quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Guerreiros da Justiça...


Por entre as árvores, ouvia-se passos apressados e velozes, tão rápidos como um relâmpago, e, embora não estivesse mau tempo, o rapaz de tronco forte e com uma coloração azul estranha pressentia que algo de errado se passara com aquela que mais amava. Adornado com uma armadura de ouro e fios de prata, com uma túnica de uma cor dourada resplandecente, o corajoso rapaz corria o mais depressa que podia, em socorro da sua bela donzela. Nariz fino e pequeno, olhos castanhos e encantadores, rosto quadrado e sobrancelhas expressivas com um cabelo negro a cair pelas costas era o aspecto de Indra, o Príncipe hindu com quem Eleonora estava prometida.
Armado com um arco e flecha às costas, o esbelto jovem percorria a floresta por toda a parte, mas nem sinal da sua adorada “Eli”.
Exasperado, e com suor a escorrer-lhe pela cara, só tinha a vontade de lançar um raio a Neptuno por não cumprir a sua promessa e o ter desonrado.
Segundo as antigas tradições atlantes, um matrimónio entre uma filha atlante e um estrangeiro é um compromisso que a nobre donzela aceita pela Nação, e, se na véspera da cerimónia do 1º dia ela faltar ao encontro com o noivo, isso significará um insulto pessoal ao esposo e ao reino que ele representa.
Sentia-se profundamente ultrajado, com sinais de irritação no lindo rosto de anjo, mas, no fundo, estava com pena de Eleonora. Afinal, ela não tinha culpa nenhuma daquelas idiotas tradições.
Além disso, como ideal do Povo Hindu, devia demonstrar ser sereno e sábio em todas as ocasiões, quer estas fossem boas ou más.
Suspirou, muito desgostoso. Quem é que poderia ter levado a sua luzinha para o paraíso?
De repente, um grande lobo castanho surgiu por detrás dele e cumprimentou-o, com a cauda a sacudir a brisa nocturna.
- Boa caçada, Senhor Indra. – Disse uma voz máscula de homem.
O príncipe riu-se à vontade, distraído, esquecendo-se por uns momentos que tinha perdido a sua Princesinha.
Parou rapidamente a correria, e, num abrir e fechar de olhos via um rapaz, cinco anos mais velho que ele, com uma túnica branca e que empunhava um grande machado flamejante. De tronco nu, Anúbis olhava para o amigo com um sorriso cúmplice no rosto.
Indra, muito contente por rever o grande e antigo companheiro de brincadeiras de meninice, apertou fortemente a mão do egípcio.
- Francamente, Anúbis! – Exclamou admirado. – Não esperava ver-vos...
- Calma aí! – Cortou o deus embalsamador de bom humor. – Podes tratar-me por “tu”. Somos irmãos de sangue, ou já não te lembras dos nossos tempos de crianças quando costumávamos brincar pela Floresta de Cristal?
Ao recordar-se dos tempos de menino, Indra também lembrou-se do sorriso inocente e nostálgico que Eleonora lhe dirigia sempre que o via.
Aqueles lábios carnudos e rosados que esboçava umas curvas agradáveis e doces, tão doces que até apetecia tocar.
Como sentia saudades da sua amada e, como ansiava poder apertá-la no seu terno abraço, acariciar aquelas faces puras de seda, tonificados com cacau e leite cada manhã.
Sentou-se, de pernas cruzadas, e com as mãos juntas meditativamente, como se estivesse a orar, e, num gesto pensativo, fechou lentamente os olhos.
Por uns minutos, ficou ali, com pensamentos sombrios a vir à superfície da mente. E se ela estivesse a correr mesmo algum perigo real...?
O que poderia fazer?! Sentia-se impotente por não ver mais uma vez o amoroso olhar de Eleonora. Na escuridão da noite, ele suspeitava que forças temíveis o observavam, de todos os lados. Homem ousado e de grande sentido de honra, Indra sabia o que é que o aguardava. Mal que se tinha apercebido que algo de mau acontecera a Eleonora, tinha evitado, de todas as formas, aquela opção. A floresta tinha muitos ouvidos, e ele já tinha ouvido falar de um bizarro “demónio negro em forma de humano”, cujos sinistros poderes eram clamados e receados pelas sílfides, as fadas do ar e da música.
Apenas um homem, suficientemente esperto, poderoso, calculista e malicioso como o Assassino do Amor seria capaz de dizer onde é que a sua querida e formosa princesa estaria.
Embora quisesse muito estar com a sua amada, nunca confiaria num bruxo tão traiçoeiro como Samiel.
Um arrepio passou por Anúbis mal leu os pensamentos do jovem e cuidadoso príncipe.
- Ih! – Indagou ele com calafrios na espinha. – Não vais pedir ajuda ao crápula do Assassino do Amor, pois não?
- Não tenho outra escolha. – Resignou Indra, um pouco preocupado, mas num tom decidido. – Mas esta noite...não. Provavelmente a besta já deve estar a dormir profundamente, ou a planear um roubo. Se quiseres acompanhar-me até ao Castelo Negro ao meio-dia, estás à vontade.
Anúbis deu generosamente a mão ao amigo para que este se levantasse, e tentou um leve sorriso.
- Sempre é melhor do que caçar serpentes nas margens do Nilo. – Disse ele, meio atrapalhado. – Então até daqui a um mês.
Depois das despedidas formais, os dois guerreiros combinaram encontrar-se nas margens do Rio Bênção às sete horas da manhã dentro de trinta dias, para que chegassem bem cedo à tenebrosa morada de Samiel.
A última coisa que queriam era interromper o almoço do Senhor da Magia Negra.
Assim, se chegassem bem cedo, teriam tempo para conseguirem convencer o feiticeiro a auxiliá-los na dura tarefa de desvendar o paradeiro de Eleonora.
Não seria fácil, mas, Indra, sagaz e esperto como era, teve a precaução de aconselhar Anúbis para que trouxesse todo o tipo de armas que conseguisse arranjar. Com Rwebertan Samiel Di Euncätzio, nunca se sabia quando é que viriam a precisar delas....!

2 comentários:

Anónimo disse...

Sem dúvida uma das melhores estórias que li por aqui. O clima de suspense foi perfeito e a descrição do jovem Deus correndo pela floresta, perfeita. Vi claramente a cena.

Olha, você está melhorando cada vez mais.

Agora fico aqui na ansiedade esperando o desfecho da batalha que parece vir por aí. (rs)

Jotacarlos. disse...

Não falei?!?
Há cada dia as suas estórias melhoram cada vêz mais.
Um abraço.
E fico aguardando com certa ansiedade.