segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Añuli Nikemdilim - nome de uma escrava salamandra...

Añuli Nikemdilim teria os seus dezoito anos quando “eles” a receberam, naquela terra de estranhos, onde as flores e as árvores tinham um sabor estranho.
Não sabia se era ou o seu coração que estava acelerado, ou se era o facto de estar a chover que a fazia ficar assim…com um nó no estômago. Tinha de o admitir: naquela altura, não saberia o que é que lhe estaria, exactamente, a passar…A vida passava tão depressa…Porque é que agora, sem querer, tinham-lhe arrancado a roca, para que fiasse com uma linha de teia de aranha, para tecer um tecido de seda dourada, como aquela dos cabelos dourados, mas...ela não era nenhuma bruxa alemã…! Era uma fada bellante, com todo seu orgulho e virgindade, na sua castidade, e dedos que nunca tinham conhecido cravos, perfumes parisienses, e orelhas que jamais tinham ouvido falar nas cortes europeias, em 1624. Tudo aquilo era novo para ela…as construções feitas por mãos humanas, feitas com pedra, ouro, que os Humanos tinham saqueado das maravilhosas florestas Bellantes. No seu interior, já se sentia violada, pela sua natureza, e pelo seu coração, que era como uma corça, perdida, e assustada, no cair das folhas de Outono. Estava frio, tão frio, que ela conseguia sentir as suas pernas tremerem entre as suas pobres túnicas e saios, pudicos, esfarrapados, feitos por folhas de silvas e sobre enormes folhas de vinhas, que tresandavam, horrivelmente, lembrando o Inverno. Teria de lutar por tudo aquilo que amava, ou aquilo era apenas o princípio do fim!... Conseguia sentir o vento palpitar, assobiar, rugir por entre os pinheiros, escuros, silenciosos, que os únicos barulhos que pareciam soltar eram tristes lamúrias e horríveis, ameaçadores sibilos.


Ninguém tinha lhe contado absolutamente nada: a sua mãe, uma elfo de nome, religioso e crente, como deveria ser naquela altura, Paula Nthanda, apenas lhe dissera, naquela sua voz, pequena, e com um ar completamente simples, na sua língua, agora há muito esquecida, que todas as suas filhas tinham sido atadas ao “jugo da escravidão”, desde pequenas, e que, segundo o principio do Senhor Tsesustan, que a Senhora Melnjar, a guardiã das Fadas, as guardasse, a elas, salamandras, fadas do fogo, que, delas, nascia o pecado e o santo num só, e, que, só através de um homem, misteriosamente, por artes mágicas dos Antigos Deuses, o Homem e a Mulher eram unidos, num só momento, e que assim, todo o equilíbrio das coisas estavam “resolvidas”. A verdade é que as fêmeas salamandras, as fadas que inspiravam os Seres Humanos nos momentos mais picantes e que acendiam e mantinham as casas deles quentes tinham nascido escravas, e que os salamandras machos também o tinham nascido. De tão horrível fado, Añuli – com antepassados, lá nas “negras Africas”, como lhe chamavam os “Brancos” – jamais conseguiria escapar.
Assim fora também com Zola Unathi, sua avó e fiel confidente desde os quatro, e que lhe contava lendas antigas lá das Terras Sagradas, onde os Leões percorriam as douradas pradarias, e onde nunca existiam flores e pinheiros assim tão sombrios!
Bellanária era a Terra de todas As Cores, agora, e a pobre, pequena, Añuli, jamais esqueceria essas palavras, quando partira da longínqua Terra África Mãe, e que dissera adeus a irmãos, pai e tios. Não sabia quando ia, nem quem a levava, apenas sabia, que as correntes que levava já se tinham enleado nas suas próprias veias, e que as lágrimas que agora choravam, tinham-se colado nas “Negras Africas” para sempre!...

Ela observava, através dos seus grandes, olhos negros, a praia, o mar, que os seus antepassados tinham temido, e, vira, com grande tristeza, que as grandes ondas pareciam engolir as bonitas esculturas em pedra, que mais pareciam totens, figuras da sorte, que agora, nos seus tristes sorrisos, pareciam dizer “adeus para sempre”…

1 comentário:

Arthurius Maximus disse...

Emoção pura! Certamente será o pano de fundo para uma continuação.