Exercício de Escrita criativa...
Citlali Cyemn'atshanka - ou Citlali a Sétima - é uma das figuras mais obscuras, e talvez mais ambíguas da História Bellante! Tal como a maior parte das "heroínas" Bellantes, Citlali tem olhos esverdeados, amendoados, e algo de "mestiço"...
Uma velha rosa caía do roseiral perfumado da antiga casa em
Shunamari…Embora fosse antiga, a feiticeira adorava aquelas rosas, ainda belas
mesmo no fim do Verão! A jovem mestiça sorriu, ao inalar o perfume a mar que
vinha dos prados…
Provavelmente as camponesas já tinham colhido o milho! A
pálida e alta Citali Cyemn’atshanka tinha uma cintura que as mulheres das
aldeias chamavam-no de “febril”, nos seus sotaques pesados em Russos.
Ao atingir os vinte anos, Citlali conseguira finalmente a
liberdade. Não fora fácil, e sempre que pensava nas lágrimas que derramara ao
ser esbofeteada pelos seus amos, colonos e fidalgos Russos, ela rangia os
dentes furiosa. Rutilavam-lhe os olhos como preciosas pedras de esmeralda…
Um
olhar que muitos camponeses diriam ser quase de uma “cigana demoníaca”! Mas
Citlali não era nada disso! Era metade Russa por parte do pai, e tinha sempre
um leve aroma a cravinho, da parte Chinesa…Que belos olhos esverdeados eram
aqueles, que cintilavam no amanhecer!
Ao contrário dos que as pessoas pensavam, Citlali não tinha
a pele descarnada ou extremamente magra…Isso era apenas um rumor que as
mulheres Alemãs e Russas tinham espalhado! Uma cintura e uma saúde que hoje em
dia seriam invejáveis naqueles tempos eram censurados…A casa de Citlali era tão
maldita quanto um hospital para leprosos!
Porém, conseguira arranjar tantos clientes – ou ainda mais
clientes – quantos os dos hospitais públicos, convencionais, construídos pelo
Barão de Merlonogrado…! A jovem feiticeira sabia tratar pessoas e reconhecia
qualquer mal – muito melhor que outros barbeiros ciúrgiões que tratavam as
gentes brancas.
Um mestre de trinta anos de Ninjūtsu uma vez elogiara a sua
beleza…Porém, perguntara à jovem porque é que ela recebia tão pouco pelas idas
e visitas das gentes. Se afinal de contas ela era muito mais eficaz e sabia as
verdadeiras causas que infectavam os camponeses, devia cobrar mais pelas
visitas do que cinco Fenixninianos de ouro…
«Os camponeses ganham
por mês cinquenta Fenixnianos por trabalharem as terras dos seus senhores…Seria
injusto se eu lhes arrancasse mais que uma décima do seu pão!»
Citlali também adorava pôr ao mundo – ou como
as gentes de Shunamari, ser uma tetlacachitzhualini,
ou uma tzitl, o que pronunciado
de forma rápida era como o nome feminino “Tzitzilli”,
que também era uma onomatopeia para sinos a tilintar. Citlali riu-se um pouco
divertida com esse pensamento ao recordar-se do sufixo que usavam para
referirem-se a ela…
O jardim que rodeava a sua casa era como uma extensão da
floresta, com pequenos riachos de água transportados das cheias, que irrigavam
através de discretos e refinados túneis subterrâneos a casa suspensa em pilares
fortes fundados numa pedra resistente e soldada com aço enfeitiçado. Na estação
das chuvas, um criado e amigo de Citlali há muito conduzia as pessoas que tentavam
ver para além dos musgos sombrios e das plantas rasteiras que subiam por
lindamente esculpidas estátuas de mármore…
De manhã, porém, no fim da estação estival, o barulho subtil
das pérolas de orvalho a deslizarem das rosas era algo relaxante de se ouvir…!
Quem diria que esta era a casa de uma “hinin”,
como a chamavam os Japoneses…? Porém, a feiticeira de vinte anos adorava a
natureza e sentia-se mais à vontade do que na movimentada cidade de Verlöneres
Stadt!
Um pequeno pássaro bateu à varanda do seu quarto…Este
pequeno pássaro, de penas azuladas e metálicas, era na verdade um shikigami, uma parte shamânica e um
servo precioso da feiticeira.
Sorrindo, ela acariciou levemente as penas do rouxinol.
- Ora, ora…Meu querido Chalchiuchtlacuitl, o que me contas
de Merlonogrado e dos portos de Shunamari?
Mas a voz que a feiticeira ouviu não era a que ela estava à
espera…A voz que ela ouviu nesse momento era masculina, suave e com um sotaque
Japonês:
- Finalmente
encontrá-mos-te, Citlalyoko! Quantas gerações de mulheres humanas é que
passaram e tiveram o mesmo apelido? Quatrocentos anos voaram tão depressa para
um neto de Yasunori III…
- Quem és tu, maldito Oni? Porque é que decidiste roubar o
meu mensageiro e servo?
- Não sabes? – A
voz soltou uma gargalhada maliciosa ao fazer com que os olhinhos do pássaro se
injectassem em sangue. – Bem…O sangue da
Guardiã da Escuridão deve estar mesmo perdido nas areias do tempo então! Eu sou
o descendente do filho mais novo e irmão daquele que a tua antepassada
matou…Chamo-me Kato Daisuke…
- Com que então também és um feiticeiro… - Murmurou Citlali
Cyemn’atshanka num tom de puro desprezo ao virar as costas ao shikigami. Porém, ela própria tinha os
seus truques na manga, uma vez que guardava sempre consigo um pó abençoado no
templo da Senhora Swertyhina, em Cy-bata Teito. Sabia que isso iria fazer com
que o pássaro – e logicamente, uma parte do sangue da sua perna – começasse a
esvair-se em sangue…
Mas se era a única maneira de impedir com que o Mestre de
Magia Universal soubesse do seu paradeiro, então ela correria o risco!
- Tem calma, minha pequena! – Avisou a
voz eloquente do tetraneto de Yasunori III Di Euncätzio. – Tenho cento e quarenta anos, não gostava que uma humana tão talentosa
perdesse sangue só porque me despreza! E afinal de contas, estamos do mesmo
lado…
- Do mesmo lado?! – Citlali Cyemn’atshanka riu-se num tom
irónico. – Vocês matam e usam o Ninjūtsu por pura crueldade…! Eu utiliso as
minhas técnicas para o bem da comunidade!
- Chama-lhes o que
quiseres, Citlalyoko…! Porém, ambos sabemos que tu também utilizas as a
Escuridão e a Luz, tal como eu fiz para controlar o teu passarinho…Os outros
humanos não passam de uns hipócritas…Mas tu…Tu sabes que afinal de contas, o
Deus que eles idolatram nunca pediria para chacinar e
escravizar pessoas inocentes! Achas justo o que pode acontecer com a
Bellanária?
- Isso não vai acontecer com o nosso Império! – Cuspiu a
refinada e elegante jovem de vinte anos ao atirar a areia sagrada contra o
pássaro.
Porém, ela sabia que não faltava muito para que os Russos e
Alemães tentassem apoderar-se da totalidade das terras de Shunamari…Citlali
odiava a política! Porém, não resistia em roubar daquelas mulheres nojentas e
supersticiosas, que pensavam que as escravas Bellantes não eram mais que
animais! Enquanto elas devoravam caviar, as pobres raparigas nem conseguiam
tocar no milho que pagavam àquelas mulheres egoístas!
Citlali não era burra, sabia o que custava ser-se escravo de
alguém… E aqueles homens eram
escravos da sua própria ganância! Ela
conhecia-os, mas limitava-se a ser simpáticas com eles porque não tinha motivos
nenhuns para odiá-los! O Sacerdote da Nascente de Ku-min, seu mestre uma vez
dissera que as vidas dos Homens são criadas através do sangue e por ele eles
morrem…Não sabia muito bem o que os shinobi-no-mono
queriam dela!
Lembrava-se de ter ajudado umas mulheres dos shinobi-no-mono a darem à luz alguns
filhos…Tinha pena daquelas mulheres, esposas de homens assim! A Guarda Imperial
Bellante não era assim tão justa quanto aparentava, mas ao menos, tentavam
parar os avanços do Duque Leberecht e dos Russos…!
Não podia esquecer-se que era uma Turlamranahgualini e as
feiticeiras de ascendência não usavam Magia Negra, como aqueles assassinos!
Respirou bem fundo ao descer a corda que permitia-lhe aceder à pequena piscina
que era o seu quintal nos meses de chuvas…Sabia que o Nagguena iria fazer as
estradas para Merlonogrado e para Verlöneres Stadt quase impossíveis de
atravessar a pé!
Aonde é que estava o Sacerdote da Nascente de Ku-min agora?
Provavelmente já teria passado para Xibalba,
ou para o submundo dos espíritos…Mesmo assim, ela achava que não teria tempo
para perguntar-lhe o que é que os shinobi-no-mono
quereriam! Tinha de criar um shikigami
em forma de cavalo e partir em direcção…
Citlali Cyemn’atshanka engoliu em seco! O Litoral de
Shunamari! Desde que conseguira libertar-se da sua condição como escrava, há
seis anos que não via o litoral! Estava a vinte quilómetros dele, mas
Verlöneres Stadt ainda era mais a nordeste, e ela tinha um pavor de se
encontrar com alguns colonos nojentos Alemães…
Sabia falar Alemão e tinha um sotaque de Shunamari fluente
nesta língua…O problema é que muitas vezes os colonos Alemães tentavam
escravizar as mulheres Bellantes à força, e não legalmente! A diferença estava
no facto de usarem correntes e anéis de ferro e não de madeira! Para além
disso, os escravos dos Alemães não ganhavam nada! Eram tratados como pó!
Mas ela tinha a certeza que os shinobi-no-mono (ou pelo menos, os homens de Kato Daisuke) iriam
protegê-la se a vissem assediada por colonos Alemães…Ou como os Maias de
Itshaki lhes chamavam: os “Bruxos Japoneses”!
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