segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Paisagem fogosa Bellante do Norte...



A Lua dos Sonhos...ela não é maior que uma pequena taça de champanhe, e no entanto, durante séculos, fora procurada por vários homens... Começarei pelo dia seguinte de Citlali, depois de esta ter visto o feiticeiro da espada de aço. Não sei se já vos falei dos vários tipos de feiticeiros brancos, pois ficai a saber que havia um nessa altura que tinha um dedo todo ele feito de cristal, e que pertencia a uma das novas gerações de Encantadores das Montanhas que não tinham de todos antepassados da América Central. Esse homem, de túnica verde-escura e com um polegar esquerdo de cristal tinha como nome Nakamura Mohaku, e era um dos mais fiéis servidores do Império Bellante. Trabalhava por vezes para Ishikawa, mas gostava mais de vigiar as terras do Norte, para saber se havía algum demónio que fosse considerado como uma possível ameaça às populações humanas.




A mão esquerda dele era versátil com os cristais, pedras preciosas e jóias, transformando-as em amuletos poderosos contra a Magia Negra - arte maldita e proíbida entre os guerreiros do Exército Bellante. A maior parte dos feiticeiros que trabalhavam para o Império iam à paisana, e a sua principal missão era vigiar as províncias bellantes. Usavam espadas maravilhosamente forjadas com dois gumes, de obsidiana, tão afiadas quanto espadas de aço normal. O Imperador começara a contratar estrangeiros porque sabia que estes jamais seriam motivo de desconfiança dentro dos bares, pensões ou casas de bruxos.




Ora, o jovem Mestre Mohaku estava a investigar a casa da mãe de Citlali Cuixtletleuictic porque tinha sido avisado pelos seus informadores que a senhora daquela casa era uma bruxa muito perigosa, e segundo porque ela costumava encontrar-se - sabe-se lá como - com o seu primo, Kuang Lao. Kuang Lao era um dos muitos nomes que os Deuses tinham posto na lista negra desde que tinham descoberto que o seu pai era um dos servos mais leais do Assassino do Amor.

Mohaku estava como sempre, a rondar a zona antiga de Losjafhden, com o capuz cor de musgo na cabeça e a espada de dois gumes embainhada na cinta de couro. Caminhou rapidamente, como se fosse um transeunte desinteressado. O sol estava a pôr-se, fazendo com que a floresta e campos em redor da vila Japonesa tomasse um tom avermelhado, quase da mesma cor outonal das papoilas e das donzelas Japonesas(1). Ao longe, conseguia ouvir-se o badalar metálico, sempre pausado, do ferreiro a preparar, dentro da sua casa humilde, mais uma arma. Naqueles tempos conturbados, nunca se sabia. E ele, o jovem feiticeiro, apeou-se numa das praias da cor suave e agridoce das oliveiras das margens ocidentais do velho Rio Bênção, que corria tão vagaroso como nunca.

Os dedos enluvados acariciaram a areia macia. Que quietude que ali se vivia naquela vila Nortenha...e pensar que aquele já tinha sido outrora, há cem anos atrás, um sangrento campo de batalha. O reflexo do rio mostrava um rapaz dos seus vinte e tal anos, deitado na areia, com a espada encostada aos seus braços de atleta. Mohaku era de facto um jovem homem muito atraente, se é que pudemos chamar a um filho de camponeses transformado num guerreiro um homem formoso. As pessoas que o conheciam verdadeiramente perguntavam sempre se não queria casar com uma das suas filhas. Os Bellantes eram sempre assim: só porque um jovem era mais velho que vinte anos, já pensavam que tinha idade para se casar. Como se não se bastasse, as pessoas não levavam muito o trabalho dele a sério. Pelo menos as pessoas do Sul. Já se tinham esquecido o quanto precisavam de alguém para as proteger. Se bem que os Bellantes lhe faziam um pouco de pena...

Suspirou, meditativo.

Subitamente, ele viu que um pequeno barco se dirigia até à vivenda da casa da mãe de Cuixtletleuictic Citlatli. Flutuava sem pressas, como quem não quer a coisa, como uma barca de amantes.

Activo como nunca, mas sempre calmo como a própria floresta, Mohaku levantou-se, e discretamente, seguiu com os olhos a barca. Afigurava-se-lhe uma silhueta masculina. Porém, não se parecia nada com o velho Kuang Lao. Parecia até ser um homem bastante bem feito de músculos, como se fosse um guerreiro. O reflexo de uma longa espada de aço brilhou no crepúsculo. Era definitivamente um bruxo!

Uma voz grave e solene cumprimentou ao tirar o chapéu bicudo de palha:

- Boa noite, meu jovem guardião da paz...

Mais para não fazer figuras tristes do que para ser descoberto, Mohaku acenou respeitosamente com a cabeça.

- Muito boa noite, mestre desconhecido. Para onde ireis vós, ó Antigo Tio? - Perguntou, num ar informal, como se fosse o tipo de conversas que se esperaria numa sauna no Sul na Cidade dos Deuses, e não numa vila tão velha como Losjafhden. No entanto, o tratamento por mestre e por "tio" demonstrava ao velho guerreiro (que, pela voz rouca e cansada, devia estar a voltar da guerra lá naquelas distantes ilhas de outro oceano) que o jovem feiticeiro era simpático e tinha sido educado à boa maneira Japonesa.

- Venho visitar a minha tia Onisamatzeka Kazue, pobre coitada, que anda mal da barriga. - Respondeu o velho guerreiro, enquanto ancorava a barca perto da areia, num sítio onde não houvessem pedras. - Sou filho de ervanários, e pensei que uma das poções que trago à mulher lhe alivie aquela cabeça, que graças aos Deuses, ainda está em plenas condições.

Mahuko encolheu os ombros, fingindo-se comovido. Ora que essa, pensou um pouco desapontado. Era só um velho ervanário demoníaco. Não fazia mal a ninguém um oni decrépito que, na meia-idade, pensara remendar a sua existência maldita em fazer asas dos seus talentos.

Por isso, deixou que o velho demónio pusesse os pés descalços e grandes na areia.

- Muito obrigada, meu jovem. - Quando o homem se dirigiu para sudoeste, onde vivia Onisamatzeka Kazue, mudou subitamente de direcção, mais para os lados onde ficava a casa dee Citlali. Como lhe pareceu ter ouvido um tom trocista naquelas palavras, Mahuko seguiu o homem apressadamente, preocupado com a jovem protegida de Ishikawa Rukourou!

(1) Flores avermelhadas de espécie única e rara na Bellanária que têm o aspecto de uma mulher com um quimono vermelho e dourado.

(2) Os apelidos estão da maneira que apareceriam na língua de origem, ou seja, em ordem vêm primeiro, e só depois vem o primeiro nome.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=21AYfo_2Cf4

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