sábado, 26 de abril de 2008

Prisioneira ou hóspede?...



Eleonora acordou sobressaltada, abrindo violentamente os olhos, a suar tremendamente da testa morena, como se tivesse acabado de acordado de um sonho mau.
Ao olhar à sua volta, viu um amplo quarto, com um tecto piramidal, onde fadas brincavam alegremente nas pinturas de pequenas nuvens celestes em curvas e espirais. Toda a suite era pintada num azul inócuo e luxuoso, onde o rodapé e os cantos tinham sido banhados dum dourado fino e elegante. No espaçoso quarto verde de jade, à direita havia um toucador de madeira de cipreste, uma cadeirinha confortável de veludo vermelha-escura, e, por fim, uma lâmpada de incenso para iluminar a sala. Na antecâmara, havia uma banheira feita de um produto bem macio e branco, com linhas prateadas à volta, com pés de leão, e ao pé da berma do quarto de banho com nove metros de largura sem janelas, havia um gel de banho de pêssego perlado – a substância preferida de Eleonora – e uma toalha cor-de-rosa, com um E em turquesas bordado no canto direito. Ao lado direito, brilhava o Sol em duas longas janelas em forma de triângulo abriam-se para a linda paisagem das montanhas verdejantes ao longe, de manhã. Aquele lugar era simplesmente maravilhoso... Mas...Aquele não era o seu quarto de dormir! Onde raio é que estaria...? Sabia que aquilo tudo era demasiado bom para ser verdade, e perguntou a si mesma se não seria um produto das ilusões criadas por aquele demónio.
Parecia igual a um sonho que tivera anos antes…Com um estranho nevoeiro espesso a rodear o chão branco de mármore, aquele mesmo quarto, a dormir com um perfeito estranho. Subitamente, apercebia-se que não era um homem, mas sim uma serpente que a enrolava nos seus anéis com muita força na cama. A seguir, a serpente transformava-se num bruxo, de olhos verdes aterrorizadores!
No entanto, ali estava ela, com uma bonita camisa de dormir esvoaçante branca, que dava a ilusão de ter cauda. Só se apercebeu que alguém lhe tinha tirado o soutien quando tocou no peito redondinho e roliço com as mãos atadas uma à outra com correntes a deitar chamas azuis-claras. Corou de vergonha.
Fosse quem fosse o senhor ou senhora daquele paço, não a gostaria de a ver, vestida naqueles modos.
Automaticamente, com a ajuda de algumas ninfas e escravas que moravam no castelo, tomou um relaxante e rápido banho pensando em mil bolhas de sabão que escorregavam pelo corpo esguio e esteticamente perfeito, uma ondina secou com grande beleza o longo cabelo encaracolado, e ao ver que elas se retiravam com vénias solenes, sorriu, feliz. Tinha de agradecer a enorme hospitalidade à pessoa que governava naquele castelo. Contudo, não percebia porque é que não lhe tinham tirado as correntes. Estariam com medo que ela ficasse assustada? Porque é que lhe tinham amarrado?...
Com as brisas fracas e gélidas das sílfides, penteou numa elegante trança grande que lhe caía até ao peito descoberto e belo, jovem. Procurou pelo armário de mogno castanho e descobriu um lindo vestido azul com linhas douradas, com um grande decote que chegava ao centro do peito e terminava numas formosas e refinadas linhas dos pezinhos delicados, calçados por umas sabinas brancas de seda.
Pintou os lábios com um glose leve e discreto feito de groselha, que lhes deu um brilho bonito e maravilhoso. Com um colar simples com um tridente azul – o símbolo da Atlântida – esperou, quieta e sentada no toucador.
Achou-se incrivelmente bela, com as linhas do seu corpo delimitadas pelo vestido feito de tecidos vindos especialmente do oriente, e, com as suas mãozinhas bem retocadas com um pó branco e fresco, um unguento de algas que lhe amaciou a pele e o cabelo negro encaracolado. Eleonora já era uma rapariga deveras atraente, agora, com aqueles preparos, estava naturalmente amorosa e encantadora.
Nunca tinha sido mimada com tantos presentes…Sentia-se como uma pomba num mundo só seu.
Cinco minutos depois, o gigante germânico conhecido como Nimtauk abriu a porta e sorriu maldosamente.
Agarrou com alguma força o braço direito de Eleonora, que o olhou com menosprezo e nojo.
- Bons dias, Princesa Eleonora. – Disse num tom irónico. – Vinde comigo, o meu mestre está à vossa espera.
Com algum desdém, ele arrastou-a bruscamente até aos azuis-escuros corredores, qual lobo faminto, a segurar firmemente na sua presa.
Depois duns longos metros a percorrer largos corredores, entapetados com rastos macabros de sangue prateado de ninfas e fadas, Nimtauk fê-la descer uma escadaria em caracol, perfeitamente arquitectada para se parecer com um enorme tigre de mármore que se erguia majestosamente até ao último andar, com os seus dentes de marfim longos e afiados.
Ao longo da descida, ela questionava-se o porquê de tanta monumentalidade na arquitectura daquele castelo.

2 comentários:

Anónimo disse...

continuas a apostar em histórias de mistério acho que fazes lindamente assim ainda fico com mais bontade de as ler é que sabes eu tenho uma paixão por histórias de mistério lol lol a sério são espetaculares as minhas preferidas parabéns

Anónimo disse...

Estranho como ela se entregou tão facilmente. Será que virá uma reviravolta por aí?

Um abraço.