segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Outono - um bruxo de frio


Como o Outono - aquela estação, meio quente, meio fria, que algumas vezes me põe a espirrar, outras vezes, com uma felicidade por ter de trabalhar - está para breve, decidi escrever um poema dedicado a ele. Melhor a uma personificação dele. Se ele fosse um homem, tenho a certeza que seria um bruxo das minhas histórias.


Uma folha morta cai às tuas botas, ensanguentadas,
Tal como uma frágil mulher,
Ela tem as curvas da uva apetitosa,
Que faz o vinho do medo,
Que é servido pela criada que se ajoelha,
Da mesma maneira que a folha da videira se inclina,
Ela também treme por causa do vento gélido,
Mas não é o frio dos tempos difíceis que a assusta,
É o medo de partir o copo cristalino,
E do vidro, beberás o sangue,
Que a mandaste servir!


Um corvo aparece numa embaciada janela,
A paisagem está coberta de nuvens cinzentas
- Tão cinzentas como os teus olhos!
Olhos de melancólica mirra,
Que fina e aveludada criatura era aquela,
Por que é que ela tinha de colher - sol a sol - os molhos
De uvas, os frutos da tua sangrenta ira...?


Olhos amendoados de corça são os dela,
Rios obscuros onde secaram muitas penas,
E usa, como uma noiva leal do Imperador, a seda amarela,
Costas de branca garça que pertencem ao doce mecenas,
Que foram chicoteadas, aquelas costas de criatura,
Filha da Natureza,
Porém! Tu não te importas, tu só fazes pelo prazer de a ferir,
De ferir aquela personificação de pureza!

Ó Outono, quando é que vais aprender,
Quando é que vais parar de te rir
Com essa voz de vento gelado,
Quando é que vais parar para sentir,
Para ver que até as deusas,
O som da tua voz trovejante faz tremer,
Com a tua frieza,
Fazes a colorida floresta transformar-se
Em sombras castanhas de âmbar!
Todos os seres vivos conseguem perdoar-se,
Mas tu, tu nem tens tempo para amar!



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