terça-feira, 22 de abril de 2008

A Princesa Eleonora em Perigo...!


O Sol punha-se perigosamente sobre as montanhas, colorando lentamente o branco da neve, nunca derretida da altíssima cadeia montanhosa num lindo rosadíssimo. Os Alpes das Sereias são um lugar sagrado para a maior parte do povo atlante, e, igualmente, assombrado!
Várias criaturas assustadoras e espíritos malignos habitam neste despenhadeiro entre o alto e o baixo. Quem passar da Europa para a Atlântida por este tortuoso caminho só pode ser louco, pois desconhece os inúmeros perigos que lhe estão reservados. Há mais de noventa mil anos, um grupo de pessoas decidiu ficar na Montanha Lelsut – a Amaldiçoada! Passados sete anos de azar, estas transformaram-se em seres canibais e de uma fealdade indescritível.
Diz-se que a maior parte dos Demónios descende destas almas penadas.
Na gruta escura onde Eleonora estava presa, o demónio olhou para ela com os seus olhos raiados em sangue e esboçou algo a que se podia ser um sorriso, se não fossem aqueles horríveis dentes afiados.
- Me amor, porquê tens medo de mine? – Resmungou a voz grave e rude, como um trovão. – Nom te preocupes, quando ouvires a manha música, Nom ficarás tão tímida.
Mas, a pobrezinha, um pouco aflita no coração, mas serena no semblante, tapava sempre a cara e os ouvidos, perturbada com a visão hedionda que era o demónio.
De repente, ouviram-se trombetas de combate, e a saliência cinzenta e perigosamente inclinada foi alvo de uma enxurrada de setas.
Apanhado de surpresa pelo ataque, a feia cara do demónio tornava-se ainda mais vermelha, de tão irritado que estava, e barafustou bruscamente para as suas loucas concubinas para que se fossem atirar do precipício de propósito, para que assim ele estivesse seguro. Astilmutchan era, logicamente, um cobarde, e, por mais ilusório que fosse, não queria ver a sua pele dilacerada pelas setas vindas debaixo. E esse foi o seu maior erro!
As raparigas, dentro de trinta minutos, desvairadas como tudo, do mesmo género das escravas de Samiel, mas ainda com um aspecto mais podre e sem grilhetas, atiraram-se imediatamente. Num curto espaço de tempo, o senhor da gruta escutou os gritos das suas donzelas a serem brutalmente dilaceradas lá em baixo por espinhos, altamente tóxicos, preparados especialmente para elas. A batalha nem quinze minutos durara e o idiota homenzinho já perdera todas as suas esperanças, uma vez que a ofensiva do Assassino do Amor tinha sido tão bem pensada e cuidadosamente preparada até ao mais ínfimo detalhe de vantagem do campo.
Julgar que as salvas de flechas mortíferas vinham da parte de baixo da montanha e que não eram letais fora um erro crasso.
Sem saber o que fazer, pegou com a mão esquerda na sua espada de dois gumes e, com um movimento quase patético, levantou a princesa rudemente, sem sequer lhe pedir licença. Os demónios, como Samiel dissera, eram – e são na sua maioria – criaturas estúpidas, e o que lhes falta em inteligência, é preenchido com a sua ferocidade. Obviamente que ele não ia ficar parado até que os arqueiros parassem de disparar. Ele, como Senhor das Profundezas (o que, diga-se de passagem, não era lá muito, a contar com o código quase senhorial atlante da época) devia defender o seu território e todos os que nele habitassem.
A salva de tiros parou quando os homens do Assassino do Amor repararam na rapariga, meio chateada, a fazer das tripas coração para não vomitar aos ombros do desajeitado monstro. A maior parte dos cavaleiros iam de cavalos alados negros com asas de morcego vermelhas, que relinchavam fantasmagoricamente.
Atrás deles, vinham Indra com o seu elefante branco, numa das grandes saliências e Anúbis, na forma de
Um homem de cabelos louros e aspecto germânico – que parecia o líder daquela montada de vinte bruxos – ordenou numa voz alta:
- Rende-te, ò Senhor das Profundezas, e o meu mestre te dará uma morte rápida e indolor, digna de um grande demónio como tu...
O demónio balançava maldosamente a rapariga entre os braços deformados e vermelhos, como se esta fosse um brinquedo, e enquanto isso, empunhava a sua ridícula lâmina de jade qual um disco rígido e pesado.
- Nunca! – Rosnou Astilmutchan rispidamente. – Achais mesmo que me meteis medo, Nimtauk?! Eu tenho aquilo que o vosso senhor tanto procura, e se a quereis tanto, aqui a tendes!
Dito estas palavras, o azteca atirou Eleonora para os obscuros abismos, onde as únicas coisas que se podia ver eram os aguçados cristais, impregnados de veneno.
Os bruxos ao verem tamanho disparate, com vários jactos de água vindos das suas mãos, desarmaram rapidamente o demónio e acorrentaram-no num instante com fortes grilhetas nas mãos e nos pés.
- INDRAAAAAAAAAAAAAAAAA..... – Berrou Eleonora, sentindo as lágrimas a molharem-lhe o rosto.
Num gesto quase instantâneo, Anúbis abriu as suas asas com penas brancas e duma envergadura de cinco metros, quase como todas as que os deuses egípcios têm e voou rasante, apanhando por uma unha negra a menina, que chorava constantemente ao ver o seu trágico fim.
Ao ouvir o grito da amada, o valoroso príncipe, numa calma quase fria e veloz como um relâmpago, desceu numa questão de segundos o precipício com o elefante branco a bramir um grito de vitória.
Enquanto a vida de Eleonora passava-lhe num flashback de memórias, um falcão, com as costas das asas vermelhas como o Sol e os ombros negros como a escuridão, observava das alturas tudo aquilo que se passava.
Com um raio de luzes verdes e azuis, a poderosa ave de rapina transformou a pequenita numa noz. Os acontecimentos, naquele momento, foram-se desenrolando de uma forma tão acelerada que apenas com um efeito lento é que nos poderíamos aperceber que Indra não recebeu nada nos seus braços, e que o magnífico pássaro de olhos verdes penetrantes apanhara silenciosamente a noz num voo picado a trezentos quilómetros por hora.
Abrindo as asas com um ar triunfante, o falcão olhou uma última vez para a noz com alguma indiferença.
O misterioso pássaro, em vez de pousar suavemente numa das muitas saliências da escarpa, envoltas nas brumas do entardecer, abriu novamente as suas asas musculadas e heróicas, voando, mais rápido do que um único som, para outras paragens desconhecidas.
Ao vislumbrar por uma última vez o falcão, já um pontinho negro no horizonte, o guerreiro hindu suspirou, olhando para cima, no desfiladeiro Fgesil Tirnam em busca de respostas sábias.
- Para onde é que aquela fantástica ave terá ido? – Perguntou prudentemente.
Anúbis olhou também para cima, e reparou que, tal como o pássaro e a princesa, os cavaleiros negros tinham desaparecido, tão enigmaticamente como tinham aparecido.
Pelo seu amor, Indra era capaz de fazer tudo, mas tinha de permanecer eternamente a famosa paciência oriental, e esperar que tudo corresse pela positiva, ao contrário do amigo, que não podia acreditar em ninguém.
Toda a gente na Índia dizia que o humano Príncipe Indra descendia de deuses e que era a pessoa mais bondosa e justa em toda a Ásia. Teria o seu amor desaparecido para todo o sempre
...?

3 comentários:

Anónimo disse...

Mais uma narrativa impressionante e cheia de simbolismos. O que mais nos espera?

Um abraço.

Jotacarlos. disse...

Passei só pra dar um olá.
Voltarei com mais calma.
http://www.reflexoazul.blogspot.com/
um abraço.

Anónimo disse...

Gostei muito desta historia menina...

Continua a escrever pq sem dúvida tens muito jeito x)


beijinho


Ass Juliana