Citlali e Zollin Cuixtleuctic
Na verdade, faz sentido publicar este pequeno texto, depois de tantos meses sem vermos Citlali...só queria publicar isto mais tarde, mas enfim. Depois conto o que aconteceu com Citlali.
Nas noites do
Festival das Bandeiras, as margens nortenhas do Rio Bênção pareciam ainda mais
geladas do que nunca. O Festival das Bandeiras, criado para celebrar a união
entre a Senhora Melnjar (a primeira Imperatriz da Bellanária) e o Imperador, um
antigo antepassado dos que viriam a ser os Aztecas, exilado da América central.
Losjafhden era um lugar maldito, com uma neve acinzentada e áspera, lamacenta.
Fazia com que a música que o velho oni
tocava não fosse tão estridente e incómoda para os ouvidos dos dois feiticeiros
orientais.
Mesmo assim, ao
aportarem nas areias ásperas e geladas, perto da enorme casa Japonesa de
madeira, o jovem ficou surpreendido. Há imenso tempo que não vinha ao Norte. A
madrasta tinha-o proibido de se aproximar da meia-irmã, que apesar de tudo, era
muito doce e amável para com ele.
Era como se o tempo
nunca passasse na velha aldeia de Lisaiten. Ali nunca havia bandeiras, e o frio
entrava dentro das orelhas pontiagudas do jovem feiticeiro, metade gato, metade
humano…
«Que sítio tão
triste…parece que até os ciprestes choram com esta horrível maldição, os oni transformaram o Rio sagrado de cor
de jade numa cor feia de ocre, cinzenta, com o cheiro da morte…! Porque é que
os habitantes de Lisaiten não pedem a ajuda à Senhora Melnjar e à Senhora
Swertyhina?»
Que motivos os
habitantes da aldeia Japonesa teriam para festejar? Comentara o velho
feiticeiro de Magia Universal ao se aproximarem das imediações das ruínas que
anteriormente fora a irmã gémea de Cy-bata Teito. De facto, a guerra tinha
deixado uma horrível cicatriz na pobre vila de Losjafhden. E embora já se
tivessem passado mais de cem anos da morte do Assassino do Amor, ainda se respirava o cheiro a queimado. A
alva há muito que passara, levando com ela as cores douradas e azuis do rio. O
nevoeiro escuro, porém, era tão espesso que o Sol não conseguia chegar para
além do topo dos centenários pinheiros bravos. A velha aldeia já não era mais
do que uma sombra da antiga vila fronteiriça que atraía comerciantes vindos a
subir as pesadas correntes Bellantes. Rukorou Ishikawa sabia perfeitamente que
ninguém se atreveria a fazê-lo por esta altura do ano.
No entanto, no meio
desta manhã com um sabor amargo a cinzas e a enxofre, uma velha senhora
apareceu, a pentear o comprido cabelo sem brilho, negro com alguns fios de
cabelo prateados, brancos como a Lua. A segurar-se nas confortáveis botas do
Norte, ela lançou um olhar curioso para os dois visitantes.
- Onisamatzeka
Kazue…! – Clamou o feiticeiro Japonês, ao libertar a âncora para o infinito
leito do rio sagrado.
- Ishikawa…! –
Resmungou a velha, ao apoiar-se no cajado de madeira. Esboçou um pequeno
sorriso, enquanto o jovem olhava para ela com um ar simpático. – Sim, sou a
esposa do velho Di Euncätzio Jamelino Beno …que quereis de mim?
Demorou-se um pouco
no seu coxear, as cinzas da lanterna de papel a ocultar a fealdade do seu corpo
encarquilhado, quase sem vida…Ou pelo menos era como Zollin a imaginava, por
detrás da lanterna de papel e do biombo. A velha “Tia Kazue” era uma mulher que
apesar de usar umas vestes dignas da mais nobre das mulheres Japonesas da
altura, a sua aparência deixava a desejar, pois era demasiado alta para uma
mulher e o nariz era um pouco como o de uma coruja sábia. As sobrancelhas há
muito que lhe tinham sido arrancadas. A sua dieta de órgãos de crianças há
muito que lhe fora negada. Sobrevivera aqueles últimos cem anos com os
cadáveres de soldados humanos Bellantes, como uma velha hiena.
«Não te deixes iludir pela velha…no seu auge costumava ser uma assassina
de humanos experiente!»
A velha não parecia
ser assim tão má. Fez uma longa vénia, enquanto duas jovens e assustadiças
açafatas de sangue humano seguravam num biombo que a separava dos dois
feiticeiros. Apesar de andar com um cajado, havia algo de errado com o seu
pescoço que denotava uma figura entroncada. Zollin era um quarto demónio e
sabia o quanto as aparências iludiam.
A iniciação como
feiticeiro mostrara-lhe que tinha de desconfiar do olho “humano” e confiar no
olho “mágico”, aquele que segundo
Ishikawa, estava localizado na região entre as sobrancelhas. Durante os
dias em que caminhavam como aprendiz e mestre, Ishikawa aparentava ser um
velhote Japonês completamente normal. Mas a verdade é que continuava a ser um
omyouji dotado e um incontestável estrategista!
Lançou um olhar
curioso à velha nobre aparentemente inofensiva. Depois, mostrou a uma das
criadas a adaga com uma lâmina afiada de obsidiana. Perto do punho feito da
mais preciosa das madeiras, estava carvada na mistura de aço com obsidiana, a
imagem terrífica de Enoque Di Euncätzio, a ajoelhar-se perante o jaguar
Bellante.
Curvando-se perante a
senhora viúva dos Demónios, Cuixtleuctic Zollin pousou a lâmina como símbolo de
respeito não só perante a lei da Magia Negra, como também perante a Lei dos
Humanos, das Fadas, e dos Deuses. Nesse momento, os seus olhos amarelos, cor de
âmbar resplandecente, brilharam num tom arrepiante.
- Senhora Viúva
Onisamatzeka…permiti que me apresente diante de vós: tende aqui, perto do Rio
Bênção, Cuixtleuctic Zollin, um omyouji de segunda classe, servo da Guarda
Imperial da Casa Di Neptunus. Tal como o seu falecido marido, tenho sangue de
youjin. Porém, a tribo à qual pertenciam os meus antepassados, infelizmente há
muito que foi chacinada não só pelos Humanos, mas também pelas conspirações do
Mestre Di Euncätzio Samiel. Sei que odiastes esse homem que não pertençia nem a
nação, tribo, raça ou classe. Sou apenas um instrumento dos Humanos. No
entanto, vim aqui como diplomata em nome deles, e só espero que o seu cunhado,
o milenar Mestre Saburou, nos aceite como hóspedes. – Declarou o jovem
feiticeiro, com uma língua que deixou o velho samurai orgulhoso, embora o
ocultasse por detrás da sua aparência sobranceira e austera de representante de
Suryadevnahutbal.
Subitamente, uma voz
ecoou no meio do nevoeiro cinzento:
- Tens uma língua
afiada para quem convive com Humanos, rapaz cy-bata.
Infelizmente, não creio que o teu mestre seja o mesmo Ishikawa quem eu conheci,
há mais de mil anos atrás.
Numa das varandas da
enorme e luxuosa, os olhos negros e penetrantes de Saburou brilharam com um ar
trocista, quase céptico. De facto, o jovem filho da “mulher jaguar” tinha vindo
como diplomata para conversar com os oni,
sendo um quarto demónio. Infelizmente, por muito treino que o jovem com olhos
de íris afiada tivesse, nada o teria preparado para se encontrar com um dos
sobreviventes da milenar Guerra de Poriavostin. Envolto numa peliça de jaguar
negro, o traiçoeiro Saburou Di Euncätzio envergava umas botas pretas de couro
de serpente. A cobrir os cornos compridos de prata, um chapéu de veludo da cor
do vinho ornava a cabeça comprida. O rosto estava de tal forma imerso na
penumbra do nevoeiro que seria impossível um falcão ver a verdadeira forma do oni de corpo elegante e atlético.
«É ele que cria este nevoeiro à volta de
Lisaiten…?» Zollin controlou-se, com
um franzir de sobrolho.
Subitamente, um
maracujá oco abriu-se em cima da cabeça do jovem, uma coisa que o jovem nunca
esperava que acontecesse.
No entanto, Ishikawa sabia o que é que aquilo
queria dizer! Nunca se sabia quando Saburou Di Euncätzio podia assassinar
alguém…Fosse com um ataque surpresa de adagas, lacaios demoníaco, um gás letal
solto de uma garrafa vazia, ou simplesmente com uma força da sua própria magia!
De imediato empurrou o jovem aprendiz para outro lado, criando uma barreira com
um murmurar rápido de palavras em Sânscrito em volta de si.
Para grande surpresa
do samurai, o fruto vazio revelou apenas um banho de chocolate adocicado com
baunilha.
As mãos enluvadas e
prateadas do velho bruxo demoníaco pousaram num gesto um pouco aborrecido,
enquanto os dois olhos negros reviravam num gesto de desprezo.
- Oh que pena, parece
que é mesmo o maldito Ishikawa…! Só mesmo o idiota com um sentido de bonzinho
como tu
podia estragar o baptizo de partida de Magia Negra ao miúdo! – Comentou
Saburou num tom de desdém. – Os Deuses devem ter-te dado o néctar da eternidade
para me chateares até morrermos de tédio.
Ao acabar de
pronunciar estas palavras, uma criada humana hipnotizada tocou um gongo, como
se quisesse que alguma audiência invisível se risse.
Ishikawa retribuiu
com o mesmo revirar de olhos. No entanto, sorriu com um ar cortês, sem nunca
perder a compostura.
- E só mesmo um
lunático como vós, Saburou Di Euncätzio, iria achar piada em brincar com a vida
de pessoas inocentes!
A voz de Kazue
ouviu-se, oculta através dos biombos:
- Como pode ser tão
rude ao ponto de insinuar que eu e o meu irmão queríamos matar um rapaz que tem
o mesmo sangue que nós?!
O velho guerreiro não
teve outro remédio senão inclinar respeitosamente a cabeça. Que vergonha,
tinha-se deixado levar pelo ódio que sentia…! Isso tornava-o igual a eles, àqueles
demónios…Não, não podia pensar daquela maneira, pois a sua querida Airina era
ela própria uma yaojin, mas da tribo
dos Gemmyarkan. Tinha sido um amor proibido. Por causa daqueles Di Euncätzio,
ele nunca fora capaz de lhe pedir a mão em casameno, e dar-lhe uma vida muito
mais abençoada do que o de uma mulher demoníaca.
Soltou um longo
suspiro.
- Peço imensas
desculpas, não queria de maneira nenhuma ofender o vosso cunhado, muito menos a
vós.
O perfume que saía do
biombo era tão sedutor e suave que Zollin mal podia acreditar que aquela era
uma mulher com mais de mil anos! A sombra do leque que a senhora trazia consigo
abanou umas quantas vezes, satisfeita. O nevoeiro ainda não tinha-se
desvanecido. Porém, a relva parecia menos gelada e lamacenta do que quando
tinham chegado ao local.
Era como se fosse tão
suave como uma nuvem. Tão sedoso quanto os biombos dourados, pintados de forma
delicada, que ocultavam o verdadeiro rosto da senhora.
Ainda de joelhos, ele
inclinou a cabeça num acto de pura submissão:
- Muito obrigada pela
sua confiança e perdão, minha senhora, viúva do Barão Onisamatzeka.
Lentamente, a senhora
pediu à rapariga que estava em cima da varanda para vir imediatamente. A
seguir, esta fez sinal aos dois feiticeiros que esperassem uns momentos. Entre
pequenos segredinhos em Bellante Arcaico, tanto a senhora como a rapariga
faziam um murmurinho, incapaz de se ouvir claramente pelos ouvidos treinados,
tanto do Mestre Ishikawa, quanto de Zollin.
Após uns breves
minutos (que para Rukorou Ishikawa pareceram uma eternidade), o rosto branco e suave de Kazue assomou por
detrás do biombo. Os dois olhos azuis (da mesma cor que a segunda camada do
grande e complexo quimono que ela usava, uma uwagi escura) espreitavam por detrás do leque branco. Ao virar o
leque para outro lado, os olhos gelados contrastavam com a cor doce,
apaixonante, húmida de dois lábios pequenos e sensuais, mordidos por dois
dentes caninos e afiados, mais brancos que o rosto de mármore de esfinge arraçada
de mulher nortenha Bellante. Apesar de tudo, os dentes ficavam-lhe bem, como
dando um ar de deusa poderosa. De facto, Zollin pareceu ver diante de si a
personificação de Nossa Senhora, a Imperatriz Melnjar.
Os olhos semicerrados
eram uma característica das mulheres e homens do Norte. Mas, enquanto os olhos
de Saburou Di Euncätzio pareciam ameaçadores, os da cunhada eram deliciosas
melodias pintadas numa cor de lápis-lazúli.
De facto, nada no
rosto da bela Kazue tinha envelhecido. Era como se ainda tivesse trinta e seis
anos de idade. As orelhas – ocultas pelos longos fios de arminho que se
estendiam até à neve – eram esculpturas de algodão-doce com pequenas pontas no
topo, denotando o facto que ela era uma vampira Bellante do Vale Enublado. Era uma Teyolloquani,
uma bruxa Bellante.
Embora as mulheres
que a ajudassem fossem muito bonitas, nenhuma se comparava com a beleza de
Kazue. Zollin teve se concentrar. Não podia deixar-se enfeitiçar pelos olhos
azuis de uma mulher com mais de mil anos.
Zollin estava
completamente boquiaberto.
No entanto, Rukorou Ishikawa era tão poderoso quanto
Saburou Di Euncätzio. Franziu as sobrancelhas, desconfiado.
- Andais a pagar a
renda à vossa cunhada com o quê, Saburou Di Euncätzio…? – Perguntou num tom
neutro e frio o feiticeiro Branco.
- Tenho a ligeira
impressão que não é isso que queres falar, meu caro Ishikawa…Afinal de contas,
o grande comandante das Forças
Especiais da Guarda Imperial Bellante jamais se exporia ao perigo no lugar mais
amaldiçoado de toda a Bellanária. – A voz cínica e trocista de Saburou
pigarriou ironicamente.
O jovem feiticeiro
tirou do manto de guarda imperial uma taça com um pouco de Frambinam e
chocolate quente. Com uma delicadeza digna de um príncipe, ele entregou a taça
de barro. Porém, os seus olhos cor de âmbar brilhavam com um ar autoritário em
direcção à mulher demoníaca, que abriu o leque de uma forma gelada e indignada.
- Ouvimos dizer que a
tribo à qual pertence a Senhora Onisamatzeka Kazue era dotados em esculpir no
vidro e no barro. – Comentou o jovem omyouji, com um pequeno sorriso. – É claro
que as suspeitas não podem recair de todo sobre a viúva do respeitado Barão…
- Mas isso não
significa que não queiramos saber onde é que está o filho do vosso cunhado,
minha senhora. – Acrescentou o Rei dos
Feiticeiros Brancos, num tom muito sério. – Alguém da tribo dos Oni, da família
Di Euncätzio, envenenou a Senhora Sacerdotisa de Melxocolatlbilar e tentou
raptar o filho dela.
De repente, o vento
começou a uivar, como se fosse um animal selvagem. Era tão cortante que o jovem
podia jurar que era o olhar de Kazue que estava a controlá-lo! Porém, ela não estava a olhar para eles.
A voz de um jovem
criado humano acenou em direcção aos umbrais da casa infernal:
- Deveis estar a
morrer de frio…O meu mestre, o Senhor Saburou pediu para vos informar que uma
vez que sois mensageiros do Imperador, então sereis tratado como tal. Por
favor, façai o favor de me seguir.
De facto, estava
muito frio…No ermo daquele nevoeiro, tudo parecia triste, sombrio e abandonado.
Era como se o Sol tivesse desaparecido.
«Acha que é boa ideia entrar naquele ninho de víboras? E só de pensar
que foi ele que fez com que a pobre
daquela rapariga sofresse…!»
«Enquanto eles estão distraídos comigo, põe uns selos à volta da casa.»
Zollin franziu as sobrancelhas,
um pouco surpreendido com a atitude do
mestre.
«Quer que eu vá dar uma volta ao bilhar grande?»
Os dois olhos
rasgados do samurai desonrado lançaram um olhar severo, mas compreensível em
direcção ao rapaz.
«Sabes perfeitamente que não era isso que eu queria dizer, Zollin. Precisamos de descobrir porque é que o filho
do Hayato Di Euncätzio quis raptar a tua irmã, e ainda mais importante porque é
que eles não queriam que a Senhora
Claudinitiana tivesse um filho!»
O jovem cy-bata soltou um grande suspiro. Sabia
que ainda era demasiado cedo para invocar um dos seus shikigami contra os demónios. Seria também uma perda de tempo: o
velho Saburou Di Euncätzio parecia ser o tipo de oni que sabia os segredos da Magia Universal. E depois, quando os
olhos azuis do mestre brilhavam daquela maneira, nem mesmo o Alto-Comandante
Enok se atrevia a desafiá-lo. Enoque era sobrinho dos Di Euncätzio, mas só
metade, uma vez que a mãe era produto de uma relação diferente do velho Yee. Tinha-se
purificado ao entrar ao serviço do Imperador. Agora já não pintava o seu
apelido com os caracteres Chineses, ou seja, mudara de nome. O próprio Ishikawa
era chamado de “Rafael” quando estava em Suryadevnahutbal, e Zollin
esforçava-se imenso para pronunciar o seu nome nos dialectos do Sul. Obedecer
aos Deuses não era um trabalho fácil. Ao menos Zollin viera de livre vontade, e
não fora forçado como a sua meia-irmã. Durante aqueles anos que passara em
Petrybloom, ele aprendera a controlar as suas emoções.
O Mestre Ishikawa
sabia que poder contar com ele. Respirando bem fundo, o jovem resignou-se e
começou a espalhar um pó cor de lavanda à volta das grades esculpidas em
madeira de mogno escuro que rodeavam a vivenda dos Onisamatzeka. Embora o Sol
continuasse coberto pelas nuvens cinzentas de Inverno, respirava-se um ar
fresco. Era a magia de Zollin. Ele conseguia fazer com que as árvores
devolvessem a Losjafhden o esplendor dos pinheiros, ciprestes. Infelizmente,
ele não conseguia devolver o verde às outras árvores. Muito menos o ar branco e
limpo das estradas de pedra, construídas há décadas pelos Bellantes do
nordeste. Alguma coisas ainda continuavam um pouco sombrias. Não havia nada a
fazer pelos espíritos que outrora viviam naquelas águas calmas do Bênção.
Juntando calmamente
as mãos, ele começou a pronunciar as fórmulas sagradas para formar uma barreira
sagrada à volta dos umbrais da vivenda Lermmhiar. Enquanto o fazia, ele reparou
que o mestre esboçava um pequeno sorriso. Estava dentro dos jardins, a
acenar-lhe com uma mão. Ele sabia que estava a amarrar um nó no pescoço do
próprio mestre…E se ele não sobrevivesse àquela missão…? Podiam acusá-lo de traição!
No entanto, Zollin confiava no poder e sabedoria do velho feiticeiro…Confiava
igualmente nas leis dos Demónios e da Magia Negra, que dizia que um bruxo
jamais poderia matar os seus hóspedes! Além disso, aquela era a senhora que a
meia-irmã ia tantas vezes visitar. Se Citlali confiava nela, então porque não
poderia ele dar o coração a uma senhora tão encantadora...?
Com um pincel e uma
caixa de bambu que trazia, sempre cheio de tinta, ele começou a escrever a
pronúncia Chinesa do feitiço em vários papéis. A seguir, escolheu vários pontos
estratégicos sobre os quais tinha espalhado o pó. Fez pontaria com o arco e as
flechas que trazia juntamente com os seus shikigami
e as várias poções, e atirou, flecha a flecha, os vários papéis. Tudo isto de
forma a que a barreira fosse segurada por pontos. Tal e qual uma estrela de
doze ângulos. Isso faria com que a barreira fosse mais eficaz num espaço de
cerca de cento e oitenta e cinco metros quadrados. Seria precisa muita sorte
para que algum demónio conseguisse entrar ou sair daquela barreira. Ou isso, ou
que (ao pensar em tal hipótese, Zollin bateu contra a madeira oca de uma árvore
de gingko três vezes) Hayato, Osamu e Yamellino voltassem do mundo dos mortos e
decidissem ajudar a sua pobre família. Manteve-se sentado de pernas cruzados a
murmurar constantemento o salmo mágico do feitiço, durante mais meia-hora, até
que o brilho cor de lavanda das labaredas que rodeavam a vivenda maldita fosse
suficientemente forte.