sábado, 4 de julho de 2009

um feitiço aromático e amargo (2ª parte)


Soltando uma risada muda, Samiel esboçou um sorriso, enquanto mexia na água cada vez mais.
A seguir, olhou novamente para a princesa, que enfadada, contava as estrelas no céu, que se podia avistar da varanda.
- Eleonora. – Chamou ele, num tom normal. – Sei que pode ser difícil para ti acreditar no que eu te estou a dizer, mas a verdade é esta: a tua mãe usou-te como se fosses uma peça de xadrez, a única coisa que importava realmente para ela neste atribulado incidente era o dinheiro que ela poderia ganhar às custas de ti e do Indra.
Com uma das mãos enluvadas sobre o braço direito dela, ele acrescentou num tom familiar, como se fosse irmão mais velho ou até mesmo pai dela:
- Olha pelo lado bom; se não fosse eu a raptar-te, já estarias morta, é isso que tu desejarias para a tua vida, que acabasse assim de repente, quando ainda és muito nova e…
- Talvez sim! – Respondeu ela, aborrecida, sem quer dignar-se a olhar para o maldito feiticeiro. A sua voz tornava-se cada vez mais triste e insultada – Eu e o meu Indra éramos muito felizes, até vós chegardes e tirar-me dos braços do meu querido amado, e isso é uma coisa que não suporto, eu amava-o de verdade!
- Eleonora, tu não sabes o que é que dizes! – Samiel tornou-se cada vez mais frio, de mãos no bolso, passeando pela suite, soprando impacientemente anéis de fumo para o ar, quase acabando o cigarrito. – Não te vou fazer a vontade de morreres aqui, agora mesmo, só porque abriste, por uma vez, os teus olhinhos ingénuos e patéticos; na vida real, não existem príncipes encantados. Apenas homens que quererão tudo de ti.
- Oh, deixai-me em PAZ!... – Berrou ela, desesperada, correndo a cama, só para se enfiar nas almofadas, com as mãos agarradas às alcovas brancas de seda, deitada na espécie de sofá de veludo macio e suave, com uma espiral, que se desenrolava no tecto, transformado em várias serpente de esmeralda, de linho, decorando toda a parte de cima de tecto. – Seu desnaturado, nem vos passe pela cabeça atrever-se a tocar-me num único cabelo que seja, senão nem sabeis o que é me dá e depois eu viro UMA FERA!
- Mas…Que gritaria é essa toda, Eleonora? – Exclamou o homem, deveras espantado, levantando as sobrancelhas, e tirando a boquilha da boca, pendendo-a numa das luvas negras, apontando-a ameaçadoramente à rapariga, com o olhar mais severo. – Lembra-te, que esta é a minha casa, e se ousares falar-me outra vez nesses tons, então é que terei mesmo de tomar medidas drásticas!
Subitamente, ao acabar de dizer estas mesmas palavras, o homem fez, ao deitar a poção que tinha feito para cima dela, ele fez com que toda a roupa, maquilhagem e aspecto bonito que ele tinha dado a ela fosse retirado, acrescentando-lhe uns cortes horríveis, frescos, extremamente dolorosos, feitas pelas espadas invisíveis, e, quanto mais ferida ela estava, mais triste e irritada ela começava a ficar.
Olhando, rente na cama, para o seu lindo vestido, o sangue prateado e da família real, a manchar porcamente o vestido, que agora parecia uma poça de paixão e tristeza, morte. Cheirava pior do que se estivesse enlameada, e, na verdade, apetecia-lhe chorar só de ver o estado amargo e áspero em que tinham ficado as roupas. Tocou nos lóbulos, e reparou em dois pontos ardentes vermelhos nas suas duas orelhas. Os brincos já não estavam mais lá.
O que raio é que ele estaria a fazer…?

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