esqueci-me que a imagem original de Claudinitiana tinha os cabelos pretos e tinha um ar mais da América Central... bom, talvez possa dizer que, com o tempo, as sereias mudam de aspecto, não acham...?

Sem comentários: