terça-feira, 22 de julho de 2008

Prisioneira dos próprios Pensamentos!


Entretanto, o Assassino do Amor continuava a tentar convencer Eleonora a ir dormir com ele.
Ele puxou-a intencionalmente por trás, prendendo os braços e garupa feminina e adelgaçada da com as suas garras duras e ásperas, e aproximando a sua boca seca e cheia de cobiça do pescoço e decote da rapariga, aconchegando-se junto dela. A luxúria era sentida pelos dois, á medida que Eleonora cedia torpemente aos avanços libertinos de Samiel, ela era conduzida cegamente para uma das passagens secretas por detrás dum candeeiro da sala de jantar.
- Não estás destinada a ser esposa daquele palerma, com essas mãos sedosas e esse cabelo aromático de mil prazeres....Mereces alguém muito melhor. – Sussurrou com lascívia. – Não, meu amor, quero-te, mais do que tudo no mundo.
Ao massajar com um carinho estranho o peito já descoberto de Eleonora, o bruxo sorriu levemente, colocando uma rosa branca no meio dos seios dela, beijando-a ternamente. Completamente vermelha, a suar de tanta emoção e a deixar-se guiar, ela viu Samiel a apontar para uma parede, e, num segundo, uma passagem secreta em lugar do altar de mármore em miniatura abriu-se, com os olhos bruxo a arder de desejo sexual.
- Aquele é o caminho para o meu inferno, amor... – Disse ele numa voz harmoniosa e tentadora. – Vinde comigo, que quero fazer de Sua Alteza uma mulher feliz...! Sede minha, para sempre!
Ela, encantada pelas artes e feitiços diabólicos de Samiel, a suar do abrasador calor que se fazia sentir na sala fechada, derretida nas palavras cativantes e harmoniosas, cada uma enrolada na voz aguda e maliciosa do feiticeiro…!
Acenou com a cabeça, e, envolta com os braços e o manto negro do feiticeiro, deu-lhe enamoradamente uma linda carícia nos lábios.
- Sim, meu amo! – Foram as suas últimas palavras livres, murmuradas num doce tom apaixonado!... Os seus lábios estavam tão perto dos de Samiel, o suficiente para que ela caísse nos braços fortes do poderoso e heróico bruxo, afinal, ele tinha-a salvado dum terrível demónio.
Nesse momento, ele empurrou-a de propósito para a passagem, fechando fortemente a passagem para que ela não pudesse escapar.
Não estava orgulhoso das coisas horríveis por que estava a fazer passar aquela rapariga, mas alguém tinha que o fazer, para o Bem dela e da Atlântida, já para não falar do bem dos seus bolsos, que estariam mais cheios mal Neptuno soubesse do sucedido. Talvez nem o recompensasse, mas Samiel não queria nem a glória nem armar-se num herói. Apenas desejava que aquele inimigo seu não lhe espetasse mais alguma coisa afiada no pescoço. Afinal, menos um seria para ele se preocupar…
Estava tão absorto nos seus pensamentos, que nem deu por uma vozinha irritante e rouca que o cumprimentou de súbito:
- Boas tardes, mestre! – Disse um duende com a sua voz de xarroco a escorregar nos seus próprios pés do feiticeiro, que, num momento embaraçoso, ficou por debaixo do duende.
Muito zangado, Samiel levantou-se imediatamente e lançou um olhar penetrante e ameaçador para com o seu subordinado.
Ergueu a sua garra pálida para levitar o pequeno homenzinho traiçoeiro até que este estivesse à altura dos seus olhos.
Como é que aquela inútil criatura se atrevia a interromper
- DIRLENT! – Bradou ele irritado. – Diz-me lá o que tens para dizer e depois DESAPARECE DA MINHA VISTA, seu bobo!
Uma vez mais, a voz de Samiel suou como o próprio trovão, e o espírito sobrenatural doméstico tremeu de medo.
Dirlent era o mais exasperante de todos os esbirros do Assassino do Amor, uma vez que era uma criaturinha travessa e desastrada, que adorava o caos e provocar sarilhos. Algumas vezes, Samiel perguntava-se porque é que o teria posto ao seu serviço. Ao contrário do lógico e calculista amo; o Dirlent, de pele morena e olhos verdes, com umas orelhas pontiagudas, com um sorriso matreiro, gostava imenso de pregar partidas e de desarrumar tudo o que encontrava, como por exemplo as poções e frascos do bruxo. O que o tornava, muitas vezes, alvo das experiências maquiavélicas de Samiel.
Incauto e muito curioso, ele era o menos eficiente e eficaz dos subordinados, contudo, a sua ambição desmesurada compensava a falta de inteligência, e, assim, com um saco de moedas, Samiel manipulava os poderes caóticos e maldosos do incapaz.
Enquanto estava pendurado pelo feitiço do amo, Dirlent, de apenas trinta centímetros de altura e com um focinho feio e achatado, tal como um porco, encolheu os braços escanzelados.
- Já não me lembro, mestre. – Respondeu ele atrapalhado.
Extremamente fora de si, Samiel passou furiosamente uma mão pela cara, murmurando calúnias enquanto batia com o pé no chão.
Começava a ficar farto das tolices inúteis daquele palhaço, e, por vontade própria, já o teria morto há imenso tempo. Se não fosse o maldito juramento que fizera à mãe do desgraçado no leito de morte da víbora, talvez o tivesse trespassado friamente com a espada.
Sempre imaginava uma forma perfeita de fazer a vida negra a Dirlent, o problema é que nunca chegava a acordo da qual seria a mais dolorosa e perfeita para torturar.
Além disso, o estúpido tinha-o feito perder tempo e ele, Rwebertan Samiel Di Euncätzio, odiava perder tempo!
Como quem não quer a coisa, Samiel pegou na sua boquilha e, numa questão de minutos, começou a fumar presumidamente, e andar dum lado para o outro, largando de imediato o assistente.
Dirlent, não suportando o odor terrível de hortelã-pimenta, e sendo ele alérgico ao tabaco do patrão, começou a tossir gravemente.

3 comentários:

Anónimo disse...

é ás vezes acontece as pessoas pensam tanto numa coisa que acabam por ficar prisioneiras dela um post intressante parabéns continua assim

Anónimo disse...

Engraçado e muito bem descrito o conflito entre os dois.

Jotacarlos. disse...

Olá,
e pior ainda é quando se acredita numa pequena mentira. Passamos a pensar tanto nela que suas garras enraizam na alma, e de pequena, a mentira se torna grande.
Um grande abraço.